O porta-voz do governo da França, Benjamin Griveaux, afirmou nesta sexta-feira (8) que a convocação do embaixador do país na Itália não é "permanente", mas acrescentou que era "importante dar um sinal".
O diplomata Christian Masset foi chamado a Paris para consultas após o vice-primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio (M5S), ter se reunido com Christophe Chalençon, uma das lideranças mais radicais dos "coletes amarelos" e que já defendeu um golpe militar contra o presidente Emmanuel Macron.
"Não se trata de dramatizar, se trata de dizer que a brincadeira acabou", declarou a ministra da França para Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau. "Nunca tinha acontecido de um representante de um governo estrangeiro vir à França apoiar alguém que não é sequer um líder político, mas alguém que defendeu a guerra civil, a queda de um presidente e um governo militar", acrescentou.
Apesar de expoentes do governo italiano terem tentado colocar panos quentes na crise, afirmando que os dois países têm relações históricas de amizade e que Di Maio representava apenas seu partido, a reunião com Chalençon já produz seus primeiros efeitos.
Segundo o jornal Il Sole 24 Ore, o grupo franco-holandês Air France-KLM, que tem 14% de suas ações nas mãos do Estado da França, desistiu de participar do resgate da Alitalia, que está sob intervenção do governo italiano.
Além disso, o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, também vice-premier e crítico feroz de Macron, afirmou que o país vizinho não quer mais receber os migrantes resgatados pela ONG Sea Watch, quebrando o acordo que permitira o desembarque dos deslocados internacionais em Catânia, na Sicília.
Segundo Salvini, Paris dará abrigo apenas a quem necessita de proteção internacional e apoiará a Itália na repatriação dos migrantes econômicos. Apesar disso, ele convidou o ministro do Interior francês, Christophe Castaner, para uma reunião em Roma.
"Na espera de encontrá-lo pessoalmente em uma data a ser decidida por nossos gabinetes, receba minha estima, juntamente com as saudações mais cordiais", escreveu o vice-premier italiano.
Entenda
A crise diplomática acontece no âmbito da crescente batalha retórica movida pela Itália, que busca criar um antagonismo com a França dentro da União Europeia, em vista das eleições para renovar o Parlamento do bloco, entre 23 e 26 de maio.
A expectativa de Salvini é capitanear um crescimento inédito de forças ultranacionalistas dentro da UE, aliando-se à francesa Marine Le Pen e a outros movimentos de extrema direita na Europa.
Macron, por sua vez, acaba de assinar com a Alemanha um tratado de claro viés europeísta e depende de um bom desempenho de seu partido em maio para se fortalecer internamente e em Bruxelas - principalmente em função da aposentadoria de Angela Merkel, prevista para 2021.
Além de Salvini, o presidente da França tem sido alvo da retórica inflamada de Di Maio, que o acusou de provocar a crise migratória no Mediterrâneo ao "explorar" a África. Os dois vice-primeiros-ministros também já demonstraram apoio explícito ao movimento dos "coletes amarelos", que tenta derrubar Macron.