Soldados venezuelanos bloquearam estudantes durante marchas de protesto contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta quinta-feira, enquanto manifestantes pró-governo também caminharam no aniversário das manifestações de 2014 que resultaram em 43 mortes.
Soldados da Guarda Nacional e da polícia usaram gás lacrimogêneo na cidade de San Cristóbal, no oeste do país, contra manifestantes estudantis que arremessavam pedras e coquetéis molotov.
Cinco integrantes das forças de segurança e três manifestantes ficaram feridos no enfrentamento, e quatro estudantes foram detidos, de acordo com testemunhas e autoridades.
Em Caracas, soldados bloquearam uma multidão de estudantes numa marcha não autorizada até uma igreja onde os manifestantes planejavam realizar uma missa em homenagem aos mortos nos protestos do ano passado. Sem conseguirem chegar ao local, um padre foi ao encontro deles e fez uma breve oração do lado de fora.
Também na capital, milhares de manifestantes pró-Maduro, sucessor do ex-líder socialista Hugo Chávez, morto em 2013, realizaram uma manifestação rival bem maior.
Com as lembranças de quase quatro meses de confrontos no ano passado, quando milhares de manifestantes tomaram as ruas para cobrar a renúncia de Maduro e protestar contra a crise econômica no país, alguns moradores de Caracas decidiram ficar em casa para evitar confusão.
"Estamos marchando pacificamente para homenagear aqueles que caíram", disse Fabio Valentini, de 21 anos, estudante pró-oposição da Universidade Católica Andres Bello, que também estava nas ruas no ano passado quando as primeiras vítimas foram mortas a tiros.
"A Venezuela está hoje numa situação muito pior do que no ano passado. A economia está em crise. O crime está pior. Nosso objetivo não é derrubar o regime, mas cobrar direitos e mudanças em políticas fracassadas."
Maduro afirma que radicais de oposição tentaram aplicar um golpe em 2014 e ainda têm a mesma ambição, inclusive por meio de uma "guerra econômica".
Os venezuelanos sofrem com uma escassez de produtos básicos e precisam enfrentar longas filas, inflação alta e uma recessão exacerbada pela queda na receita obtida com a exportação do petróleo devido à baixa no preço da commodity.
"Os preços do petróleo vão subir de novo e nós vamos ficar bem", disse Javier Castillo, de 20 anos, estudante da Universidade Bolivariana, que estava dançando e cantando ao lado de milhares de pessoas no protesto pró-Maduro na Praça Venezuela.
"Nós da esquerda somos pessoas de paz, felicidade e harmonia. Aqueles de extrema direita são os que buscam violência. Vamos deixar os filhinhos de papai e mamãe virem aqui e ver a alegria."
Governo e oposição trocam acusações pelas mortes de 2014. Membros das forças de segurança, apoiadores de Maduro e manifestantes estão entre as vítimas.
Entenda a crise na Venezuela: inflação, desabastecimento, violência e mais