O promotor argentino encontrado morto no mês passado era um "soldado" involuntário do ex-chefe de contrainteligência Antonio Stiusso, que buscava vingança por ter sido demitido, declarou o chefe de gabinete da presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
Aníbal Fernández disse à Reuters na noite de quinta-feira que anos atrás já estava claro que Stiusso era quem dava as cartas no relacionamento com o promotor Alberto Nisman, que investigava o atentado a um centro comunitário judeu em Buenos Aires em 1994.
Nisman foi encontrado numa poça de sangue com um tiro na cabeça em 18 de janeiro, dias depois de apresentar um documento de 300 páginas acusando Cristina de tramar para acobertar suas descobertas provando que o Irã apoiou o ataque.
Mas o chefe de gabinete de Cristina afirmou estar claro que o documento não foi escrito por alguém conhecedor da legislação.
"Estou convencido de que Nisman não redigiu as acusações", disse Fernández numa entrevista em seu escritório dentro da Casa Rosada, a sede do governo, na quinta-feira. "Em seu papel de soldado no Exército de Stiusso, ele acabou assinando."
Fernández lembrou um encontro com Nisman em 2006 a propósito da relutância do promotor em viajar para uma reunião com a polícia internacional (Interpol). Stiusso também estava presente. "Você percebia quem era o comandante e quem era o comandado", declarou.
Stiusso era um dos agentes mais poderosos, e ainda assim mais enigmáticos, do Secretariado de Inteligência. Embora tenha tido uma carreira de 42 anos, só se conhece uma foto do pai de dois filhos divorciado.
Ele foi demitido em dezembro. Fontes próximas da agência e do governo dizem que Cristina estava em conflito aberto com facções de sua própria agência de espionagem há dois anos, na esteira de uma mudança nas relações com o Irã que se seguiu a um acordo no qual ela pediu ajuda do país para investigar o atentado de 1994.
VINGANÇA
O Irã nega vigorosamente qualquer envolvimento no ataque, e Cristina rotulou as descobertas de Nisman de absurdas. Ela disse que Nisman foi dopado por agentes rebeldes e morto quando deixou de ter valor para eles.
"Não tenho dúvida de que isto é parte da vingança de Stiusso por ter sido tirado da agência de inteligência... uma organização que ele achava pertencer a ele", opinou Fernández.
Investigadores confirmaram nesta semana ter encontrado o esboço de um mandado de prisão contra a presidente escrito por Nisman há meses, sugerindo que ele estava convencido de que ela havia planejado para frustrar suas investigações muito antes da demissão de Stiusso.
Promotores não conseguiram localizar Stiusso na quinta-feira para ser interrogado. Autoridades de alto escalão não sabem nem mesmo se ele está no país.
O governo da Argentina adotou a medida incomum de suspender as leis de confidencialidade para permitir que os investigadores interroguem Stiusso.
"Ele deveria falar e contar tudo que quiser", afirmou Fernández. "Se prejudicar alguém, que seja."
Mesmo assim, ele garantiu que a presidente está tranquila.
"A acusação de Nisman não lhe causou um momento de preocupação."