Milhares protestam em todo os EUA pelo direito ao aborto

14 mai 2022 - 18h11

Atos inauguram o que vem sendo chamado de "verão da fúria" caso a Suprema Corte do país revogue regra atual sobre o tema. Documento vazado indicou que a maioria dos ministros tende a deixar palavra final para os estados.Milhares de defensoras e defensores do direito ao aborto foram às ruas em diversas cidades dos Estados Unidos neste sábado (14/05), dando início ao que vem sendo chamado de "verão da fúria" caso a Suprema Corte do país revogue uma decisão anterior que hoje permite a interrupção da gravidez.

Em Nova York, manifestantes pelo direito ao aborto saíram do Brooklin rumo a Manhattan
Em Nova York, manifestantes pelo direito ao aborto saíram do Brooklin rumo a Manhattan
Foto: DW / Deutsche Welle

Sob os gritos de "meu corpo, minha escolha", os manifestantes reagem ao vazamento, em 2 de maio, da minuta de um parecer indicando que a maioria conservadora do tribunal estaria disposta a reverter um veredito histórico de 1973, no caso Roe v. Wade, que estabeleceu o direito constitucional de interromper uma gravidez. A decisão do tribunal é esperada para junho.

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Em Washington, milhares se reuniram apesar da garoa e marcharam em direção à Suprema Corte, que está cercada por duas fileiras de grades de segurança. O clima no protesto era de raiva e enfrentamento. "Não acredito que, na minha idade, ainda tenho que protestar sobre isso", disse Samantha Rivers, uma servidora pública de 64 anos.

A configuração da Suprema Corte americana foi profundamente alterada pelo ex-presidente Donald Trump, que durante seu mandato nomeou três juízes conservadores, solidificando a maioria conservadora do tribunal de nove membros. A Corte conta hoje com seis ministros conservadores e três liberais.

Caitlin Loehr, 34 anos, vestia uma camiseta preta com a imagem da ex-ministra da Suprema Corte Ruth Bader Ginsburg, morta em 2020, com o colar que costumava usar quando divergia da maioria da Corte. "Acho que as mulheres devem ter o direito de escolher o que fazer com seus corpos e suas vidas. E não acho que proibir o aborto irá impedir que abortos ocorram. Isso apenas fará que ele seja perigoso e poderá custar a vida da mulher", afirmou.

Os organizadores disseram que haveria mais de 400 atos neste sábado. "Para as mulheres deste país, este será um verão de fúria", disse Rachel Carmona, presidente da Marcha das Mulheres. "Seremos ingovernáveis até que este governo comece a trabalhar para nós, até que os ataques aos nossos corpos cessem, até que o direito a um aborto seja estabelecido em lei", disse. "Se é briga que eles querem, eles terão briga."

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Palavra final pode ir para os estados

Pesquisas mostram que a maioria dos americanos quer que o direito ao aborto seja mantido nos estágios iniciais da gravidez, mas a Suprema Corte parece estar inclinada a permitir que a palavra final seja dos estados. Se isso for feito, cerca de metade dos estados poderia proibir ou restringir severamente o aborto, especialmente no Sul e no Centro-Oeste do país

Alguns manifestantes tinham relatos pessoais sobre o tema. Teisha Kimmons, que viajou 130 quilômetros para ir à passeata de Chicago, disse estar preocupada com as mulheres de estados que poderiam proibir o aborto. Ela relatou que ela mesma provavelmente não estaria viva hoje se não tivesse tido acesso a um aborto legal quando tinha 15 anos. "Eu já estava começando a me machucar e teria preferido morrer a ter um bebê", disse ela, que é massagista na cidade de Rockford, em Illinois.

Diversos ativistas afirmaram que, se houver uma mudança sobre o aborto, direitos de imigrantes e outras minorias também poderiam ser retirados na sequência. Uma delas foi Amy Eshleman, esposa da prefeita de Chicago, Lori Eshleman. "Isso não se trata apenas de aborto. É sobre controle", afirmou em um discurso para a multidão. "Meu casamento está no cardápio, e não podemos nem iremos deixar isso acontecer."

Em Nova York, milhares reuniram-se no Brooklin e saíram em marcha para Manhattan, onde outro protesto também aconteceria. "Estamos aqui pelas mulheres que não podem estar aqui, e pelas meninas que são muito jovens para saber o que está à frente delas", disse Angela Hamlet, de 60 anos.

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Tema na pauta das eleições de novembro

Em Chicago, os defensores do direito ao aborto reuniram-se em um parque, incluindo o deputado federal democrata Sean Casten e a sua filha de 15 anos, Audrey. Casten disse que era "horrível" que a Suprema Corte considerasse retirar o direito das mulheres de interromper uma gravidez.

Os democratas, que atualmente controlam a Casa Branca e ambas as câmaras do Congresso, projetam que a reação a uma eventual decisão da Suprema Corte sobre o tema poderá fortalecer a campanha de seus candidatos nas eleições legislativas de novembro.

Mas os eleitores estarão ponderando o direito ao aborto em relação a outras questões, como o aumento dos preços dos alimentos e do gás. E eles também podem estar céticos sobre a capacidade dos democratas de proteger o acesso ao aborto, após tentativas para incluir o direito em lei federal falharem.

Nesta quarta-feira, o Senado americano rejeitou uma proposta para incluir o direito ao aborto em lei federal. Os democratas precisavam de 60 votos para aprovar o tema, mas obtiveram somente 49 votos. Todos os 50 senadores republicanos se opuseram ao projeto, e o democrata Joe Manchin III também votou contra.

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Elizabeth Murphy, 40 anos, participou do ato em Atlanta, e disse que esperava que os defensores do direito ao aborto comparecerão às eleições em novembro. "Eu voto e desta vez estou dizendo a todos que eu conheço para votar", afirmou.

Atos contra o aborto

Grupos contrários ao direito ao aborto também realizaram pequenas mobilizações neste sábado. O Estudantes pela Vida da América, uma organização presente em universidade de todo o país, disse que estava realizando atos em nove cidades.

Na capital americana, meia dúzia de manifestantes contra o direito ao aborto compartilhavam sua mensagem. "Pessoal, aborto não é política de saúde, porque gravidez não é uma doença", afirmava Jonathan Darnel em um microfone.

bl (Reuters, AP)

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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