O marido da mulher que foi condenada à morte no Sudão por ter abandonado o Islã disse à BBC que não foi informado sobre sua libertação.
No sábado os noticiários diziam que um representante do Ministério de Relações Exteriores havia confirmado que Meriam Ibrahim, que deu à luz a uma menina enquanto estava presa, seria libertada em alguns dias.
Mas o ministério disse no domingo que Ibrahim só poderia ser libertada depois de um apelo judicial bem sucedido.
Ibrahim, de 27 anos, foi criada como uma cristã ortodoxa, mas um juiz sudanês decretou que ela deveria ser considerada muçulmana devido à religião de seu pai. Ela se recusou a renunciar ao cristianismo e foi condenada à morte por apostasia - abandono da religião.
'Rumores'
Abdullahi Alzareg, um sub-secretário do ministério, foi citado dizendo que Ibrahim seria libertada porque o Sudão garantia sua liberdade religiosa e estava comprometido a protegê-la.
Mas o Ministério das Relações Exteriores disse no domingo que as palavras do sub-secretário foram tiradas de contexto, e que apenas o sistema judiciário poderia determinar o caso.
O marido de Ibrahim, Daniel Wani, disse que ninguém havia entrado em contato com ele sobre a libertação de sua mulher. Ele disse também que tinha apenas escutado relatos da mídia, os quais ele descreveu como rumores.
"Nenhum sudanês ou mediador estrangeiro entrou em contato comigo. Talvez o governo sudanês e o lado estrangeiro estejam em contato, mas eu não estou ciente", disse Wani ao correspondente da BBC no Sudão, Mohammad Osman. "Vou esperar pelo apelo que o meu advogado apresentou e espero que a minha mulher seja libertada."
Quarta-feira passada, Ibrahim deu à luz a uma menina em sua cela de prisão - o segundo filho de seu casamento em 2011 com Daniel Wani, um cidadão dos Estados Unidos.
O tribunal havia dito que Ibrahim teria permissão para amamentar seu bebê durante dois anos antes de a sentença ser executada. O tribunal também anulou seu casamento cristão e a condenou a 100 chibatadas por adultério, porque sua união não foi considerada válida sob lei islâmica
Em sua entrevista com à BBC, Wani disse que ele esperava continuar vivendo no Sudão com sua esposa e filhos no caso de sua libertação, mas que isso pode ser muito difícil. "Vou discutir com minha mulher o melhor lugar para se viver e vamos decidir mais tarde. Mas achamos muito difícil viver em Cartum depois do que aconteceu."
Ele também expressou sua esperança de que o tribunal irá reconsiderar o veredicto sobre a anulação do seu casamento, que ele confirmou também ter apelado.
O Sudão tem uma população de maioria muçulmana e a lei islâmica está em vigor desde os anos 1980.
A decisão reacendeu um debate sobre a apostasia, com estudiosos liberais e conservadores dando opiniões diferentes sobre se - e como - o ato de abandonar a fé islâmica deve ser punido.