Milhares de apoiadores de Hugo Chávez continuam chegando à longa fila em frente à Academia Militar para ver o governante morto. Muitos gritam palavras de ordem a favor do presidente interino, Nicolás Maduro, que ontem afirmou que o corpo do líder venezuelano ficará no Panteão Nacional.
"Chávez, eu juro, meu voto é de Maduro!", repetia hoje um grupo de partidários na fila, que, seis dias depois de começar o velório na Academia Militar de Caracas, se estende por mais de 3,5 quilômetros com venezuelanos chegados de todos os Estados do país.
Os rostos, no entanto, estão mais animados que nos primeiros dias após a morte de Chávez, no último dia 5, quando só havia lágrimas. Agora há postos de vendedores ambulantes, música e uma atmosfera de pré-campanha eleitoral para as eleições de 14 de abril.
Ontem, Maduro afirmou que nas próximas semanas será aprovada uma emenda constitucional para que o corpo de Chávez possa ser levado ao Panteão Nacional, sem esperar as comemorações dos 25 anos da Constituição.
O governo já havia informado dias atrás, que na próxima sexta-feira o caixão com os restos de Chávez seria levado ao Panteão Nacional, onde está o sarcófago de Simón Bolívar. "Chávez no Panteão, junto a Simón", disse Maduro, rimando em espanhol.
Na fila, no entanto, o tema principal era o do confronto político depois que ontem o líder opositor, Henrique Capriles, acusou Maduro de ter mentido sobre a saúde de Chávez e se perguntou em que momento o governante realmente morreu.
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"Capriles, queremos te fazer um apelo. Basta de grosserias, já basta de falta de respeito com esse povo, não nos provoque", disse à Agência Efe Ismaris Tellerías, de 32 anos e do estado Carabobo, ao manifestar que estava "indignada" pelas declarações do líder opositor.
Ao longo da fila, vários telões transmitiam hoje o discurso de Maduro após formalizar pela manhã sua candidatura para as eleições de 14 de abril, momento em que pediu aos chavistas para tentarem obter os 10 milhões de votos que Chávez pediu na campanha passada e não obteve.
"Poderemos cumprir, agora sim, a meta dos 10 milhões?", perguntou Maduro à multidão que o acompanhou para inscrever sua candidatura em eleições presidenciais que acontecerão seis meses depois que Chávez ganhou as eleições presidenciais de 7 de outubro com 8,1 dos 15,1 milhões de votos emitidos.
"Temos que seguir e apoiar ao camarada Nicolás Maduro porque ontem à noite vi as declarações desse infame do Capriles", disse Alirio Infante, com o programa do governo de Chávez na mão. Outros seguidores pediram punições para Capriles por ter supostamente "ofendido" o "povo" e os parentes de Chávez com suas palavras.
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"Capriles que vá embora. Em 14 de abril (ele) morre politicamente. E, por todas as grosserias que disse ontem à noite, merece a prisão, merece ficar preso, merece prisão perpétua", disse à Efe Yeini Soto da longa fila. Ao lado de Yeini, já há outra filas, mas de vendedores de camisetas, bonés, chaveiros, cartazes, fotos, xícaras e bandeiras, entre outras lembranças com o rosto de Chávez.
Maritza Scott, vendedora de camisetas e cartazes, disse à Efe que foi para o local no mesmo dia em que começou o velório, na quarta-feira passada, e que conseguiu vender "bastante". No entanto, a vendedora confessou que recebeu críticas por parte de muitos chavistas incomodados pelo que consideraram lucro sobre a morte do "comandante". Hoje outros chavistas viviam o luto de outra maneira, ouvindo músicas interpretadas pelo próprio Chávez ou com a trilha sonora da campanha passada enquanto esperavam para ver o líder.
A caminhada fica menos árdua, além disso, com postos de comida e bebida que o governo dispôs, enquanto o espírito chavista é reforçado pelos telões distribuídos por toda a área. Menos de uma semana depois da morte de Chávez, nos telões era possível ouvir hoje Maduro pedindo votos para poder continuar com a "Revolução Bolivariana" do governante morto.
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Milhões de venezuelanos foram às ruas de Caracas na quarta-feira durante o cortejo fúnebre do presidente Hugo Chávez. Outras milhares de pessoas acompanham - aguardando em filas longuíssimas - o seu velório, que deve se estender até o final da próxima semana. Ao longo da história, poucos foram os líderes políticos mundiais que conseguiram atrair grandes multidões para se despedirem deles, veja a seguir alguns deles
Foto: AFP
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Estima-se que cerca de três milhões de pessoas acompanharam o funeral do aiatolá Khomeini, em Teerã, em 1989. O religioso liderou o Irã após a revolução de 1979
Foto: AFP
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Acredita-se que entre 2 e 4 milhões de pessoas acompanharam o funeral do papa João Paulo II no Vaticano e em Roma no dia 8 de abril de 2005
Foto: AFP
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Apesar de não ser possível estimar quantas pessoas compareceram ao funeral do líder norte-coreano Kim Jong-il em 28 de dezembro de 2011, em Pyongyang, imagens de veículos oficiais do país mostravam centenas de milhares de pessoas, talvez milhões, acompanhado os serviços fúnebres
Foto: AFP
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Estima-se que cerca de 1,5 milhão de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre do ex-primeiro-ministro turco Necmettin Erbakan em Istambul no dia 1º de março de 2011. Erbakan, o primeiro islamita a ser premiê turco, ocupou o cargo por apenas um ano, entre 1996 e 1997, quando pressionado por militares a deixar o cargo e posteriormente foi proibido de disputar cargos políticos. No entanto, apesar da brevidade de seu regime, ele é considerado o mentor de lideranças com raízes islâmicas no país
Foto: AFP
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Uma das maiores concentrações de pessoas em um funeral na história aconteceu durante as cerimônia fúnebres para o presidente egípcio Gamel Abdel Nasser, no Cairo, em 28 de setembro de 1970. Acredita-se que cerca de 5 milhões de pessoas se mobilizaram para se despedir do líder, o mais carismático da história moderna do Egito
Foto: AFP
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Considerada a "mãe dos pobres" argentinos, Eva Perón atraiu multidões para o seu funeral em Buenos Aires em agosto de 1952. O corpo de Evita, como era conhecida a segunda mulher do presidente Juan Perón, foi embalsamado e passou três exposto à visitação pública
Foto: AFP
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Um mar de indianos acompanhou o funeral do líder do partido nacionalista hindu Shiv Sena, Bal Thackeray, em 18 de novembro de 2012, em Mumbai. Apesar de polêmico e ter sido acusado de promover violência étnica e religioso, Bal Thackeray era extremamente popular. Seu funeral atraiu cerca de 2 milhões de pessoas
Foto: AFP
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A maior aglomeração para um funeral de um presidente americano recente aconteceu para a despedida de John F. Kennedy, em novembro de 1963. Estima-se que pelo menos 300 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre e 250 mil entraram em fila para o ver o corpo. Em comum a Chavez, acredita-se que pessoas chegaram a esperar mais de 10h para se despedir de Kennedy, que foi morto quando ocupava a Casa Branca
Foto: AFP
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Uma das maiores reuniões da história do Reino Unido ocorreu em razão do funeral do primeiro-ministro Winston Churchill em Londres, em 30 de janeiro de 1965. Churchill foi o líder do país durante a Segunda Guerra Mundial e depois nos anos 50
Foto: Getty Images
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Acredita-se que cerca de 1 milhão de pessoas acompanharam o funeral do líder chinês Mao Tsé-Tung na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em setembro de 1976
Foto: AP
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Multidão de pessoas se reúne nos arredores da Catedral de Notre Dame, em Paris, para o velório do presidente francês Charles de Gaulle, em 12 de novembro de 1970. Centenas de milhares de pessoas acompanharam os serviços fúnebres do líder que comandou a França durante e após a Segunda Guerra Mundial. A maior mobilização do tipo para um líder político da história do país
Foto: AP
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Centenas de milhares de argentinos se reuniram em frente à Casa Rosada, palácio presidencial em Buenos, para se despedir de Nestor Kirchner em 28 de outubro de 2010. O corpo foi exposto para visitação por mais de 24 horas