Argentina: aliados barram investigação sobre vice-presidente

Amado Boudou, vice-presidente argentino, está envolvido em um caso de corrupção

4 jul 2014 - 00h59
(atualizado às 01h07)
Comissão da Câmara dos Deputados, de maioria governista, barrou os pedidos da oposição para abrir uma investigação contra Amado Boudou, envolvido em um caso de corrupção
Comissão da Câmara dos Deputados, de maioria governista, barrou os pedidos da oposição para abrir uma investigação contra Amado Boudou, envolvido em um caso de corrupção
Foto: EFE

Uma comissão da Câmara dos Deputados da Argentina, de maioria governista, barrou nesta quinta-feira os pedidos da oposição para abrir uma investigação contra o vice-presidente do país, Amado Boudou, envolvido em um caso de corrupção.

A aliança governista Frente para a Vitória (Fpv), que tem maioria na Câmara, rejeitou o processo de investigação contra Boudou, que foi solicitado pelos partidos de oposição na Comissão de Julgamento Político da Câmara.

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Para argumentar sua decisão, a aliança sustentou que os pedidos da oposição têm como objetivo "instalar uma pressão sobre o magistrado" Ariel Lijo, encarregado do processado judicial contra o vice-presidente, e que os mesmos representam uma "violação do princípio da divisão de poderes".

A presidente da comissão, a legisladora Adela Segarra, do Fpv, também considerou que as solicitações da oposição constituem uma "tentativa de desestabilização política" e recomendou que "se rejeitem 'in límine' (desde o começo) os pedidos de um julgamento político, toda vez que estes se referem a casos que ainda estão sendo analisados pelo Judiciário".

Em sua exposição, Adela opinou que "os projetos de resolução têm termos imprecisos, condições vagas e menções difusas", e garantiu que "os crimes não foram provados", por isso "não existe motivo algum" para uma intervenção do Congresso.

Por outro lado, a legisladora Elisa Carrió, da coalizão de oposição Frente Ampla Unen, anunciou que denunciará criminalmente os deputados da Fpv que integram a comissão por "acobertamento".

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"Não admitir este julgamento os transforma em acobertadores dos crimes cometidos por Boudou", disse, além de destacar que existem "acusações gravíssimas" contra o vice-presidente, como "o suborno, o enriquecimento ilícito e o mau exercício de suas funções", entre outras.

O vice-presidente, que retornou na quarta-feira à Argentina após quase uma semana no exterior em visita oficial a Cuba e Panamá, durante a qual soube do seu indiciamento, não prestará um novo depoimento amanhã ao juiz Lijo, como estava previsto.

O magistrado suspendeu a declaração depois que sua defesa solicitou o cancelamento de ampliação de seu interrogatório, informou o Centro de Informação Judicial (Cij).

Lijo tinha marcado a audiência para amanhã após o pedido dos advogados de Boudou para ampliar o depoimento prestado em seu primeiro interrogatório pelas suspeitas de compra irregular da gráfica de papel-moeda Ciccone Calcográfica, quando era ministro da Economia (2009-2011).

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Essa solicitação foi apresentada na sexta-feira passada, horas antes de o magistrado indiciar Boudou por corrupção passiva e negociações incompatíveis com seu cargo, crimes que podem levar a até seis anos de prisão.

O vice-presidente é acusado de ter recebido 70% das ações da gráfica Ciccone em 2010, quando era ministro da Economia, em troca de ajudar a empresa a cancelar um pedido de falência solicitado pela Receita argentina por dívidas impositivas.

Segundo o juiz, Boudou teria agido junto com José María Núñez Carmona, empresário e amigo do vice-presidente, e a Alejandro Vandenbroele, dono da empresa The Old Fund, que adquiriu a gráfica.

Lijo também processou os donos da Ciccone pelas suspeitas de que ofereceram as ações da empresa em troca da suspensão do processo de falência e para conseguir contratos com o Estado para impressão de papel-moeda e documentos oficiais.

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Além disso, indiciou um ex-chefe de assessores da Receita que aparentemente facilitou um plano de pagamentos para suspender o processo de quebra da gráfica.

O promotor do caso, Jorge Di Lello, antecipou na quarta-feira que a Justiça argentina não vai levar o caso a julgamento antes da segunda metade de 2015.

A oposição quer investigar a suposta "responsabilidade política e institucional" de Boudou "independentemente do que faça a Justiça".

Caso seja iniciado um processo de impeachment contra Boudou, serão necessários dois terços dos votos do Senado para destituir o vice-presidente. Nas condições atuais, a oposição precisaria de votos entre os legisladores governistas para aprovar o impedimento de Boudou.

  
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