Defendendo fim de embargo, Obama faz último discurso em Cuba

22 mar 2016 - 12h59
(atualizado às 13h00)
Presidente Barack Obama durante discurso em sua visita a Cuba
Presidente Barack Obama durante discurso em sua visita a Cuba
Foto: EFE

Com uma forte defesa da democracia, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez um discurso "ao povo cubano" nesta terça-feira (22) em Havana. Citando a reaproximação entre as duas nações, o mandatário destacou que esta é "uma nova era" e que irá trabalhar para por fim ao embargo econômico ao país. Ele ainda fez uma declaração sobre os atentados ocorridos em Bruxelas nesta manhã e pediu "união" internacional contra o terrorismo.

Ao povo cubano, o norte-americano começou o discurso citando uma frase do escritor e poeta José Marti e falou em espanhol "eu cultivo uma rosa branca", acrescentando que estava no país para "dar uma saudação de paz" a todos.

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Obama citou o "longo caminho" que separa as duas nações, apesar delas estarem a "apenas 90 milhas de distância" e lembrou das milhares de pessoas que cruzaram as águas do mar para alcançar uma vida nova nos Estados Unidos.

O líder ainda destacou que pertence à geração que precisou viver no "isolamento" e citou os anos de tensão que quase levaram os dois países a "fazerem uma guerra nuclear".

"O mundo ia mudando, mas era constante nossa briga. E eu vim aqui para enterrar de vez os restos da Guerra Fria na América. Vim aqui para estender uma mão de amizade para o povo cubano", disse o ovacionado presidente.

Porém, ele destacou que as diferenças entre os estilos de vida e de governo entre as nações permanecem e que não quer "impor" nenhum modelo para o povo cubano, mas que é momento de reconhecer "o quanto compartilhamos". "Somos como dois irmãos que ficaram separados por longos anos, mas que têm as mesmas raízes", ressaltou.

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Cubanos acompanharam pela TV o histórico discurso do presidente norte-americano
Foto: EFE

"Eu acredito no povo cubano. Isso não é apenas uma política de normalizar as relações com a política de Cuba, mas os EUA estão normalizando as relações com o povo cubano. Aos jovens, olhem o futuro com esperança. Não olhando para fora achando que lá é melhor. Mas, para o futuro de seu país", disse o mandatário.

Ressaltando que acredita que "o povo cubano é tao inovador como qualquer outro", o norte-americano disse que não quer "impor" nada, mas que iria dar sua "opinião" sobre o que "acha que é certo".

"Mesmo que acabássemos com o embargo econômico amanhã, os cubanos não devem sentir os benefícios se as mudanças não continuarem. Isso é com vocês. Como amigo, eu posso dizer que avanços dependem de educação, da saúde e da troca de ideias. Se não houver diferentes pontos de vista, não dá para crescer. Os EUA não têm intenção de impor mudanças em Cuba porque cada povo tem que escolher seu caminho e seu futuro", disse referindo-se ao controle do Estado ao acesso à internet e às informações vindas de fontes que não sejam oficiais.

Voltando a citar Marti, Obama disse que "liberdade é todo homem poder ser honesto e falar sem hipocrisia" e criticou diversos pontos defendidos pelo presidente Raúl Castro sobre os direitos humanos na coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (21).

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"Eu acho que os cidadãos devem ser livres para falar sobre o que querem, para elogiar ou criticar seu governo e a lei não deve prender quem se opõe ao governo. Acredito ainda que cada pessoa deve ter o poder de escolher sua religião e que cada pessoa deveria ter o direito de escolher o governo que quer", disse referindo-se ao regime dos irmãos Castro no poder.

Após a fala, ele afirmou que "não há segredo nenhum que nossos governos não concordam com muitos desse pontos" e ressaltou que Castro, por sua vez, criticou a pena de morte, guerras no exterior e a desigualdade social que existem nos Estados Unidos.

"O que as pessoas precisam entender é que eu aceito essas opiniões" e que "eu acredito" que a "democracia nos ajuda a resolvê-las". Segundo Obama, ele quer que os cubanos possam viver o que ele viveu, que, como filho de mãe solteira e pobre, chegou ao mais alto cargo político em seu país.

"Nos temos desafios raciais, problemas na sociedade, herança de anos de segregação e escravidão. Mas, o debate nos faz melhorar. Em 1959, era ilegal meu pai casar com a minha mãe. Quando eu estudava, a gente lutava contra a segregação na escola. Graças ao protesto e aos debates, as pessoas se organizaram e resolveram isso graças à liberdade", ressaltou.

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Obama e família passeiam por Havana Velha debaixo de chuva
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Porém, segundo o mandatário, o "processo democracia não é sempre bonito e às vezes é frustrante" disse citando os discursos feitos por candidatos na corrida eleitoral para a Presidência dos EUA. Mas, "mesmo com isso", "nós tínhamos dois candidatos cubanos-americanos no partido dos Republicanos e o próximo presidente será uma mulher ou um socialista", disse arrancando risadas do público ao fazer uma referência aos dois candidatos de seu partido, Hillary Clinton e Bernie Sanders.

"Eu acredito que os cubanos vão fazer as escolhas certas. Espero que vocês façam isso como parceiros dos EUA", disse o mandatário ao pedir que Raúl Castro "não tenha medo dos EUA ou do povo cubano".

"Chegou a hora de deixar o passado para trás e hora de criar um futuro de esperança. Não será fácil. Mas, após os dias que passei aqui em Cuba, eu acredito cada vez mais no povo cubano.

Sí se puede", finalizou o mandatário.

O presidente norte-americano ainda tem mais um compromisso público em Havana nesta terça, último dia de sua viagem à ilha. Ele assistirá uma partida de beisebol ao lado do presidente Raúl Castro entre o Tampa Bay Rays e a seleção cubana.

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Amanhã (23), Obama e sua família partem para uma visita à Argentina.

Fonte: Ansa
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