Nigéria: por que é tão difícil achar as jovens sequestradas?

O grupo rebelde nigeriano Boko Haram sequestrou mais de 200 jovens de uma escola internato no vilarejo nortista de Chibok em 14 de abril; a BBC explica o caso

8 mai 2014 - 07h39
<p>Após possível divisão do grupo de reféns, analistas dizem que resgates pode levar anos</p>
Após possível divisão do grupo de reféns, analistas dizem que resgates pode levar anos
Foto: AFP

O grupo rebelde nigeriano Boko Haram sequestrou mais de 200 jovens de uma escola internato no vilarejo nortista de Chibok em 14 de abril. Cerca de 200 homens armados chegaram ao local à noite em 20 veículos para roubar mantimentos e levar as estudantes.

O caso gerou duras críticas ao governo, que teria mostrado pouco empenho em resgatar as jovens. O sequestro também expôs ao mundo a ação, na Nigéria, de um grupo extremista armado que age em nome de uma suposta "guerra santa" - nesse caso, contra o modelo de educação "ocidental" seguido no país.

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Para ajudar a entender a complexidade do episódio, a BBC preparou algumas respostas a perguntas mais frequentes sobre o caso.

Por que as garotas foram capturadas?

Na língua local hausa, Boko Haram significa "educação ocidental é proibida". O grupo promove o conceito de que na visão islâmica o lugar das mulheres é em casa.

Não é a primeira vez que o grupo ataca escolas. A de Chibok era a única ainda em funcionamento na região de Borno e não tinha nenhum recurso de segurança. As estudantes são cristãs e muçulmanas e passavam pelos exames finais do ano.

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O Boko Haram já sequestrou meninas antes?

O grupo havia atacada uma outro internato em Yobe no mês de março. Eles mataram 29 homens e pouparam as estudantes – ordenando que elas voltassem para suas casas e se casassem. Alguns analistas dizem que os rebeldes pensaram que suas ordens foram desobedecidas e por isso teriam sequestrado as jovens de Chibok como uma retaliação e para ter certeza de que suas ordens seriam cumpridas.

Nesta terça-feira, o presidente dos Estados Unidos ofereceu apoio do país no caso das meninas sequestradas na Nigéria
Foto: Reuters

Em maio de 2013, o grupo também divulgou um vídeo no qual dizia que sequestrara mulheres e crianças – incluindo adolescentes – em resposta às prisões de mulheres e crianças de seus integrantes. Os insurgentes disseram que tratariam suas reféns como escravas (o mesmo foi dito no caso de Chibok).

Algum refém do Boko Haram já foi libertado?

O analista americano Jacob Zenn, que estuda o grupo, diz que em alguns casos reféns foram libertados em acordos de trocas de prisioneiros.

Em fevereiro de 2013, uma família francesa que visitava um parque no país vizinho Camarões, e um padre também francês que estava na Nigéria foram feitos reféns e libertados posteriormente. A agência de notícias Reuters disse ter tido acesso a um documento do governo nigeriano que dizia que ao menos a família refém teria sido libertada após o pagamento de um resgate de US$ 3 milhões. A França nega o pagamento de resgates.

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O que tem sido feito para libertar as estudantes?

O governo nigeriano diz estar optando por ações "discretas" para evitar que as reféns sejam mortas.

A agência de inteligência local diz não ter homens infiltrados entre os extremistas, mas o Boko Haram, por sua vez, teria integrantes disfarçados trabalhando para o governo.

Os Estados Unidos ofereceram negociadores e tropas especiais à Nigéria. A Grã-Bretanha estaria fornecendo "apoio em planejamento".

As características do terreno do país estariam dificultando o uso de satélites e reconhecimento aéreo nas buscas pelas reféns.

Onde as garotas poderia estar?

Os sequestradores provavelmente se dividiram em pequenos grupos, cada um levando uma ou duas meninas.

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Líder do grupo Boko Haram aparece em vídeo dizendo que meninas podem ser vendidas como escravas
Foto: AFP

Eles estariam espalhados em uma área de 60 mil quilômetros quadrados dentro da floresta Sambisa, a região onde o grupo fica baseado, próximo da fronteira com Camarões.

Zenn afirma que a libertação de todas poderia levar mais de uma década.

Por que é tão difícil saber quantas estudantes estão desaparecidas?

Ao menos 58 meninas escaparam ao pular dos caminhões nos quais eram raptadas. Mas esse número pode ser maior pois acredita-se que algumas famílias não avisaram as autoridades sobre o retorno de suas adolescentes.

Também não é possível ter certeza sobre quantas jovens estavam na escola pois os arquivos da entidade foram queimados durante o ataque.

Além disso, uma fonte ligada ao Boko Haram disse à agência Reuters que duas jovens teriam morrido após serem picadas por cobras e outras 11 estariam doentes.

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O governo poderia fazer mais?

O presidente Goodluck Jonathan impôs desde maio de 2013 estado de emergência em três áreas: Borno, Yobe e Adamawa. Mas isso fez o Boko Haram intensificar sua campanha de insurgência.

Ao menos 1,5 mil pessoas morreram só neste ano. O governo diz não ter poder de fogo para neutralizar os rebeldes.

Como o Boko Haram se tornou poderoso?

Atualmente o grupo opera como uma guerrilha, mas já possui características de um exército regular. Centenas de seus combatentes já foram vistos marchando em vilas com picapes armadas com metralhadoras pesadas e até veículos blindados.

Não está claro porém como o Boko Haram obtém armas e financiamento. Além dos sequestros como fonte de recursos, o governo diz suspeitar que os insurgentes recebam dinheiro de políticos e tenham apoio externo de grupos jihadistas, como o al-Shabab da Somália e a Al-Qaeda do Maghreb Islâmico.

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O Boko Haram tem apoio na Nigéria?

Ele era popular na cidade de Maiduguri, onde surgiu em 2002 como uma seita religiosa. O movimento ganhou força capitalizando o ódio popular contra a corrupção e sua percepção de que o norte do país vinha sendo deixado de lado pelo governo.

Porém, sofreu uma queda de popularidade ao cometer assassinatos contra muçulmanos moderados e atentados a bomba contra igrejas e locais públicos.

Atualmente, a maior parte de seus combatentes vem da etnia Kanuri, o grupo de seu líder Abubakar Shekau – que é atualmente o homem mais procurado da África. Os Estados Unidos ofereceram uma recompensa de US$ 7 milhões por sua captura.

Foto: Arte Terra

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