Afeganistão: O que é o Talebã?

O grupo fundamentalista islâmico retomou o controle do país um mês após a saídas das topas americanas.

15 ago 2021 - 19h20
Soldados armados do Talebã e civis comemoram acordo de paz em 2020
Soldados armados do Talebã e civis comemoram acordo de paz em 2020
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O Talebã é um grupo fundamentalista islâmico que controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001 com um rígido regime baseado em uma versão radical da Sharia, a lei islâmica. Eles foram retirados do poder por uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos em 2001, mas voltaram a dominar o país rapidamente depois da retirada das tropas americanas em julho de 2021.

Com a invasão de Cabul neste domingo (15/08), o grupo já tem praticamente controle total no país.

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O Talebã fez negociações diretas com os EUA em 2018 e, em fevereiro de 2020, os dois lados fecharam um acordo de paz em Doha. Os EUA se comprometeram a se retirar do país e o Talebã prometeu não atacar as forças americanas. Outras promessas incluíam não permitir que a Al-Qaeda ou outros grupos extremistas operassem nas áreas controladas por eles e prosseguir com as negociações de paz nacionais.

Mas no ano que se seguiu, o Talebã continuou a atacar as forças de segurança afegãs e civis e avançou rapidamente em todo o país.

Após a saída das tropas americanas, em julho, em um mês o Talebã cercou e invadiu Cabul, a última região controlada pelo governo democrático civil.

O Talebã surgiu no Afeganistão e no Paquistão
Foto: AFP / BBC News Brasil

Primeira ascensão ao poder

O Talibã, ou "estudantes" na língua afegã, surgiu no início da década de 1990 no norte do Paquistão, após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão.

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Acredita-se que o movimento começou em seminários religiosos - a maioria financiados com dinheiro da Arábia Saudita - que pregavam uma forma fundamentalista de islamismo sunita.

A promessa do Talebã - que atuava em uma área abrangendo o Paquistão e o Afeganistão - era restaurar a paz e a segurança e impor sua própria versão austera da Sharia, ou lei islâmica, uma vez no poder.

Do sudoeste do Afeganistão, o Talebã rapidamente estendeu sua influência.

Em setembro de 1995, eles capturaram a província de Herat, na fronteira com o Irã, e exatamente um ano depois capturaram a capital afegã, Cabul.

Eles então derrubaram o regime do presidente Burhanuddin Rabbani - um dos fundadores dos mujahedin (combatentes) afegãos que resistiram à ocupação soviética.

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Em 1998, o Talebã controlava quase 90% do Afeganistão.

Os afegãos, cansados dos excessos e das lutas internas dos mujahedin depois que os soviéticos foram expulsos, em geral deram as boas-vindas ao Talebã quando eles apareceram pela primeira vez.

Sua popularidade inicial foi em grande parte devido ao sucesso em erradicar a corrupção, diminuir os crimes e tornar as estradas e as áreas sob seu controle seguras para o comércio.

Mas o Talebã também introduziu punições de acordo com sua interpretação estrita da lei Sharia - como execuções públicas de supostos assassinos e de adúlteros e amputações para ladrões.

Os homens eram obrigados a deixar a barba crescer e as mulheres a usar a burca, uma vestimenta que cobre o corpo todo.

O Talibã também proibiu a televisão, a música e o cinema, e não permitia que meninas de 10 anos ou mais frequentassem a escola.

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Eles foram acusados de vários abusos contra os direitos humanos e culturais. Um exemplo foi em 2001, quando o Talebã destruiu as famosas estátuas do Buda Bamiyan no centro do país, gerando indignação internacional.

Poucos membros da OTAN acreditam que é possível vencer o Talebã com vitórias puramente militares
Foto: AFP / BBC News Brasil

O envolvimento do Paquistão

O Paquistão negou repetidamente que tenha fomentado a criação do Talebã,

mas não há dúvida de que muitos afegãos que inicialmente aderiram ao movimento foram educados em madrassas (escolas religiosas) no Paquistão.

O Paquistão também foi um dos três únicos países, junto com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que reconheciam o Talebã como governo legítimo no Afeganistão. Também foi o último país a romper relações diplomáticas com o grupo após o endurecimento do regime.

A certa altura, após serem retirados do poder no Afeganistão, o Talebã ameaçou áreas controladas pelo Paquistão.

Um dos ataques do Talebã mais conhecidos e condenados internacionalmente foi em outubro de 2012, quando a estudante Malala Yousafzai foi baleada a caminho de casa, na cidade de Mingora.

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Uma grande ofensiva militar, dois anos depois, após o massacre da escola Peshawar, reduziu muito a influência do grupo no Paquistão.

Pelo menos três figuras-chave do Talebã paquistanês foram mortas em ataques feitos com drones pelos EUA em 2013, incluindo o líder do grupo, Hakimullah Mehsud.

O grupo havia sido removido do poder por intervenção dos EUA em 2001
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Santuário da Al-Qaeda

As atenções do mundo se voltaram para o Talebã após os ataques de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center em Nova York, nos EUA.

O Talebã foi acusado pelos EUA de ser um santuário para os principais suspeitos do ataque - Osama Bin Laden e seu grupo extremista Al-Qaeda.

Em 7 de outubro de 2001, uma coalizão militar liderada pelos EUA invadiu o Afeganistão e, na primeira semana de dezembro, o regime do Talebã entrou em colapso.

O então líder do grupo, Mullah Mohammad Omar, e outras figuras importantes, incluindo Bin Laden, escaparam da captura.

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Muitos líderes do Talebã supostamente se refugiaram na cidade paquistanesa de Quetta, de onde guiavam o grupo. Mas a existência do que foi apelidado de "Quetta Shura" foi negada pelo Paquistão.

A estudante e ativista Malala Yousafzai foi atacada pelo Talebã em 2012
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Grupo retomou o país aos poucos

Apesar do número cada vez maior de tropas estrangeiras no Afeganistão, o Talebã gradualmente recuperou controle de certas regiões e voltou a estender sua influência, tornando grandes áreas do país inseguras.

Houve inúmeros ataques do Talebã em Cabul e, em setembro de 2012, o grupo realizou uma incursão de alto nível em uma base da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

As esperanças de um acordo de paz surgiram em 2013, quando o Talebã anunciou planos de abrir um escritório no Catar. Mas a desconfiança de todos os lados permaneceu alta e a violência continuou.

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Em agosto de 2015, o Talebã admitiu que havia encoberto a morte do líder Mullah Omar - supostamente por problemas de saúde em um hospital no Paquistão - por mais de dois anos.

No mês seguinte, o grupo disse que deixou de lado semanas de lutas internas e se reuniu em torno de um novo líder na forma de Mullah Mansour, que havia sido vice de Mullah Omar.

Mais ou menos na mesma época, o Talebã assumiu o controle da capital de uma província pela primeira vez desde sua derrota em 2001, a cidade de Kunduz, estrategicamente importante.

Mullah Mansour foi morto em um ataque dos EUA feito com drones em maio de 2016 e substituído por seu vice, Mawlawi Hibatullah Akhundzada, que permanece no controle do grupo.

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O Talebã fez negociações diretas com os EUA em 2018 e, em fevereiro de 2020, os dois lados fecharam um acordo de paz em Doha.

Os EUA se comprometeram a se retirar do país e o Talebã prometeu não atacar as forças americanas. Outras promessas incluíam não permitir que a Al-Qaeda ou outros grupos extremistas operassem nas áreas controladas por eles.

Mas no ano que se seguiu, o Talebã continuou a atacar as forças de segurança afegãs e civis e avançou rapidamente em todo o país. Após a saída das tropas americanas, em julho, em um mês o Talebã cercou e invadiu Cabul, a última região controlada pelo governo civil eleito democraticamente.

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