A pior epidemia de ebola da história está colocando em evidência ineficiências nos sistemas de saúde na África Ocidental - especialmente nos países devastados por guerras civis. A crise também revela inadequações nas respostas da comunidade internacional e da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o problema.
Ao anunciar o plano de ação dos Estados Unidos no combate ao Ebola, o presidente americano Barack Obama disse que a epidemia era uma "ameaça à segurança global", exigindo uma "resposta global".
Veja a seguir cinco medidas que, segundo profissionais de saúde, ajudariam a conter a epidemia:
Mais centros de tratamento
Todos concordam que centros de tratamento são a chave, já que o número de casos, acredita-se, é muito maior do que os 4.366 registrados oficialmente.
Na Libéria – país mais afetado pela epidemia – pacientes estão morrendo nas ruas, porque não há clínicas com áreas de isolamento suficientes para tratar pessoas infectadas.
O plano do presidente Obama, de enviar 3 mil militares para construir 17 clínicas e treinar profissionais de saúde, foi recebido com alívio especialmente na Libéria, para onde irá a maior parte da tropa.
Mas talvez leve semanas antes de que os primeiros leitos hospitalares formecidos pelos americanos estejam em operação. A OMS confirmou que não há leitos disponíveis em nenhum lugar na Libéria no momento.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) apelou a outros países para que "enviem unidades de defesa civil e militares, e equipes médicas, para conter a epidemia".
Na semana passada, a Grã-Bretanha anunciou que instalaria um centro de tratamento com 65 leitos para equipes médicas infectadas em Serra Leoa, e a França colocou uma equipe de cerca de 20 especialistas na Guiné.
Mas Philippe Maughan, que trabalha para o órgão de ajuda humanitária da Comissão Europeia (Echo), acha que as expectativas da MSF talvez sejam grandes demais.
"Se (a MSF) acha que existe uma legião estrangeira pronta para ser despachada para lidar com essa crise, não existe".
"O Ebola é um vírus muito específico, nem todo especialista em doenças infecciosas está necessariamente preparado para lidar com ele".
Atendimento em casa
Até que os centros de atendimento prometidos estejam prontos, tratar pacientes em casa é a única maneira de tentar impedir o alastramento do vírus – especialmente na Libéria.
Sob supervisão médica, comunidades afetadas aprenderiam a oferecer cuidados básicos como hidratação e analgésicos.
Mas isso "não será possível sem a participação da comunidade", alerta Tarik Jasarevic, um porta-voz da OMS.
A estratégia envolve convencer a população de que não há razão para ter medo de profissionais vestindo roupas de proteção.
Mas essa medida também traz riscos.
"A necessidade de pessoas que façam esse trabalho é grande, supervisão e disciplina são fundamentais", diz Maughan.
"Alguns vão falhar e alguns vão acertar. Não é ideal, isso é o último recurso”.
A MSF alerta que o plano só vai funcionar nos estágios iniciais do tratamento.
"Assim que um membro da família começar a apresentar sintomas mais graves, como sangramentos, (os familiares) vão tentar levá-lo a um centro de tratamento", diz Brice de la Vigne, director de operações da MSF.
Ponte aérea
Contrariando recomendações da OMS, Guiné, Serra Leoa e Libéria, os países mais afetados pela epidemia, estão isolados após a suspensão de todo o tráfego aéreo em seus territórios e o fechamento de suas fronteiras.
As medidas estão afetando suas economias e ameaçando o suprimento de alimentos desses países.
Entidades humanitárias estão fazendo pressão para que sejam criados "corredores humanitários".
O presidente Obama prometeu criar uma ponte-aérea para que suprimentos sejam despachados para esses países mais rapidamente.
O Senegal, onde estão instaladas várias ONGs e agências da ONU, deve se tornar o centro das operações.
As autoridades senegalesas concordaram oficialmente com o plano, porém, parecem relutantes em colocá-lo em prática.
"Entendo as preocupações do governo senegalês, afinal, o Ebola foi levado para a Nigéria por um passageiro de avião, mas precisamos despachar equipamentos para esses países e precisamos transportar equipes médicas para dentro e fora (dessas áreas)", diz Maughan.
Outra questão crucial é a criação de sistemas para evacuar equipes médicas infectadas.
Planos de contingência em outros países
Não espere até que haja um caso confirmado para só então começar a elaborar um plano de combate à epidemia. E assegure-se de que planos que parecem bons no papel realmente funcionarão na prática - alertam autoridades de saúde aos países da região.
Diplomatas nigerianos disseram à BBC que quando o Ebola chegou à Nigéria, as pessoas se assustaram.
"Se o CDC (sigla inglesa para o Centro para Controle de Doenças e Prevenção, nos Estados Unidos) não tivesse enviado 50 especialistas à Nigéria, (os nigerianos) não teriam colocado (a doença) sob controle", diz Maughan.
Kits médicos estão sendo despachados para toda a região e alguns países iniciaram campanhas de conscientização da população.
Agências médicas acreditam que, se houver mais casos no Senegal (onde 67 pessoas ainda estão sendo monitoradas após terem tido contato com um estudante infectado da Guiné), a epidemia pode ser rapidamente controlada no país.
Mas ainda há preocupação em relação à capacidade de ação rápida em países sob maior risco - Máli, Guiné Bissau e Costa do Marfim.
"Estamos trabalhando com as autoridades no Máli para que os 86 centros de saúde que nós patrocinamos lá estejam de prontidão", disse Alexis Smigielski, chefe da ONG médica Alima, com sede em Dakar.
Vacinas
Pelo menos duas vacinas experimentais parecem promissoras e podem ser disponibilizadas na África Ocidental em novembro se os testes tiverem resultados positivos.
Equipes médicas teriam prioridade na vacinação.
"Há grande esperança (nas vacinas)", diz Maughan.
No entanto, pode levar vários meses para que a produção alcance um nível adequado à demanda.
A OMS sugeriu também que pessoas que sobreviveram ao vírus podem agora doar sangue para tratar doentes.
Mas a entidade disse que o foco deve ser o controle urgente da epidemia, e não os experimentos em laboratórios.