A Argentina amanhece dividida, com apenas parte da população aderindo à convocação de uma greve geral contra a inflação, o aumento da pobreza e as medidas de "ajuste" do governo.
A greve foi convocada por três líderes sindicais, Hugo Moyano, da CGT Azopardo (facção da Central Geral dos Trabalhadores), Luis Barrionuevo, da CGT Azul e Branco, e Pablo Micheli, da CTA (Confederação dos Trabalhadores Argentinos), que representam, entre outros, os setores dos transportes públicos e gastronômico (restaurantes, cafés e bares).
"As pessoas não vão trabalhar porque estão cansadas de serem maltratadas pelo governo, porque estão cansadas da insegurança e da inflação", disse Moyano.
Lideranças de outros setores, como bancos e professores, entretanto, indicaram que não iriam aderir à greve, apontada por algumas delas como "política".
"Não vamos parar porque achamos que essa greve não faz sentido e porque ela é claramente contra o governo popular da presidente Cristina Kirchner. Mas ela terá efeito porque o pessoal de transportes públicos vai parar", disse à BBC Brasil Carlos Girotti, diretor de comunicação da CTA.
Ele reconheceu que os preços subiram principalmente no fim do ano passado e no início deste ano.
"Porém, apesar da alta de preços, vivemos em um país onde existem discussões e acordos salariais e estamos em meio a estes debates. Não vemos motivo para a greve", afirmou à BBC Brasil, por telefone.
Para ele, o governo tem trabalhado para resolver o problema da inflação e "merece apoio" por medidas como a reestatização da companhia aérea Aerolíneas Argentinas e da petrolífera YPF, além de ter levado "os genocidas da ditadura" ao banco dos réus – referência às iniciativas dos governos de Nestor Kirchner, morto em 2010, e de Cristina Kirchner para levar ao banco de réus militares acusados de crimes contra os direitos humanos.
"Nós achamos que essa é uma greve dos que apóiam os poderosos grupos nacionais e estrangeiros e que querem desgastar o governo nacional, popular e democrático da presidente Cristina Kirchner", afirmou.
Na quarta-feira, o Ministério do Trabalho publicou anúncio em vários jornais do país com o título "A maioria quer trabalhar".
Nele, o governo expôs uma lista dos sindicatos que não vão aderir ao movimento, entre eles o setor industrial, bancos e comércio.
Em um discurso transmitido em rede nacional de rádio e de televisão, na terça-feira, dois dias antes da greve, e em uma série de tuítes na quarta-feira, a presidente, Cristina Kirchner, destacou realizações de seu governo e disse: "É verdade que temos problemas. Mas não queiram nos convencer de que tudo vai mal, de que tudo está horrível".
Inflação e pobreza
A inflação e o aumento da pobreza têm aparecido entre as principais preocupações dos argentinos em recentes pesquisas de opinião.
Segundo o governo, a inflação acumulada nos primeiros dois meses deste ano foi de 7,22%.
Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia do governo Nestor Kirchner (2003-2007), e agora na oposição, disse à imprensa local que "o governo admitiu a inflação, mas não a pobreza".
O FMI informou nesta semana que sua previsão para o país é de 0,5% de expansão para 2014.