O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes confirmou que foi procurado pelo senador Marcos do Val e ficou sabendo de uma tentativa de golpe que estaria sendo arquitetada pelo presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira.
Durante participação por videoconferência em evento do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) em Lisboa, nesta sexta-feira, 3, Moraes falou pela primeira vez e chamou a tentativa de golpe de "Operação Tabajara".
“Foi exatamente essa a tentativa de 'Operação Tabajara', que mostra o quão ridículo nós chegamos na tentativa de um golpe no Brasil”, pontuou.
Moraes ainda chamou de "ideia genial" a proposta de colocar uma escuta em Marcos do Val e gravar o ministro falando algo que o pudesse comprometer a ponto de tirá-lo da relatoria dos inquéritos que apuram atos antidemocráticos na Suprema Corte.
O ministro ressaltou também que Do Val não tem intimidade com ele a ponto de estabelecer algum tipo de conversa. "Eu conversei três vezes na vida", detalhou.
Em sua fala, Moraes contou ainda que pediu que Do Val colocasse a denúncia em um papel para que uma investigação fosse iniciada, mas ele negou. "Então, o que não é oficial para mim não existe", acrescentou o ministro. Mesmo assim, o ministro ressaltou que, a partir da entrevista do senador para a Veja, ele determinou que a Polícia Federal ouvisse Do Val para iniciar uma investigação "para que possamos responsabilizar todos aqueles envolvidos nessa tentativa de golpe", afirmou.
Moraes comentou também sobre as apurações dos ataques a prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro e adiantou que estão avançadas a respeito dos financiadores: "Parte da elite flertou com o golpe e financiou essa tentativa de golpe".
"Lavagem cerebral transformou as pessoas em zumbis"
No início de sua participação no evento, Moraes defendeu a criação de dispositivos normativos internacionais para proteger a democracia no mundo. Falando sobre o Brasil, ele criticou o uso das redes sociais como forma de alienar as pessoas.
"O que surgiu de uma maneira democrática [as redes sociais], foi capturado pelos populistas, principalmente da extrema direita, e transformado em um mecanismo de lavagem cerebral (...) que transformou as pessoas em zumbis", reforçou. "Elas repetem ideias absurdas, cantam o hino nacional para pneu, esperam que ETs venham até o Brasil para resolver supostos problemas das urnas eletrônicas; o que deveria ser uma comédia é uma tragédia".
"Não temos mecanismos para tratar situações emergenciais onde a democracia é corroída por dentro. Como tratar de ameaças internas, quando vem de políticos populistas que atacam internamente as instituições?".
"Mas ganho bem menos", brinca Moraes ao ser comparado com jogador de futebol
O ex-ministro Luiz Fernando Furlan esteve presente no evento e aproveitou para perguntar como Moraes lida com tamanha popularidade e com os riscos que isso traz. Furlan brincou que, hoje, Moraes é mais conhecido até do que jogador de futebol. "Mas ganho bem menos", respondeu o ministro do STF, arrancando risadas da plateia.
Furlan seguiu nas metáforas futebolísticas e afirmou que Moraes pelo menos não recebia cartão vermelho. "Tentaram. Tentaram, mas o VAR não permitiu", respondeu o ministro aos risos.
“Não podemos deixar os agressores nos constranger”, disse Alexandre de Moraes ao responder a questão de Furlan. “As pessoas têm todo o direito de criticar o STF, as decisões dos ministros do STF, mas ninguém tem o direito de agredir verbal ou fisicamente um ministro do STF ou de ameaçar as famílias dos ministros. São coisas diversas”.
“Esses vândalos, esses golpistas passaram a confundir liberdade de expressão de criticar as instituições e os ministros com liberdade de agressão, de aparecer em frente de casa de ministro, ameaçar de morte e achar normal”, completou. “E como não deixar se constranger: as pessoas que reagem de forma criminosa deve, ser presas, para que aprendam que há lei no Brasil”.