Nos 30 metros quadrados do quintal de uma casa comum em Montevidéu, estão plantadas as primeiras mudas do Cluc – Cultivando a Liberdade, o Uruguai Cresce, um dos primeiros clubes para cultivo e consumo coletivos de maconha no país.
Por determinação da lei aprovada no ano passado (que estatiza todo o processo de produção, armazenamento e distribuição da maconha), o clube não possui cartazes que indiquem sua atividade, e seu endereço também não é difundido pelas redes sociais, tampouco pelos seus integrantes. O boca a boca e as relações pessoais são a única forma de divulgação que usam, e foi suficiente: o Cluc está completo - possui 45 sócios, máximo permitido pelo governo, e cumpriu com as duas etapas de registro para poder começar a funcionar.
Diferentemente da maioria dos clubes que também começarão suas atividades nos próximos meses, o Cluc funciona como uma cooperativa, o que, segundo dizem, permite oferecer custos mais baixos para seus sócios. No clube, a cota mensal de participação é de 650 pesos uruguaios (cerca de R$ 65), enquanto em outros a taxa ronda os 2.500 pesos (R$ 250).
O propósito de apresentar preços “competitivos” se estende ao produto final. O clube calcula que poderá vender a grama da maconha a seus sócios por 28 pesos uruguaios (cerca de R$ 3), valor ligeiramente superior, mas similar, ao que será estabelecido pelo Estado quando tiver início a venda da droga em farmácias: US$ 1 (cerca de R$ 2,5).
“Tudo o que recolhermos financiará a continuidade do clube. Queremos diminuir a parte comercial disso. Funcionamos em sistema de autogestão, todos participam e trabalham para que existam todas as condições ideais de cultivo. Construímos juntos a estufa, por exemplo”, conta ao Terra Gustavo Robaina, um dos fundadores do Cluc.
Os integrantes defendem um modelo “participativo, acessivo e inovador”, e gostam de enfatizar que não se trata de promover o uso da droga, mas sim de oferecer informação sobre como fazê-lo de forma responsável. “Essa é a nossa linha, as três modalidades de acesso à maconha instituídas pelo governo (autocultivo, clubes e farmácias) são válidas em nossa opinião. Mas a alternativa do clube inclui trabalho, compromisso e esforço conjuntos. Com os sócios, apostamos em um 'encantamento' pelo projeto, pela apropriação desse modelo de consumo”, diz Robaina. “Aqui fazemos churrascos, conversamos e também realizamos atividades de formação sobre como ter uma maconha de melhor qualidade, além de dar a possibilidade de que se conheçam outros tipos.”
No Cluc estão sendo plantadas duas espécies de cannabis: sativa e indica. Robaina afirma que foram adquiridas sementes de diversos lugares. Assim como participaram da construção da estufa para o início do plantio, os sócios também terão de colocar a mão na massa na hora da colheita das primeiras plantas, daqui a cerca de seis meses.
Drogas: da legalização à pena de morte
Além dos cooperativistas, o Cluc ainda conta com um representante técnico, requisito obrigatório, estabelecido pelo governo. O clube é um braço da ONG Proderechos, que desde 2007 defende a descriminalização do mercado de cannabis, além da promoção de outras temáticas, como a legalização do aborto e o casamento homossexual, todas bandeiras que viraram lei no Uruguai.