Argentina julga médicos por roubo de bebês durante ditadura

17 set 2014 - 19h14

A Argentina deu mais um passo, nesta quarta-feira, na depuração de responsabilidades pelos crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar, com o primeiro julgamento que colocou no banco dos réus três médicos por apropriação de bebês nascidos em centros de detenção clandestinos.

Um tribunal iniciou nesta quarta-feira na capital argentina a audiência no qual serão julgados os doutores Norberto Bianco, Raúl Martín e Yolanda Arroche, especializados em obstetrícia, por participação no roubo de bebês nascidos no Campo de Maio, nos arredores de Buenos Aires, uma das mais importantes prisões clandestinas utilizadas pelos militares durante o regime de fato.

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Os três se sentarão no banco junto ao ex-comandante Santiago Riveros e o ex-ditador Reynaldo Bignone, os repressores que tinham a seu cargo a área de Campo Mayo e que já foram condenados em processos anteriores por delitos de contra a humanidade.

O processo pretendia julgar o grupo de médicos que trabalhou no Campo de Maio, mas a maioria não será submetida à Justiça, bem porque já morreram ou por motivos de saúde.

O tribunal julgará a responsabilidade dos acusados em nove casos de apropriação de filhos de jovens sequestradas e desaparecidas pela ditadura, dos quais cinco já recuperaram sua identidade.

Tormentos às grávidas, supressão de identidade, apropriação de menores e privação ilegítima da liberdade são alguns dos delitos que os acusados enfrentam.

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Segundo a acusação, no hospital militar de Campo de Maio foram habilitados dois quartos "especiais" pelos quais passaram pelo menos 17 sequestradas que deram à luz neste centro clandestino e das quais foram tirados os filhos antes de ser assassinadas.

Raúl Martín, chefe do serviço de clínicas do hospital militar de Campo de Maio, foi denunciado como o "retransmissor" da informação sobre as mulheres sequestradas.

Bianco, chefe de traumatologia e considerado "personagem-chave" no roubo de crianças, esteve foragido durante mais de dez anos no Paraguai até que foi extraditado e foi condenado por ter sido ele mesmo um pai apropiador, embora tenha se beneficiado da decisão de um tribunal para não ser preso.

Arroche deverá responder "em qualidade de coautora" pela ocultação de um menor de 10 anos, supressão de identidade e falsidade ideológica de documento público, acusada de ter assinado o certificado de nascimento falso de um dos bebês apropriados, Francisco Madariaga Quintela.

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Por esse documento, "o menor falsamente inscrito como Alejandro Ramiro Bayo foi criado e viveu em um núcleo familiar alheio até 18 de fevereiro de 2010", quando uma análise genética o permitiu conhecer sua verdadeira identidade e se reencontrar com seu pai, que ainda está vivo.

A causa se desprende da investigação realizada pelo Plano Sistemático de Apropriação de Menores, na qual foram condenados Bignone e Riveros.

No Campo de Maio funcionaram quatro centros de detenção durante a ditadura pelos quais passaram cerca de cinco mil detidos, dos quais somente cerca de 50 sobreviveram.

Cerca de 40 testemunhas prestarão depoimento no processo especialmente relevante para Avós de Praça de Maio porque "no banco dos réus estarão não só dois altos chefes militares, mas além disso três profissionais que puseram seus conhecimentos e suas matrículas ao serviço de crimes gravíssimos", sustentaram desde a associação.

Durante o primeiro julgamento pelo Plano Sistemático de Apropriação de Menores, o falecido ditador Jorge Rafael Videla foi condenado a 50 anos de prisão, considerado como o principal responsável.

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As Avós da Praça de Maio conseguiram revelar a identidade de 115 netos, embora ainda procure cerca de 400 filhos de vítimas da última ditadura argentina (1976-1983).

  
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