O exército israelense mais uma vez tem sido acusado de cometer abusos e violações dos direitos humanos contra os palestinos.
As novas acusações surgiram depois de um grupo de soldados israelenses ter sido filmado jogando os corpos de vários palestinos do telhado de um edifício, durante uma operação na Cisjordânia.
As imagens do incidente, filmadas na cidade de Qabatiya, no norte do país, perto de Jenin, provocaram indignação dentro e fora do país e forçaram as Forças de Defesa de Israel (IDF, por suas siglas em inglês) a abrir uma investigação sobre o que chamaram de "um incidente grave" que não aconteceu se "adequa" aos seus valores e ao que se espera de seus integrantes.
Autoridades palestinas disseram que pelo menos sete pessoas foram mortas pelas forças israelenses em Qabatiya na quinta-feira (19/9).
Segundo o direito internacional, os soldados são obrigados a garantir que os corpos, incluindo os dos combatentes inimigos, sejam tratados com respeito.
De diferentes ângulos
Nas filmagens, feitas por alguns jornalistas da agência norte-americana AP que estiveram no local, os soldados com uniformes do exército israelense são vistos jogando os corpos de alguns homens do alto de um edifício, enquanto uma escavadora militar israelense parece estar recolhendo os restos humanos.
Em outros vídeos que circularam nas redes sociais, supostamente feitos por moradores de Qabatiya, pelo menos três soldados podem ser vistos de outros ângulos no telhado de um prédio, e um deles empurra um cadáver com os pés até cair.
As IDF disseram ter realizado uma operação antiterrorista na cidade da Cisjordânia, durante a qual quatro militantes foram mortos em uma "troca de tiros" e outros três foram mortos após um ataque de drone a um carro.
Um jornalista de Qabatiya disse à BBC que na manhã de quinta-feira, tropas israelenses cercaram um prédio na cidade e quatro homens conseguiram escapar para o telhado, mas foram atingidos por atiradores.
Quando os combates na cidade se acalmaram, o comunicador disse ter visto soldados israelenses subirem no telhado e jogarem os corpos pela beirada do prédio, que depois foram carregados em uma escavadeira.
Por sua vez, Ameed Shehadeh, correspondente do canal árabe Al-Arabi que também testemunhou o incidente, disse à rede norte-americana CNN que "uma escavadora tentou demolir o edifício para alcançar os corpos, mas não funcionou".
"Os soldados subiram e chutaram e empurraram os corpos do telhado, como vimos. Três corpos diferentes foram chutados, empurrados e atirados de um telhado, e um quarto corpo foi atirado do telhado adjacente, alguns metros abaixo", acrescentou.
Quando questionados sobre o incidente registrado nas imagens, os porta-vozes das IDF reconheceram que "este é um incidente sério que não está de acordo com [nossos] valores e com as expectativas dos soldados das IDF".
"O incidente está sendo investigado", disseram porta-vozes militares.
Críticas de todos os lados
O exército israelense disse que um dos mortos em Qabatiya foi Shadi Zakarneh, identificado pelos israelenses como "responsável por dirigir e realizar ataques no norte da Cisjordânia".
As autoridades militares indicaram que Zakarneh era "o chefe da organização terrorista" em Qabatiya, embora não tenham especificado a que grupo pertencia.
No entanto, a mídia palestina afirmou que Zakarneh era um líder local da Brigada dos Mártires de Al Aqsa, uma formação armada que se separou do principal partido da Autoridade Palestina, o Al Fatah.
Os outros mortos foram identificados como Muhamad Khaled Abu al Rab, Omar Hamza Abu al Rab, Ahmed Maher Zakarné, Mustafa Faisal Zakarné, Yawdat Hanayshé e Muhamad Omar Kamil.
A divulgação das imagens desencadeou uma chuva de críticas contra a instituição armada israelense.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Expatriados palestino, num comunicado publicado no X (antigo Twitter), descreveu o que foi registrado nos vídeos como um "crime" que expõe a "brutalidade" do exército israelense.
A Casa Branca também considerou as imagens "profundamente perturbadoras".
"Se provadas serem autênticas, elas mostrariam claramente um comportamento abominável e atroz por parte de soldados profissionais", disse o porta-voz da Segurança Interna dos EUA, John Kirby, a repórteres.
Outro caso
O incidente de Qabatiya é mais um da lista de casos de abusos, excessos e violações dos direitos humanos que os militares israelenses teriam cometido desde a eclosão do atual conflito, em 7 de outubro do ano passado.
Em junho deste ano, soldados israelenses foram filmados levando um veículo com um palestino ferido amarrado ao capô. O incidente ocorreu na cidade de Jenin, na Cisjordânia.
Nesse caso, as autoridades militares israelenses argumentaram que o ferido era um suspeito de terrorismo, ferido em uma troca de tiros.
Porém, em vez de esperar que uma ambulância o levasse ao hospital, um grupo de soldados amarrou o homem ao topo do veículo que dirigiam.
Semanas depois, foi anunciada a prisão de dez soldads israelenses, acusados de abusar sexualmente de uma presa palestina na prisão de Sde Teiman, no sul de Israel. A vítima seria membro de uma unidade de elite do Hamas.
Relatórios recentes de organizações palestinas, israelenses e internacionais de direitos humanos relataram que prisioneiros de Gaza foram torturados na penitenciária pelos seus guardas, resultando na morte de dezenas deles.
"Os testemunhos indicam claramente uma política institucional sistemática centrada no abuso e tortura contínuos de todos os prisioneiros palestinos", afirmou o grupo israelense B'Tselem num relatório publicado em agosto, no qual revelou que dezenas de presos foram vítimas de atos que vão desde da violência arbitrária ao abuso sexual.
"Não há necessidade militar de fazer isso. É simplesmente uma forma selvagem de tratar os corpos palestinos", queixou-se Shawan Jabarin, diretor do grupo de direitos palestinos Al-Haq, em relação às imagens onde soldados israelenses são vistos jogando os cadáveres.
Desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e a subsequente guerra em Gaza, tem havido um aumento da violência na Cisjordânia.
Desde então, mais de 690 pessoas morreram no outro território palestino, segundo as autoridades de saúde. Isso porque as forças israelenses intensificaram os seus ataques e operações na área.
Israel afirma que está tentando impedir os ataques palestinos na Cisjordânia e em Israel, nos quais morreram pelo menos 33 israelenses.
Entretanto, na Faixa de Gaza, mais de 41 mil palestinos morreram em consequência de ações militares israelenses, segundo o Ministério da Saúde dirigido pelo Hamas.
*com informações de Yolande Knell e James Gregory