Estreante em cúpula, Cuba faz ofensiva a empresários

Ministro apresentou 'oportunidades de investimentos em Cuba' para empresários na cúpula

10 abr 2015 - 12h56
(atualizado às 14h49)
Ministro apresentou 'oportunidades de investimentos em Cuba' para empresários na cúpula
Ministro apresentou 'oportunidades de investimentos em Cuba' para empresários na cúpula
Foto: BBC News Brasil

Estreante na Cúpula das Américas, Cuba está aproveitando a sétima edição do evento - que ocorre a partir desta sexta-feira (10) na Cidade do Panamá - para tentar atrair investimentos de grandes empresas e promover as oportunidades econômicas que se abrem com sua reaproximação com os Estados Unidos.

Chefiada pelo ministro cubano do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca, a ofensiva tem como palco a cúpula de empresários que antecede o encontro entre chefes de Estado, no sábado.

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Em discurso a presidentes de empresas no hotel Riu Plaza Panamá na última quinta-feira, Malmiera disse que Cuba vive uma "nova fase" no cenário econômico mundial.

"Nesta nova etapa, ampliamos nossa visão sobre o papel do investimento estrangeiro, reconhecendo-o como um elemento ativo e fundamental para o crescimento de determinados setores e atividades econômicas", afirmou o ministro.

Segundo ele, Cuba precisa de US$ 2,5 bilhões (R$ 7,6 bilhões) de investimentos estrangeiros para estimular um crescimento "que resulte em desenvolvimento, prosperidade e sustentabilidade para o nosso projeto socialista."

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Para atrair esses recursos, ele diz que o Parlamento cubano aprovou recentemente um novo marco regulatório "que oferece garantias e incentivos aos investidores estrangeiros, estabelece regras claras e maior transparência".

O ministro afirmou ainda que delegações de empresários americanos que visitaram Cuba recentemente constataram as possibilidades criadas pela reaproximação com os Estados Unidos.

Turismo

Malmiera falou à frente de uma projeção da praça da Catedral, uma das principais atrações turísticas de Havana. Ele apresentou o turismo como um dos setores mais promissores da economia do país e defendeu que os Estados Unidos ponham fim a "proibições absurdas", como a limitação a viagens de americanos a Cuba.

O governo cubano estima que, com o fim das restrições, mais de 1 milhão de americanos passem a visitar a ilha caribenha anualmente.

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Durante a fala do ministro, o salão tinha a maioria de suas centenas de cadeiras ocupadas.

Terminado o discurso, ele recebeu aplausos discretos e, diferentemente de outras autoridades que haviam discursado antes, deixou o palco sem responder a perguntas.

A presença do ministro frustrou alguns empresários presentes. Até a véspera do evento, especulava-se que o presidente Raúl Castro pudesse falar em seu lugar.

Delegação cubana espalhou panfletos listando oportunidades de negócio na ilha
Foto: BBC News Brasil

Mesmo assim, a mensagem ressoou bem entre o público. Para José Antonio Llorente, sócio-fundador da Llorente & Cuenca - consultoria de comunicação presente em 11 países e que tem entre seus clientes Repsol e Toyota - o discurso foi "muito construtivo".

"Não foi uma fala beligerante, como estávamos acostumados; ele não veio aqui vender a revolução", diz Llorente.

Interesse

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Segundo ele, alguns de seus clientes estão muito interessados em fazer negócios em Cuba.

"Poucos mercados no mundo são tão fechados como Cuba, e quando uma companhia já está presente no mundo todo, essa é uma das melhores possibilidades para crescer".

Resta saber, diz ele, se "os fatos darão continuidade às palavras", ou seja, se Cuba de fato facilitará a vida dos investidores.

Carlos Cerdas, presidente da construtora costa-riquenha Meco, disse ter interesse em investir em Cuba (sua companhia já atua na Colômbia e em boa parte da América Central), mas afirma que analisará as novas condições oferecidas.

Ele se diz cauteloso com as regras fiscais, laborais e para introdução de máquinas em Cuba.

Presidente do Business Council of Latin America (Ceal), Ingo Plöger diz que há dois setores que oferecem oportunidades mais imediatas a investidores estrangeiros: turismo e a indústria de alimentos (Cuba importa boa parte de sua comida).

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Outra aposta cubana que pode se mostrar vantajosa a empresários, segundo ele, é o complexo industrial do porto de Mariel. A reforma do porto, financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foi executada pela empreiteira brasileira Odebrecht.

O Brasil, no entanto, tem tido participação discreta na cúpula dos empresários. Poucas companhias nacionais estavam presentes durante a fala do ministro, e apenas duas foram convidadas a integrar mesas de debates ao longo do evento: a Odebrecht e a empresa de tecnologia Stefanini.

Oportunidades de negócios

Na manhã de quinta-feira, a delegação cubana espalhou pelos corredores do hotel uma série de folhetos e catálogos listando oportunidades de negócio em Cuba.

Em reunião privada após o discurso, Malmierca entregou os catálogos a empresários americanos e representantes da Câmara de Comércio dos Estados Unidos.

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Participantes do encontro disseram que ele serviu para que cubanos e americanos trocassem informações sobre o estado das relações entre os países, impulsionadas pelo anúncio da retomada dos laços diplomáticos entre Havana e Washington em dezembro.

Apesar da reaproximação, o principal obstáculo entre os dois países segue em vigor, o embargo econômico americano à ilha.

O presidente americano, Barack Obama, já defendeu o fim do bloqueio, mas a medida depende do Congresso, hoje dominado pela oposição.

Em seu discurso aos empresários, Malmierca cobrou os legisladores americanos a derrubar o bloqueio e exortou Obama a usar sua autoridade presidencial para "modificar outros aspectos do embargo que não requerem aprovação do Congresso".

Os temas deverão voltar a ser tratados entre cubanos e americanos até o fim da cúpula. Na noite de quinta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, se encontrou com o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodriguez, na reunião de mais alto nível entre representantes dos dois países em mais de meio século.

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Para este sábado está previsto um encontro entre os líderes de Cuba e EUA - Raúl Castro e Barack Obama - durante um intervalo das negociações entre os presidentes dos países que participam da cúpula.

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