O grupo islamita armado Boko Haram sequestrou centenas de mulheres e crianças durante o ataque no início deste mês em Baga, nordeste da Nigéria, segundo testemunhas.
Kaltuma Wari, que foi sequestrada e libertada depois de alguns dias, declarou à AFP que mais de 500 mulheres e centenas de crianças estavam com ela em um internato de meninas em Baga, sob vigilância dos islamitas.
Estes números não puderam ser confirmados através de fontes independentes, mas a versão de Wari está de acordo com a de outra sobrevivente citada pela Anistia Internacional e de outra testemunha consultada pela AFP.
"Boko Haram sequestrou ao menos 300 mulheres e nos reteve numa escola de Baga", declarou uma mulher citada pela Anistia no comunicado divulgado na quinta-feira.
"Eles libertaram as mulheres mais velhas, as mães e a maioria das crianças ao final de quatro dias, mas ficaram com as mais jovens", acrescentou.
Yanaye Grema, um miliciano que conseguiu fugir depois de permanecer escondido durante três dias em Baga, declarou à AFP que, na fuga, encontrou três mulheres e um bebê.
"Elas me disseram que faziam parte das centenas de mulheres que foram capturadas pelo Boko Haram", contou.
O ataque contra Baga, que deixou dezenas ou centenas de mortos, segundo diversas fontes, é o mais sangrento cometido pelo Boko Haram em seis anos.
A Anistia Internacional (AI) denunciou na véspera que o Boko Haram cometeu durante essa ofensiva crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A AI e a Human Rights Watch (HRW) publicaram diferentes imagens de satélite para mostrar a destruição em massa das duas principais localidades atacadas, Baga e Doron Baga, situadas na costa do lago Chade, no norte do estado de Borno (nordeste da Nigéria).
"Os assassinatos deliberados de civis e a destruição de seus bens constituem crimes contra a humanidade e exigem uma investigação", declarou a AI.
"O recente massacre é um crime contra a Humanidade. É um massacre enorme e horrendo de pessoas inocentes", concordou o secretário de Estado americano, John Kerry, em declarações em Sofia.
Segundo a AI, centenas de pessoas teriam morrido em um ataque de vários dias iniciado em 3 de janeiro, que teme-se que tenha sido o pior massacre realizado pelo grupo desde que ele pegou em armas, em 2009, para instaurar um regime fundamentalista islâmico no nordeste da Nigéria.
O exército nigeriano, que costuma minimizar os balanços de mortos, disse nesta semana que 150 pessoas morreram, e considerou sensacionalista a afirmação de algumas fontes de que até 2.000 pessoas foram assassinadas.
A HRW considera que não é possível fornecer um balanço preciso no momento, já que "ninguém ficou para contar os mortos", acrescentou, citando um dos habitantes que escapou do massacre.
O Alto Comissariado para os refugiados da ONU estima que mais de 11.300 pessoas se protegeram no vizinho Chade por vários dias.
Por sua vez, a ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) afirmou que irá ajudar 5.000 sobreviventes do ataque refugiados em Maiduguri, capital de Borno, a 200 quilômetros.
O ataque ocorreu a pouco mais de um mês das eleições presidenciais e legislativas na Nigéria, que devem ser realizadas em 14 de fevereiro. Acredita-se que a explosão de violência tem por objetivo influenciar e perturbar o processo eleitoral.