A comoção por assassinato de jovem em país onde 7 mulheres são mortas por dia

Mara Castilla, de 19 anos, foi assassinada após pedir carro por aplicativo na volta para casa; sua morte representou a gota d'água para milhares de pessoas no México, a maioria mulheres.

18 set 2017 - 11h40
(atualizado às 12h01)
Mara Castilla
Mara Castilla
Foto: BBC News Brasil

Assistir a filmes no cinema era um dos programas favoritos da mexicana Mara Fernanda Castilla Miranda, de 19 anos. Também se divertia acompanhando séries de desenhos animados na TV.

A jovem foi assassinada na semana passada e engrossou as estatísticas de um tipo de crime que está em alta no país: o feminicídio.

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Estatísticas oficiais indicam que sete mulheres são mortas por dia no México.

No Brasil, que detém a quinta maior taxa de feminicídio do mundo, o número é maior: 15, segundo a ONU Mulheres.

Mara havia pedido um carro pelo serviço de transporte Cabify em Puebla, ao sul da Cidade do México. O motorista, acusado pelo assassinato, foi detido.

A morte da jovem representou a gota d'água para milhares de pessoas, a maioria mulheres.

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No último domingo, vários protestos foram realizados em diversas cidades do país.

No Twitter, as hashtags #JusticiaparaMara (#JustiçaparaMara) e #NoFueTuCulpa (#NãoFoiTuaCulpa) foram parar nos trending topics.

Durante os protestos, palavras de ordem como "Estão nos matando", "Nem uma mais" ou "Todas somos Mara" também foram entoadas.

O assassinato da estudante lançou luz sobre a difícil tarefa de convencer as autoridades a cumprir a lei e investigar agressões a mulheres.

Ele evidenciou ainda a resistência cultural ainda presente no país, que ainda é marcado por machismo.

Durante a marcha de protesto na Cidade do México, que começou no El Zócalo, a praça politicamente mais importante do país, simpatizantes do governador do Distrito Federal, Miguel Ángel Mancera, insultaram as mulheres que protestavam.

Protestos por morte de Mara Castilla
Foto: BBC News Brasil

'Sem inimigos'

Mara Castilla nasceu em Veracruz, no sudeste do México, mas fazia 18 meses que vivia em Puebla para estudar Ciências Políticas em uma universidade local, uma graduação que não existia em seu Estado de origem.

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Ela cursava o terceiro trimestre e vivia com sua irmã mais velha, Karen.

Enterro de Mara Castilla
Foto: BBC News Brasil

A mãe, Gabriela Miranda, disse que Mara era "muito alegre, com muitos amigos", embora costumava ser tímida com desconhecidos.

"Uma menina com muitos sonhos, com tantos projetos de vida, sem inimigos", disse Gabriela a jornalistas.

Como toda jovem de sua idade, Mara gostava de frequentar festas além de restaurantes e bares nos fins de semana.

Foi depois de uma dessas noitadas que ela desapareceu.

No último dia 8 de setembro, Mara saiu de um bar em Cholula, município vizinho à capital de Puebla, com seus amigos, mas todos acabaram parados em uma blitz da lei seca.

O relógio marcava pouco depois das 5h. Mara decidiu continuar o trajeto sozinha e pediu um carro por meio do serviço de transporte Cabify.

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O veículo chegou minutos depois e a jovem avisou a irmã que já estava a caminho de casa. A partir desse momento, sumiu.

Segundo o site de notícias Animal Político, quando acordou, Karen se deu conta de que a irmã não tinha chegado. Telefonou, então, para o motorista do Cabify. Ele disse que havia deixado Mara a poucos metros de sua casa.

Karen, no entanto, suspeitou da conversa e decidiu denunciar o desaparecimento de sua irmã às autoridades.

Rapidamente, o caso ganhou as redes sociais, especialmente o Twitter, com centenas de usuários compartilhamento o alerta.

A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Puebla (PGJEP) interrogou o motorista, identificado como Ricardo Alexis Díaz.

Após a análise de vídeos de câmeras de segurança, o motorista foi preso.

Uma semana depois, o corpo de Mara foi localizado em uma vala.

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Mãe e irmã no funeral de Mara Castilla
Foto: BBC News Brasil

Protesto

Oficialmente, sete mulheres morrem a cada dia no México vítimas de feminicídio.

Organizações civis afirmam, contudo, que os casos são muito mais numerosos, mas estes são classificados pelas autoridades locais como homicídios, sem o agravante do feminicídio (quando o assassinato é motivo pelo fato de a vítima ser mulher).

Dezenas de casos foram lembrados durante as manifestações em cidades por todo o México e também nas redes sociais.

Um dos mais recentes foi o de Lesvy Berlín Osorio, de 22 anos e assassinada no dia 3 de maio no campus principal da Universidade Nacional Autônoma de México (UNAM).

O caso foi descrito como "suicídio" pela Procuradoria-Geral de Justiça da Cidade do México (PGJCM) que chegou, inclusive, a compartilhar mensagens no Twitter para indicar um suposto vício e o abandono escolar da vítima.

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Mas após uma série de protestos na internet as autoridades decidiram investigar outros possíveis motivos da morte da menina.

Semanas depois, o namorado da vítima foi preso, acusado de feminicídio.

Durante as manifestações do último domingo, a forma como as autoridades lidaram com o caso foi duramente criticada.

Paradoxalmente, Mara foi uma das que protestaram, em maio, pela morte de Lesvy.

Meses depois, as manifestações acabariam sendo realizadas em sua memória.

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