Coalizão que defende Estado laico ganhou destaque em manifestações a favor da legalização do aborto, rejeitada pelo Senado. Segundo grupo, milhares já entregaram formulário de renúncia à Igreja.Vem ganhando força na Argentina um movimento a favor do Estado laico, que se opõe à influência das entidades religiosas na política e encoraja a população a abandonar a Igreja Católica, especialmente após a recente rejeição pelo Legislativo da legalização do aborto no país.
Em manifesto publicado em seu portal de internet, a organização chamada Coalizão Argentina por um Estado Laico (Cael) condena o que chama de "manobras exercidas por algumas autoridades eclesiásticas para atrasar, obstaculizar e renegar o exercício da liberdade de consciência e religião daquelas pessoas que renunciam sua afiliação à Igreja Católica". O grupo solicita a eliminação dos dados pessoais dos registros da Igreja.
Fundada em 2009, a Cael se tornou mais conhecida durante as manifestações no início de agosto a favor do projeto de lei que visava legalizar o aborto na Argentina, distribuindo lenços de cor laranja. Após ser aprovada por maioria apertada na Câmara, a proposta acabou sendo rejeitada pelo Senado.
No último sábado (18/08), centenas de pessoas se reuniram em Buenos Aires em um evento chamado "apostasia coletiva", convocado pela Cael. A organização distribuiu formulários de renúncia à Igreja Católica, que serão entregues à Conferência Episcopal do país, terra natal do papa Francisco e fortemente influenciado pelo catolicismo.
Longas filas se formaram na capital e em outras seis cidades do país. Os organizadores esperam ainda que milhares de pessoas registrem oficialmente o desejo de que a Igreja não interfira na política e que seus nomes sejam retirados dos registros.
"Estamos recebendo apostasias de todos os que quererem renunciar a seus laços com a Igreja", disse Maria José Albaya, uma das organizadoras do evento.
Segundo a coalizão, algumas dioceses se recusaram a iniciar os trâmites da desfiliação. "Este feito constitui uma grave violação das liberdades de consciência e religião", diz o manifesto.
Para se desvincular da Igreja, as pessoas que foram batizadas devem enviar uma carta à instituição informando sua decisão. No texto, deve ser mencionado o ano e o local onde ocorreu a cerimônia, além de uma breve explicação dos motivos da desfiliação.
A primeira "apostasia coletiva" foi organizada em 8 de agosto, dia do debate sobre o aborto legal no Senado. Na ocasião, cerca de 2.500 pessoas apresentaram sua renúncia à Igreja Católica e no último fim de semana o número de desfiliações foi similar, segundo a Cael.
O movimento considera que a rejeição do projeto de lei que legalizaria o aborto até a 14ª semana de gestação foi influenciada pelas autoridades eclesiásticas. A Igreja Católica, assim como as evangélicas, se opuseram fortemente à iniciativa, organizando manifestações e atos religiosos. Alguns deputados e senadores disseram que foram pressionados a votar contra o aborto legal.
Cerca de dois terços dos 43 milhões de argentinos se definem como católicos, mas o descontentamento com a Igreja aumentou tanto com a rejeição à lei do aborto quanto com recentes escândalos de abusos sexuais.
A Constituição argentina assegura a liberdade religiosa, mas o Estado outorga um status jurídico preferencial à Igreja Católica.
RC/ap/dpa/ots
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