A oposição venezuelana ainda digere a contundente derrota que sofreu domingo para o chavismo nas eleições regionais.
O partido do presidente Nicolás Maduro elegeu 18 dos 23 governadores.
Na oposição, a tônica dos discursos era de que houve fraude no pleito, mas já começam a surgir vozes reconhecendo o revés e admitindo erros de estratégia para enfrentar o governo.
Entre terça e quarta-feira, ex-candidatos e líderes da Mesa de Unidade Democrática (MUD), coalizão de partidos opositores ao governo de Maduro, romperam com a norma e começaram a admitir culpa e criticar decisões do movimento.
Um dos que reconhecem publicamente os resultados da eleição é Henri Falcón, governador e ex-candidato da MUD para o Estado de Lara. Ele definiu o resultado nas urnas como "trágico". "De forma responsável, eu digo que nós perdemos, simples assim, e temos que aceitar", disse Falcón.
Sem ódio e violência
O político afirma que não é o momento de gerar mais ódio ou violência. É hora, segundo ele, de reconhecer "que a tragédia (da oposição) poderia ter sido evitada".
Falcón perdeu o governo de Lara para a deputada chavista Carmen Meléndez.
Outro crítico é o governador de Amazonas, Liborio Guarulla, que atribui sua derrota no Estado à campanha da MUD, que não conseguiu chegar a um consenso e concorreu com cinco candidatos contra o candidato do governo.
"Em 17 anos, o Amazonas conduziu o projeto de povos indígenas e democracia. (A) MUD em Caracas acabou com ele, impondo candidato por interesses", escreveu Guarulla, no Twitter. Ele é do Movimento Progressista da Venezuela, partido que decidiu apresentar um candidato próprio, fora da plataforma opositora.
O governista Miguel Rodríguez, aliado de Maduro, ganhou a disputa em Amazonas, derrotando com folga os outros cinco adversários.
Luta na rua
Não foi apenas no Estado de Amazonas que opositores não chegaram a um consenso.
O movimento Vente Venezuela, da líder opositora María Corina Machado, por exemplo, foi um dos primeiros a se descolar da coalização e desistiu de participar das eleições com o argumento de manter a luta na rua.
As eleições de domingo foram realizadas depois de meses de violência - e protestos protagonizados pela oposição.
Hora de autocrítica
O deputado opositor José Guerra, atribui a derrota de domingo a erros próprios e não aos méritos dos governistas.
"Derrotamos a nós mesmos", assinala o congressista, emendando que é responsabilidade da oposição ter reduzido a participação eleitoral alcançada nas eleições parlamentares em 2015.
A oposição conquistou 11 pontos percentuais a menos, comparados aos 56% contabilizado no pleito daquele ano.
Segundo Guerra, a MUD não foi capaz de mobilizar seus simpatizantes para que fossem às urnas. Por isso, a participação eleitoral, caiu de 74% para 61%.
Ainda assim, o deputado ressalta que a votação de domingo foi a mais irregular de todas as eleições venezuelanas desde que o chavismo assumiu o poder.
Dias antes das eleições, argumenta a oposição, centros de votação foram modificados e impediu-se que candidatos fossem substituídos depois das primárias da oposição, o que foi denunciado pelos antichavistas antes e depois do pleito.
Capriles e as críticas
Apesar de lideranças da MUD insistirem nas denúncias de fraude nas eleições, Henrique Capriles, principal nome da oposição ao chavismo, não se juntou ao coro.
Horas depois das eleições, Capriles escreveu no Twitter que se mantém na oposição. No texto, contudo, ele não fez nenhuma menção a fraude ou irregularidades no pleito.
"Não trato de me justificar, nem de dizer palavras corretas, apenas sinceras, sou um ser humano e me sinto igual a vocês", diz o trecho da mensagem postada.
Capriles, que havia anunciado que não tentaria a reeleição para o governo do Estado de Miranda, estava impedido de concorrer. A Controladoria Geral da Venezuela decidiu que ele não pode exercer nenhum cargo eletivo por 15 anos.
Já o candidato da oposição em Miranda, Carlos Ocariz, prefeito da cidade venezuelana de Sucre, disse que o processo eleitoral teria sido "absolutamente manipulado".
Na segunda-feira, a MUD publicou um comunicado em que pede uma "auditoria total, quantitativa e qualitativa de todo o processo (eleitoral), com verificação internacional".
No comunicado oficial, a MUD não diz que teria cometido erros de estratégia.
No entanto, os questionamentos e críticas internas expuseram fissuras claras entre os adversários do governo de Nicolás Maduro.
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