A guerrilha comunista das Farc e o governo colombiano retomaram com otimismo nesta segunda-feira os diálogos de paz em Havana, mesmo preocupados com a espionagem às comunicações de ambas as partes.
"Somos insurgentes e sabemos que o Estado e todos os atores sociais que nos enfrentam desde o início do confronto apelam para a espionagem", declarou à imprensa Andrés París, um dos delegados de paz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), sobre a interceptação de e-mails.
O Ministério Público colombiano acusou na semana passada o especialista em informática Andrés Sepúlveda de ter interceptado e-mails do presidente Juan Manuel Santos e das Farc, o que o presidente atribuiu em uma entrevista à AFP a uma tentativa de envenenar o processo de paz.
"O que estamos presenciando é a espionagem contra o conjunto da sociedade colombiana", declarou París, afirmando que a guerrilha tem "vontade de avançar o mais rápido possível" na discussão sobre drogas ilícitas, terceiro dos seis pontos da agenda de paz.
"As contradições são menores, é um desejo muito grande de resolver este ponto" das drogas, "por isso o otimismo de Andrés", declarou Jesús Santrich, outro delegado das Farc.
Ambas as partes, que retornaram à mesa de negociações após um recesso de oito dias, chegaram a um acordo até agora sobre os dois primeiros pontos da agenda, reforma rural e participação política.
Este ciclo de negociações coincide com a última etapa da campanha para a eleição presidencial de 25 de maio, na qual Santos concorre a um novo mandato, e que foi marcada pelas revelações de espionagem.
Santos, que tem uma leve vantagem sobre seus rivais, de acordo com as pesquisas, atribuiu a espionagem ao desespero dos opositores com o processo de paz com as Farc, a maior guerrilha do país.
"Estão desesperados porque veem que a paz tira sua razão de ser, sua razão de existir", declarou Santos em uma entrevista à AFP durante uma viagem de campanha a Cúcuta, na fronteira com a Venezuela.
A delegação do governo, liderada por Humberto de la Calle, não concedeu declarações à imprensa ao entrar no Palácio de Convenções de Havana, sede das negociações iniciadas em 2012.