A campanha na Itália para que pacientes terminais com coronavírus possam dizer adeus a familiares

Itália se tornou país com mais mortes por coronavírus no mundo; devido a isolamento, muitos dos mortos não tiveram chance de se despedir de entes queridos.

23 mar 2020 - 11h39
(atualizado às 11h55)
O objetivo da iniciativa "o direito de dizer adeus" é permitir que as pessoas doentes se despedam de seus entes queridos
O objetivo da iniciativa "o direito de dizer adeus" é permitir que as pessoas doentes se despedam de seus entes queridos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A Itália vive tempos difíceis. Com cerca de 5,5 mil mortes registradas, o país ultrapassou a China em número de mortos por covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

Apesar das várias medidas implementadas — como quarentena obrigatória a nível nacional, fechamento de bares e restaurantes e proibição de reuniões públicas — os italianos ainda não conseguiram superar a dramática crise de saúde resultante da disseminação do vírus.

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A falta de profissionais de saúde, respiradores, máscaras faciais e outros equipamentos essenciais para combater a pandemia fez o sistema de saúde deste país praticamente entrar em colapso.

Em meio a este cenário desolador, algumas pessoas vivem uma situação particularmente dramática: os pacientes mais velhos que depois de contrair a doença são internados em hospitais com pouca chance de sobreviver e ficam completamente sozinhos.

Devido ao isolamento, muitos dos idosos que morreram na Itália não conseguiram se despedir de seus entes queridos.

Há pouca informação sobre o que realmente está acontecendo nos hospitais.

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No entanto, uma entrevista recente com Francesca Cortellaro, médica do hospital San Carlo Borromeo, em Milão, retratou o pesadelo que vivem os pacientes infectados com covid-19.

"Você sabe o que é mais dramático? Observar os pacientes morrendo sozinhos, escutá-los pedir que se despeça seus filhos e netos por eles", disse ela ao jornal italiano Il Giornale.

A médica também disse que uma idosa lhe havia pedido que visse a neta por última vez antes de morrer. Então, Cortellaro pegou o telefone e ligou para ela em vídeo.

Gráfico sobre casos de coronavírus pelo mundo
Foto: BBC News Brasil

"Elas se despediram. Logo depois, ela se foi", contou.

A triste história contada por essa médica — que deu a volta pelo mundo — motivou um grupo de militantes do partido democrático na zona 6 de Milão a liderar uma iniciativa para que os idosos isolados tenham pelo menos a possibilidade de se despedir de seus entes queridos.

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Dessa forma, eles compraram cerca de 20 tablets que mais tarde foram distribuídos no Hospital San Carlo e que permitem a realização de videochamadas.

A iniciativa foi chamada "o direito de dizer adeus".

Na Itália, autoridades tiveram que montar tendas fora dos hospitais devido ao colapso do sistema de saúde
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Dói mais que a própria morte"

Um dos líderes do projeto é o vereador do partido democrático Lorenzo Musotto.

Por meio de sua conta no Facebook, o político italiano indicou que o objetivo é permitir que "os doentes cumprimentem seus entes queridos pela última vez".

Devido ao isolamento, muitos dos idosos que morreram na Itália não conseguiram se despedir de seus entes queridos.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"A ideia de não ser capaz de dizer adeus me machuca mais do que a própria morte e existem outros locais com idosos, hospitais e asilos, onde não há mais a possibilidade de dizer adeus", disse ele.

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Musotto também pediu que mais tablets fossem doados para esses pacientes.

"Estou profundamente convencido da importância de máscaras, luvas, máquinas, mas o direito de dizer adeus não deve ser menos importante", afirmou.

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