Morte de Chávez deixa Cuba "órfã" de aliança com Venezuela

Regime Castro se beneficiou do petróleo venezuelano e depende de manutenção do Chavismo

6 mar 2013 - 15h39
(atualizado às 16h03)
<p>Em foto de 2011, Chávez aparece lendo o jornal Granma ao lado de Fidel</p>
Em foto de 2011, Chávez aparece lendo o jornal Granma ao lado de Fidel
Foto: AFP

A morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciada na terça-feira, deixou o governo cubano "órfão" de uma de suas parcerias mais importantes e apreensivo em relação aos rumos do país aliado, avaliam especialistas ouvidos pelo Terra. Isso porque, durante a presidência de Chávez, Cuba - que sofre até hoje as consequências do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos - se beneficiou diretamente do fornecimento do petróleo venezuelano, cuja manutenção depende de quem sair vitorioso das eleições marcadas para ocorrer daqui a 30 dias no país: ou o vice-presidente Nicolás Maduro, que deve manter a aliança forte com a ilha; ou o líder da oposição Henrique Capriles, que perdeu a disputa para Chávez no ano passado, mas já anunciou a intenção de se reaproximar com o governo americano.

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Chávez morreu aos 58 anos, após lutar por dois anos contra um câncer. Amigo pessoal de Fidel Castro, o presidente venezuelano recebeu tratamento médico em Cuba desde que descobriu o diagnóstico, país que garantiu a discrição que ele queria em relação à doença. Em nota publicada em sua página oficial, o governo cubano lamentou "profundamente" a notícia da morte do "amigo" e decretou luto oficial no país.

"Cuba certamente será muito afetada se a oposição ganhar a eleição venezuelana. Venezuela vem abastecendo Cuba com o petróleo há anos, e o país é dependente da Venezuela no que tange a energia. Se o Capriles ganhar, ele já disse que faria uma mudança nas relações internacionais, a começar pela reaproximação com os Estados Unidos. Se Maduro vencer, ele deve construir uma relação com Cuba, e eu digo construir porque a relação entre Chávez e Fidel Castro era pessoal, de admiração e amizade. Mas de qualquer forma, é uma perda para Cuba, que agora vive com incerteza", avaliou Regiane Nitsch Bressan, doutora em América Latina pela Universidade de São Paulo.

O tema já despertou a atenção da imprensa internacional, que em reportagens publicadas nesta quarta-feira analisaram o impacto da morte de Chávez sobre a ilha. Para o jornal espanhol El País, assim como os Estados Unidos - considerados pelo líder venezuelano como "inimigos" -, o regime cubano aguarda com apreensão o resultado das urnas. "O falecimento de Chávez (...) deixa órfão o regime cubano, beneficiário privilegiado do petróleo venezuelano", definiu a publicação europeia, em editorial.

"O líder cubano (em referência ao ex-presidente Fidel Castro), que há tempos vê o petróleo da Venezuela como uma ferramenta chave de sustentação de seu regime, (...) achou em Chávez o que procurava há décadas: um poderoso e incondicional aliado na América Latina", ressaltou o britânico The Economist, que em longa reportagem listou a troca de favores entre os países ao longo dos 14 anos de Chavismo. "Em troca de um fortíssimo subsídio de petróleo, Cuba disponibilizou ao governo venezuelano milhares de médicos e treinadores esportivos. O serviço secreto de Cuba também protegeu Chávez: ele nunca mais seria pego desprevenido em protestos nas ruas", continua a revista inglesa, lembrando a amizade iniciada entre Fidel e Chávez em 1994.

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"Uma das marcas mais fortes do governo de Chávez foi justamente a aproximação com a Cuba, que praticamente obteve de 'mão beijada' o petróleo da Venezuela", lembrou o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília.

"A vitória da oposição muda completamente o perfil do governo da Venezuela, especialmente das relações internacionais. (...) Se eleito, o Maduro possivelmente vai manter as políticas sociais de Chávez, mas dando outra visão e roupagem ao governo. (...) Qualquer um que assuma a presidência tem o desafio de melhorar a produtividade da empresa estatal de petróleo", avaliou a professora Denilde Holzhacker, coordenadora do curso de relações internacionais das Faculdades Rio Branco.

Fonte: Terra
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