Outros 683 partidários do presidente islamita Mohamed Mursi, deposto pelo exército, são julgados nesta terça-feira pelo mesmo tribunal que na véspera condenou à morte 528 acusados, uma decisão considerada pela ONU como violação do direito internacional.
Entre os acusados está Mohamed Badie, o guia supremo da Irmandade Muçulmana, a influente confraria à qual pertence Mursi e que foi declarada uma "organização terrorista" pelas novas autoridades egípcias. Badie não esteve presente no banco dos réus nesta terça-feira.
Das 529 pessoas condenadas à pena de morte, apenas 153 delas estão detidas, enquanto as outras estão foragidas. A decisão provocou a reação imediata da comunidade internacional.
Desde que o exército derrubou Mursi, no dia 3 de julho, 1.400 de seus partidários morreram pela repressão e outros milhares foram detidos.
A ONU declarou nesta terça-feira que a condenação em massa é um atentado ao direito internacional.
"O assombroso número de pessoas condenadas à morte neste caso não tem precedentes na história recente. A imposição em massa da pena de morte após um julgamento marcado de irregularidades, é uma violação ao direito internacional e aos direitos Humanos", afirmou um porta-voz do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville.
"Um julgamento em massa de 529 pessoas e que durou dois dias não pode ter respeitado às exigências mais fundamentais de um julgamento justo", acrescentou Colville.
O porta-voz também criticou a ausência de muitos acusados no tribunal.
Na segunda-feira, os Estados Unidos reagiram ao anúncio e expressaram sua "profunda preocupação". "Parece simplesmente impossível ter havido uma análise justa das provas e dos testemunhos, conforme às normas internacionais, para 529 acusados em dois dias de julgamento", denunciou em um e-mail uma autoridade do departamento de Estado americano.
No total, mais de 1.200 pessoas são processadas por estes atos de violência que ocorreram em meados de agosto na cidade de al Minya, 250 km ao sul do Cairo. Trata-se do julgamento mais importante desde o início da repressão contra os partidários de Mursi, lançada no início de julho passado, após a deposição do único chefe de Estado eleito democraticamente no país.
Todos os acusados respondem pelos atos de violência ocorridos na província de al Minya no dia 14 de agosto, quando soldados e policiais dispersaram em um banho de sangue comícios islamitas no Cairo. Na ocasião, mais de 700 manifestantes pró-Mursi foram mortos no Cairo.
Desde esta data, mais de 1.400 partidários de Mursi morreram em uma repressão que se ampliou à oposição laica ao novo poder político, dirigido de fato pelo exército, segundo a Anistia Internacional. Milhares de pessoas, em sua maioria islamitas, foram detidas.
Quase todos os líderes da Irmandade Muçulmana são julgados atualmente e correm o risco de serem condenados à morte, incluindo Mursi.
O Guia Supremo do influente movimento que venceu todas as eleições desde a revolta de 2011, Mohamed Badie, - citado em vários casos adicionais - responde por "incitação" à violência em al Minya.
O julgamento é de responsabilidade do juiz Yusef Sabry, conhecido por sua severidade. Aparentemente, o juiz Sabry tem sido encorajado pela atmosfera deletéria no Egito desde a derrubada de Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito.