Paraguai quer que Brasil devolva canhão de guerra de 1867

Canhão caiu nas mãos do exército brasileiro, que durante a guerra também tomou controle do arquivo nacional do Paraguai

14 nov 2014 - 12h56

O início da Guerra do Paraguai (1864-1870) completou 150 anos nesta quinta-feira e, apesar de ter recuperado boa parte do espólio do conflito, o país ainda luta para ter de volta o canhão de Cristiano, considerado um espinho cravado no coração dos paraguaios.

A peça de bronze de 10 toneladas, que está no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e que o governo federal não quer devolver ao país vizinho, é uma das centenas de troféus confiscados por Brasil, Argentina e Uruguai, que integraram a chamada Tríplice Aliança que venceu o conflito iniciado em 13 de novembro de 1864.

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O canhão, batizado por causa dos sinos das igrejas que foram utilizados como material para sua fundição, finalizada em 1867, foi fabricado após uma campanha do governo paraguaio para atender às necessidades bélicas do país.

Com a tomada da Fortaleza de Humaitá, o canhão caiu nas mãos do exército brasileiro, que durante a guerra também tomou controle do arquivo nacional do Paraguai.

No entanto, o arquivo, composto de cerca de 50 mil documentos datados desde o período colonial paraguaio, foi devolvido na década de 80.

"Talvez para o Brasil (o canhão) simbolize o sacrifício de seus soldados. Pareceu que a entrega seria feita durante o governo Lula, mas acabou não ocorrendo", disse à Agência Efe o historiador Eduardo Nakayama.

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Nakayama lembrou que o Brasil foi o último dos participantes da guerra a devolver todo o espólio do conflito e perdoar a dívida imposta pelos vencedores.

"Em 1885, o presidente do Uruguai, general Máximo Santos, devolveu uma série de troféus de guerra, canhões, bandeiras e móveis. Foi o primeiro país a perdoar também a dívida de guerra", explicou.

A Argentina levou tempo para seguir o exemplo uruguaio. Só em 1942 o então presidente Ramón Castillo resolveu esquecer os débitos paraguaios.

Já em 1954, o general Juan Domingo Perón ordenou a devolução dos espólios de guerra. Mas só em junho deste ano a atual presidente, Cristina Kirchner, entregou alguns móveis que tinham sido expropriados durante a disputa.

O governo brasileiro perdoou a dívida paraguaia em 1943, por ordem do presidente Getúlio Vargas, mas só devolveu os arquivos, conhecidos como a "coleção Rio Branco", em 1981. Os documentos são considerados de valor incalculável por conterem grande parte da história do Rio da Prata e seguem cercados de polêmica.

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Acredita-se que o exército brasileiro se apoderou de grande parte do arquivo em agosto de 1869, após a Batalha de Piribebuy. A outra parte teria sido encontrada em Assunção, durante o grande saque ocorrido na capital do país a partir de janeiro de 1869.

"Não se deixou pedra sobre pedra. O comando brasileiro não pôde conter suas tropas, que desenterraram até os caixões do cemitério de Recoleta", explicou Nakayama.

Outra das dúvidas em torno dos arquivos é se o Brasil os devolveu na totalidade. Existem suspeitas no Paraguai de que o governo ficou com documentos comprometedores sobre sua atuação na guerra, que matou quase a metade da população paraguaia.

"O Brasil não reconhece que tem essa parte do arquivo, mas, por declarações de alguns funcionários, acredita-se que eles estão em poder do país", destacou Nakayama.

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Em março de 2013, o então presidente do Paraguai, Federico Franco, reivindicou esses hipotéticos documentos, que no Paraguai passaram a ser chamados de "arquivo secreto" da Tríplice Aliança.

Em seu discurso no Dia dos Heróis, o ex-chefe do Executivo paraguaio pediu também a devolução do canhão Cristiano.

Sem minimizar a importância de uma possível restituição do objeto simbólico, Nakayama destacou que nada poderá ressarcir o Paraguai das perdas do conflito.

"A guerra foi devastadora para o Paraguai em todas as ordens. O país perdeu milhares de quilômetros de território e muitas vidas", afirmou.

  
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