Líder das Avós da Praça de Maio celebra aparecimento do neto

A filha de Estela de Carlotto foi assassinada pelos militares poucos dias após dar luz a Guido, hoje com 36 anos

5 ago 2014 - 18h46
(atualizado às 19h01)
<p>Estela de Carlotto celebra o aparecimento do neto desaparecido durante a ditadura argentina</p>
Estela de Carlotto celebra o aparecimento do neto desaparecido durante a ditadura argentina
Foto: Victor R. Caivano / AP

“O que eu queria era não morrer sem abraçá-lo”, declarou emocionada Estela de Carlotto, fundadora da Associação das Avós da Praça de Maio, em uma conferência de imprensa na sede da instituição, após receber a notícia do aparecimento de seu neto, o neto de número 114.

"Primeiramente queria compartilhar com vocês essa enorme alegria com que vida me presenteia hoje”, abriu Estela a reunião para o anúncio do descobrimento de seu neto. “Esse é um prêmio para nós todos. Eu tenho meus 14 netos comigo (aplausos), a cadeira vazia vai ser ocupada por ele, e os porta-retratos vazios vão ter sua imagem”, festejou a avó do neto 114.

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“Hoje é um dia histórico”, disse a integrante da Associação de Madres de la Plaza de Maio, Taty Almeida.

O garoto é filho de Laura Carlotto, filha mais velha de Estela, sequestrada pela ditadura militar argentina em novembro de 1977, grávida de três meses. No dia 26 de julho de 1978 deu luz a Guido no Hospital Militar de Buenos Aires.

“Eu não sabia que ela estava grávida quando foi sequestrada. (...) Meu neto nasceu ali, onde estava Laura, mas logo saberemos mais detalhes dessa história”, disse confiante Carlotto.

Guido, hoje Ignacio Hurban, tem 36 anos e é músico
Foto: Facebook

A estudante de História da Universidade Nacional de La Plata, pertenceu à Juventude Peronista Universidade. Em agosto de 1977 as forças armadas haviam sequestrado o marido de Estela e pai de Laura, Guido Carlotto, que foi libertado após o pagamento de 40 milhões de pesos. Logo em seguida, levaram Laura, que foi mantida viva no Centro de Detenção Secreto La Cacha, na cidade de La Plata.

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Assassinada poucos dias apos dar à luz, os restos de Laura foram entregues à família no dia 25 de agosto de 1978. A partir de esse evento, a mãe de Laura, Estela de Carlotto, deu início a uma busca incessante por seu neto.

Junto a outras mães de vítimas da ditadura militar, Estela, portando um dos tradicionais lenços brancos cobrindo seus cabelos, se dirigia à Praça de Maio todas às quintas-feiras pela manhã para reivindicar o paradeiro de seus filhos. Em seguida resolveu dirigir sua busca aos bebês nascidos em cativeiro e dados à adoção. Daí nasceu a Associação Abuelas de la Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio).

Guido, hoje Ignacio Hurnan, é músico, está casado e vive em Olavarría, cidade da província de Buenos Aires. O homem, de 36 anos, realizou voluntariamente o exame de DNA que confirmou seu parentesco com  Estela. A notícia confirmada pela juíza, Maria Servini de Cubría, tocou profundamente a avó, que há tantos anos alentava a esperança de encontrar seu neto. “Eu dei a notícia a Estela de Carlotto, que se emocionou muito”, contou Cubría ao jornal La Nación.

“Me disseram que parece com nós, os Carlotto. (...) Acaba de mandar uma mensagem à Claudia (outra filha de Estela) dizendo que estava bem, feliz e que logo nós encontraremos”, contou Estela durante a coletiva de imprensa.

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O primeiro familiar a se manifestar foi o caçula de Estela, Kibo Carlotto, que é também responsável pela pasta de Direitos Humanos da província de Buenos Aires. “Estamos todos bem. O único que pode falar agora sou eu, o resto está com um nó na garganta”, disse em várias declarações feitas aos meios argentinos.

Outras personalidades políticas também se emocionaram com a notícia do encontro do neto número 114. A presidente argentina, Cristina Fernandes de Kirchner, ligou para a presidente de Abuelas aos prantos. “Me ligou Cristina chorando. Estela, Estela! Repetia. Diga-me que é verdade isso o que estão dizendo. E sem poder dizer nada, choramos juntas”, revelou Estela sobre a conversa com a presidente.

Vamos seguir buscando, ainda faltam 400 garotos desaparecidos. Sempre que encontramos algum neto brindamos com champanhe. Eu brindava dizendo que o próximo seria o neto da Estela. Não sei o que vou fazer a partir de agora”, brincou Rosa de Roisinblit, membro da Associação.

Fonte: Especial para Terra
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