O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgou nesta terça-feira a gravação de áudio de uma suposta proclamação de golpe de Estado, que teria sido desarticulado pelas autoridades, na qual um dos responsáveis pede sua renúncia, um documento que, garantiu, foi entregue por escrito por uma funcionária dos Estados Unidos aos "conspiradores" em Caracas.
Maduro disse que o áudio foi gravado por um "patriota voluntário", membro da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb), que manteve uma conversa via Skype com Carlos Osuna Saraco, um "golpista" que vive nos EUA, segundo Maduro.
O chefe do Executivo afirmou em seu programa semanal de rádio e televisão que esta proclamação foi lida de Nova York e que se esperava que fosse divulgada na televisão através do canal americano "CNN en Español" no momento em que o levantamento estivesse em curso.
O chefe do Executivo e vários dirigentes do alto escalão do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) vêm divulgando nos últimos dias as provas de um suposto golpe de Estado organizado nos Estados Unidos, que contaria com o envolvimento de opositores e que contemplaria o assassinato de Maduro através de um ataque aéreo no dia 12 de fevereiro.
Osuna Saraco foi acusado na semana passada de manter conversas telefônicas com o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que está preso acusado de "conspiração", pois o governo afirma que ele está envolvido nesta suposta tentativa de golpe.
"Este senhor vive em Nova York. Vamos solicitar judicialmente ao governo dos EUA este senhor e todos os outros conspiradores", anunciou o presidente venezuelano.
"Se o senhor quer realmente fazer um gesto positivo com a América Latina e o Caribe antes da Cúpula (das Américas), no Panamá, me entregue os golpistas que estão nos EUA", exigiu Maduro ao presidente americano, Barack Obama.
No áudio, gravado no dia 7 de janeiro segundo Maduro, pode-se ouvir um homem, supostamente Osuna Saraco, qualificar o presidente venezuelano de "espúrio e ilegal" e rejeitar uma suposta "ingerência estrangeira" dentro da Fanb.
"Pedimos aos membros do alto comando militar que se coloquem do lado correto da história, que é o da defesa da Constituição, se incorporando de maneira imediata a este movimento", diz a gravação.
A proclamação pede que o movimento "assuma o controle" de diversas instalações militares e ministérios em Caracas e acusa o Executivo de "não ser apenas mais um mau governo, mas um grupo minoritário que abertamente afirma, com descaramento, que só eles governarão".
Maduro apresentou também um texto intitulado 'Medidas imediatas do governo de transição democrática e união nacional. Plano de 100 dias', um documento, disse, "apreendido junto aos violentos que estão presos" e que não veio a público.
"Como isso, temos muitas provas. Isso é um projeto democrático, constitucional?", questionou.
Maduro se dirigiu a Obama para exigir que "abandone seus planos de intervencionismo na Venezuela".
"Suas mensagens são um incentivo para a loucura dos violentos", afirmou.
As relações entre Venezuela e Estados Unidos passam por um de seus momentos mais baixos desde a retirada de embaixadores em 2010, quando Hugo Chávez ainda era o presidente do país caribenho.
No último fim de semana, Maduro ordenou, entre outras coisas, a redução do corpo diplomático da embaixada dos EUA em Caracas para níveis similares aos da missão venezuelana em Washington, que conta com 17 funcionários. A porta-voz adjunta do Departamento de Estado, Marie Harf, disse hoje que os EUA responderão a essa solicitação pela "via diplomática".
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