A mulher de 24 anos, que teve a mão e parte do braço amputadas após dar entrada em um hospital do Rio de Janeiro para dar à luz ao seu bebê, relata o episódio como um verdadeiro “trauma”. Em entrevista ao Terra, a jovem conta que ainda busca por respostas, mesmo após três meses do ocorrido. Ela revela ainda que o membro quase foi descartado irregularmente.
O transtorno da vítima começou quando ela deu entrada no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, no dia 9 de outubro do ano passado. Ela estava com 39 semanas de gestação e passou por um parto normal na noite do dia 10. Ela contou à reportagem que a médica, após a retirada da placenta, informou que ela estava com um sangramento excessivo e que precisaria passar por uma avaliação.
Durante a avaliação do quadro dela, feito pela equipe, ela apagou. "Depois desse desmaio, eles colocaram esse acesso, deve ter sido para me dar algum medicamento ou até passar alguma anestesia", conta. Na madrugada do mesmo dia, quando o marido foi vê-la no quarto, sua mão já estava inchada e vermelha.
Segundo ela, na unidade da Freguesia, uma espécie de gel, que era esquentada em um micro-ondas, era colocada sobre a mão inchada, enquanto profisisonais de saúde da unidade pediam que ela mexesse os dedos. "Até então, eles falavam que estava com movimento ativo e com pulso, e pronto, até eu ser transferida para São Gonçalo, onde foram resolvidas as coisas", afirma.
Devido à complicação no quadro, ela foi transferida para outro hospital da mesma rede, em São Gonçalo. "Quando eu cheguei no outro hospital, eles perguntaram porque eu não cheguei com muita documentação. Inclusive, quando eles me deram o papel de alta, eles colocaram essa observação, que eu fui transferida sem documentação de origem", relata.
Amputação
No hospital, ela passou pelo primeiro procedimento para tentar salvar o membro, mas não foi suficiente. Ela conta que “não tinha mais movimento e nem pulso” na mão, e por isso, foi necessário fazer a amputação. Além da tristeza de perder a mão, a jovem ficou muito mal, pois estava longe dos três filhos, incluindo o recém-nascido.
"Não tive a oportunidade de ficar com o meu filho que eu tinha acabado de parir. Foi a gravidez que eu mais me organizei para tudo. E chegando lá, eu tive um trauma. Eu fiquei com trauma de tudo o que vem acontecendo", revela.
Descarte irregular
A jovem diz que soube que a sua mão amputada quase foi descartada de forma irregular pela unidade, pois foi deixada no centro cirúrgico. A faxineira do hospital teria feito o relato à ela. "Ela viu que era eu e falou:' fui limpar o centro cirúrgico e quase que a mão dela foi parar no lixo porque não tinha sido descartada da maneira certa. Chamei até a minha chefe para saber o que fazer'. Foi quando eu soube que a minha mão tinha que ter um enterro", afirmou.
Em nota, a Intermédica, responsável pela unidade, informou que a tia da jovem autorizou o descarte do membro, que deve ser feito por meio de enterro ou então de incineração.
Sem respostas e revoltada
Para ela, além de perder uma parte do corpo, a parte mais difícil tem sido depender de outras pessoas para fazer quase tudo. A jovem, que antes levava a vida de outra forma, agora, precisa se adaptar à nova realidade, inclusive para cuidar dos três filhos.
“Graças a Deus, minha família tem me dado um suporte bom. Eles tem me abraçado de uma forma muito boa, para eu não entrar em depressão, porém, só eu sei o que eu passo. [...] Eu dependo de alguém para dar banho no meu filho, para ir na rua comigo. Não posso fazer nada do que eu fiz com os meus outros filhos", desabafa.
“A minha revolta é mais pelo erro mesmo, que possa ter sido cometido, porque eu ainda estou procurando respostas. A falta de resolução na hora do socorro. Claro que eu sinto um pouco de vergonha, inclusive eu nem mostro meu rosto, devido a essas coisas. É uma situação nova, totalmente diferente. Eu entrei perfeita e saí com uma deficiência”, completa.
O caso foi registrado na 41ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro como lesão corporal culposa e segue em investigação.
O que diz o hospital
Ao Terra, o Hospital da Mulher de Jacarepaguá declara que está totalmente solidário com a vítima e que lamenta profundamente o ocorrido. A unidade reitera o empenho em apurar com toda seriedade, transparência e atenção os procedimentos médicos e hospitalares adotados durante seu atendimento. Para tanto, solicitou ao Comitê de Ética Médico a coordenação desses trabalhos.
Independente de tal apuração, o hospital vem mantendo contato com a paciente e seus representantes para prestar todo acolhimento possível e atender suas necessidades, assim como se mantem à disposição para que todos os esclarecimentos necessários sejam realizados.