Os EUA podem realmente invadir a Venezuela?

Representantes do governo americano deram, nesta semana, sinais mais evidentes sobre a possibilidade de uma ação militar no país sul-americano.

5 mai 2019 - 16h19
(atualizado às 16h51)
O presidente Donald Trump repetidas vezes declarou seu apoio a Juan Guaidó
O presidente Donald Trump repetidas vezes declarou seu apoio a Juan Guaidó
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os Estados Unidos deram novo impulso às ameaças de uma ação militar na Venezuela, agora de forma mais explícita do que os avisos repetidos de que "todas as opções estão na mesa" na conduta de Washington sobre Caracas.

Com Nicolás Maduro ainda no poder na Venezuela, um dia depois de seus opositores terem convocado um levante para derrubá-lo, os EUA encararam a crise no país sul-americano como um assunto prioritário.

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Embora o discurso geral seja o de que Washington prefere que Maduro deixe o poder em uma transição pacífica, representantes da cúpula da Casa Branca fizeram nos últimos dias declarações mais abertas sobre a possibilidade de uma invasão militar da Venezuela.

"A ação militar é possível. Se isso for necessário, é o que os Estados Unidos farão", afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao canal Fox Business.

Ele acrescentou que "o presidente (Donald Trump) finalmente terá que tomar essa decisão e está preparado para fazê-lo se for necessário".

Mike Pompeo e John Bolton (ao fundo) têm se posicionado ativamente sobre a Venezuela nos últimos episódios da crise no país sul-americano
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que os militares devem estar "prontos" para atuar na Venezuela, se preciso.

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O Pentágono negou que tenha ordens para uma ação militar naquele país, mas o secretário interino de Defesa dos EUA, Patrick Shanahan, precisou cancelar no fim de abril uma viagem à Europa para "coordenar efetivamente" com as equipes de Bolton e Pompeo sobre a Venezuela e a fronteira com o México, de acordo com um porta-voz.

"Fizemos um planejamento minucioso (em relação à Venezuela), de forma que não haja situação para a qual não tenhamos nos preparado", disse Shanahan em uma audiência no Congresso.

Então, tudo isso significa que Washington está de fato mais perto de enviar tropas para a Venezuela?

Não necessariamente, dizem especialistas.

Maior pressão

O que Washington busca é convencer os militares venezuelanos a apoiarem Juan Guaidó, líder da oposição e autoproclamado presidente interino, segundo explica Alan McPherson, professor de História e diretor do Centro de Estudos sobre Força e Diplomacia na Universidade Temple, nos Estados Unidos.

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"Parece que não funcionou ontem, mas acho que o Departamento de Estado está usando uma linguagem mais forte em suas advertências para pressionar mais pessoas", disse McPherson à BBC.

Na opinião de McPherson, o Pentágono é relutante sobre uma intervenção militar na Venezuela, mas Trump pode fazê-lo apesar das importantes consequências que isso pode ter no tabuleiro da América Latina - como a acusação, por países aliados na região, de que a intervenção americana seria ilegal.

De fato, o militar de mais alta patente dos EUA, o general Joseph Dunford, afirmou que o Pentágono está focado em reunir informações sobre a Venezuela por meio de seus serviços de inteligência.

Segundo o jornal americano Washington Post, a questão causou atrito entre o Pentágono e a equipe de John Bolton. Na semana passada, o general Paul Selva, segundo militar mais graduado do país, teria ficado furioso com os conselheiros de Bolton, que o pressionaram por ações militares na Venezuela.

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Os EUA têm procurado enfraquecer Maduro com sanções econômicas e com a formação de uma coalizão de dezenas de países, incluindo o Brasil, que reconhece Guaidó como o líder legítimo da Venezuela e qualifica Maduro como ditador.

Washington também pediu aos militares venezuelanos que apoiem Guaidó.

Nicolás Maduro tem o apoio dos principais chefes militares da Venezuela
Foto: AFP / BBC News Brasil

Mas Maduro permanece no poder em meio a uma enorme crise política e econômica, com o apoio dos principais comandos das Forças Armadas da Venezuela. Rússia e China também apoiam seu governo.

Isso parece frustrar os EUA, que, segundo analistas, podem levar a rupturas na coalização em torno de Guaidó a depender do rumo que tomar.

Por esses riscos, as declarações de Pompeo ou Bolton têm termos "vagos" sobre quando ou como uma ação militar aconteceria, destaca McPherson.

"Não acho que eles estão mentindo", diz, "mas estão enviando um aviso de que estão se aproximando dessa decisão".

O fator Rússia

Washington também parece estar enviando recardos mais firmes para a Rússia sobre a Venezuela.

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Em março, o envio de aviões militares russos a Caracas foi encarado pelos americanos como uma afronta à sua influência na região.

Pompeo disse nesta terça-feira que Maduro estava pronto para deixar a Venezuela, mas desistiu de fazê-lo a pedido da Rússia, que negou essa versão.

No início da semana, Pompeo telefonou para o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, e disse que "a intervenção da Rússia e de Cuba está desestabilizando a Venezuela e as relações bilaterais EUA-Rússia", disse um porta-voz do Departamento de Estado.

A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, rechaçou que seu país tenha tido influência nas últimas decisões de Maduro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas o Ministério das Relações Exteriores da Rússia emitiu uma declaração onde afirmou que "a interferência de Washington nos assuntos internos de um Estado soberano, a ameaça contra sua liderança, é uma violação grave do direito internacional".

"Indica-se que a continuação desses passos agressivos viria acompanhada de consequências mais sérias", acrescentou o texto russo.

Kimberly Marten, professora do Barnard College da Universidade de Columbia University e especialista em segurança internacional e na Rússia, acredita que Washington e Moscou buscam firmar suas posições na Venezuela.

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"O perigo é que isso possa chegar a um ponto em que os EUA vão ceder ou iniciar operações militares, o que seria uma tragédia", disse Marten à BBC.

"Podemos esperar que ambas as partes tentem, em vez disso, usar essa jogada simplesmente para fomentar suas reivindicações em direção a uma solução pacífica", acrescenta, "e para que as cabeças mais frias prevaleçam".

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