Após derrota em referendo, Santos promete novo acordo de paz

Negociações com guerrilheiros das Farc voltaram ao ponto zero

3 out 2016 - 09h59
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, durante votação no referendo sobre acordo de paz com as Farc
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, durante votação no referendo sobre acordo de paz com as Farc
Foto: EFE

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, anunciou nesta segunda-feira (3) que "não desistirá" de assinar o acordo de paz com a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mesmo após uma derrota inesperada nas urnas, onde a maioria da população se disse contrária à negociação. "O cessar-fogo é bilateral e definitivo. Não desistirei.Buscarei a paz até o último dia do meu mandato", disse Santos, em sua primeira declaração após a divulgação do resultado do referendo, realizado no domingo (2).

Pedindo para o referendo não "desestabilizar o país", Santos ressaltou que convocará hoje as "forças políticas da Colômbia", principalmente as que fizeram campanha pelo "não" no referendo, para escutar suas ressalvas ao acordo. Os líderes das Farc, que desde 2012 negociam o acordo de paz com o governo para colocar fim a um dos conflitos mais antigos da América do Sul, também mantiveram sua palavra. "As Farc reafirmam sua vontade própria de paz e sua disponibilidade de usar apenas a palavra como arma de construção do futuro", prometeu o guerrilheiro Rodrigo Londono, conhecido como "Timochenko".

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O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, um dos principais promotores do "não" no referendo, disse estar disposto a participar de um "grande pacto nacional" para colocar fim à atividade da guerrilha, mas já estabeleceu uma série de condições para as novas negociações. "É fundamental que, em nome da paz, não se coloque em risco os valores que a tornam possível", comentou Uribe, pedindo "correções" ao acordo que já havia sido negociado entre o atual governo e as Farc.

"Deve haver justiça, e não simplesmente uma revogação das instituições, um pluralismo que não pode ser interpretado como um 'prêmio' por um crime, e uma política social que não comprometa os que são 'limpos' [de crimes]", disse. Um dos pontos mais polêmicos do acordo, que foi negociado em Cuba e selado na segunda-feira passada (26), é a punição aos membros das Farc, que poderiam ir para a cadeia por até 20 anos.

Pelo texto do acordo, a guerrilha também deveria entregar todas as suas armas às Nações Unidas, não se envolver mais em crimes como sequestro, extorsão e recrutamento de crianças, romper ligações com o tráfico de drogas e cessar os ataques contra as forças de segurança e os civis. Com 99% das urnas apuradas, o "não" recebeu 50,22% dos votos, contra 49,78% do "sim", em um sinal de que o país está dividido em relação ao acordo de paz. Cerca de 35 milhões de colombianos estavam habilitados a votar no referendo, mas houve uma abstenção de 63%.

A Colômbia enfrenta uma guerra com as Farc há 52 anos. O conflito já provocou a morte de 220 mil pessoas. A guerrilha tinha prometido que, caso o acordo fosse assinado, se tornaria um partido político.

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O governo colombiano não precisava submeter o acordo de paz a um referendo, mas decidiu convocar a consulta popular para dar legitimidade política à decisão.

Fonte: Ansa
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