O incidente diplomático enfrentado pelo presidente boliviano Evo Morales na Europa, impedido de entrar no espaço aéreo de diversos países pela suspeita de transportar Edward Snowden, causou imediata reação de repúdio de lideranças sul-americanas.
Por meio de suas páginas no Twitter, os presidentes da Argentina e do Equador, Cristina Kirchner e Rafael Correa, declararam solidariedade a Morales e pediram a convocação de uma reunião extraordinária da Unasul (União das Nações Sul-Americanas, da qual o Brasil é membro) para estudar medidas a respeito.
Em entrevista para a rede venezuelana Telesur, o secretário-geral da Unasul, Alí Rodríguez Araque, não confirmou a reunião, mas manifestou que a entidade considerou "absurda" a atitude de países como França, Portugal, Itália e Espanha ao negarem acesso aos seus espaços aéreos e permissões para pousos, colocando a vida de Morales em risco.
"O absurdo é que os afetados com as revelações de Snowden são os países europeus, especialmente a França, mas, ao invés de atuarem contra os Estados Unidos, preferiram atuar contra a Bolívia, que é um país soberano. É um caso verdadeiramente absurdo e indignante e não pode ser considerado normal", classificou Araque.
Presidentes protestam no Twitter
Em sua conta no Twitter, a presidente argentina Cristina Kirchner explicou detalhadamente como tomou conhecimento do incidente com Morales, através de um telefonema do presidente equatoriano Rafael Correa.
"21h46, me avisam que o presidente Correa está ao telefone. 'Rafael? Me passe'. 'Olá Rafael, como está?'. Ele respode angustiado: 'não sabe o que aconteceu?'. 'Não, o que aconteceu?', eu pergunto distraída. Raro, porque sempre estou atenta... E vigilante. Mas havia acabado de terminar uma reunião. 'Cristina, detiveram Evo em seu avião e não o deixam sair da Europa'. 'Como? Evo detido?'. Imediatamente me veio à mente sua última fotografia, na Rússia, com Putin, Maduro (presidentes, respectivamente, russo e venezuelano) e outros chefes de Estado. 'Mas o que aconteceu, Rafael?'. 'Vários países o negaram permissão de voo e está em Viena', me explica. Rafael disse que vai imediatamente chamar Ollanta Humala (presidente do Peru) para uma reunião da Unasul", descreveu Cristina em uma série de postagens.
Na sequência, ela conta que falou com Morales: "ligo para Evo. Do outro lado da linha, sua voz me responde tranquila: 'oi companheira. Como está?'. Ele pergunta para mim como estou! E conta a situação: 'estou aqui, em um salãozinho de aeroporto. Não vou permitir que revistem meu avião, não sou um ladrão'. Perfeito! Força, Evo! 'Deixe-me chamar a chancelaria. Quero ver a jurisdição, tratado e tribunal a qual recorrer. Te volto a ligar'. 'Obrigado, companheira!'".
Por fim, a mandatária argentina expressa sua revolta: "definitivamente estão todos loucos. Chefe de Estado e seu avião têm imunidade total, pelo Tribunal de Haia. Não pode haver esse grau de impunidade. Se a Áustria não o deixa sair e quer revistar o avião, podemos apresentar uma carta à Corte Internacional de Haia e pedir uma medida cautelar".
Cristina conta, ainda, que conversou com o presidente uruguaio, José Mujica, e esse se diz "indignado". Acreditando que a reunião da Unasul acontecerá nesta quarta-feira, ela encerra a série de postagens dizendo: "amanhã vai ser um dia longo e difícil".
Outro presidente a se manifestar nas redes sociais foi o próprio Correa, que pediu união para a América Latina em apoio a Evo.
"Incrível! Negam ingresso ao espaço europeu para o avião de Evo Morales. E depois nos falam de parcerias? Nossa América não pode tolerar tanto abuso! É algo extremamente grave. Precisamos tomar medidas sobre essa afronta. Como pisoteiam o direito internacional! Horas decisivas para Unasul: ou seremos colônias ou vamos reivindicar nossa independência, soberania e dignidade. Todos somos Bolívia!", escreveu Correa.
O líder equatoriano ainda atacou veículos de imprensa internacionais, como o The Guardian, que teriam publicado entrevistas suas de forma "descontextualizada".
O avião oficial boliviano partiu de Moscou na terça-feira à tarde rumo à Bolívia. Quando se aproximava da França, foi informado que não poderia entrar no espaço aéreo do país. Após negativas de outras nações, decidiu aterrissar em Viena, explicaram fontes bolivianas.
Os Estados Unidos suspeitam que a aeronave esteja transportando Edward Snowden, ex-consultor da CIA que denunciou um esquema de espionagem internacional organizado por Washington.