Desde a redemocratização não houve sequer uma eleição presidencial em que o candidato eleito tenha conseguido a faixa sem que houvesse saído vitorioso em Minas Gerais. Posicionado geograficamente no centro do País, com mais de 586 mil quilômetros quadrados de área territorial, o Estado é um compacto do mapa eleitoral brasileiro. Ao lançar um movimento do consórcio Sul-Sudeste, o governador mineiro Romeu Zema, que possui pretensões presidenciais, parece querer dialogar com um eleitorado externo, que pode lhe render uma posição interessante na disputa, mas que é insuficiente para vencê-la. Sem Minas, Zema precisaria romper um ciclo de nove eleições em que quem vence no Estado, vence no País.
Apostar no fato de ser governador de Minas para sair de lá ganhador não parece ser uma estratégia correta. Aécio Neves, em 2014, é um exemplo claro disso. Reeleito em 2006 governador com 77% dos votos, 21 pontos porcentuais a mais do que o próprio Zema em sua reeleição, que obteve 56% do eleitorado, e tendo feito seu sucessor Antônio Anastasia, em 2010 com 63%, ainda em primeiro turno, não conseguiu bater Dilma Rousseff, que o derrotou localmente por 52 x 48, repetindo exatamente o placar nacional.
Com a impossibilidade da candidatura de Jair Bolsonaro, Zema busca ser o herdeiro eleitoral desse campo da política nacional. Tem a concorrência direta de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e de Ratinho Jr, governador do Paraná, estes dois, sim governantes de um eleitorado sul-sudestino, mais rico e uniforme, que não tem votado no lulismo desde sua reeleição em 2006. Ao buscar ser líder desse movimento, Zema parece querer se igualar a seus pares, ao invés de aprofundar naquilo que pode ser sua diferenciação, que é a possibilidade real de ser um elo para esse campo dialogar com o Nordeste e a população de menor renda.
O último governador mineiro que se lançou à Presidência teve espetacular votação em São Paulo e Paraná, mas esqueceu de fazer a lição de casa. Inteligentemente, já vitoriosa em Minas Gerais, no primeiro turno, a campanha de Dilma Rousseff abusava da máxima de "quem conhece, não vota Aécio", referindo-se à sua derrota em seus domínios eleitorais. Zema, se realmente quiser ter chances para 2026, deve estudar o ocorrido com seu conterrâneo e perceber que sua intentona pode lhe gerar alguma audiência, mas se tornar eleitoralmente um verdadeiro voo de galinha.