A distribuição de maconha em farmácias, legalizada em dezembro de 2013 no Uruguai, vai começar no ano que vem pois implementá-la apresenta problemas de ordem prática, disse nesta quarta-feira o presidente José Mujica em entrevista à AFP.
A venda direta de maconha aos consumidores "vai para o ano que vem, e apresenta dificuldades práticas", afirmou o presidente, acrescentando ser inevitável levar adiante o processo lentamente para que tudo seja bem feito.
Mujica admitiu que o fato de a implementação da venda controlada de maconha começar um pouco antes ou junto com a mudança de governo é uma dificuldade.
"Se quisermos fazer tudo de qualquer jeito, é moleza. Assim como os Estados Unidos estão fazendo", afirmou.
"Se tivermos pressa e fizermos errado, teremos problemas. Para nós, não é tirar a responsabilidade de nós e que o mercado se ajeite. O mercado, se deixarmos, vai tentar vender a maior quantidade possível de maconha".
Mujica, um ex-guerrilheiro de 79 anos, conquistou o mundo com um discurso simples, uma vida austera e um forte questionamento ao consumismo, mas foi a legalização da maconha que aumentou sua popularidade internacional nos últimos anos.
A lei que regulamentou o mercado da maconha no Uruguai, aprovada em dezembro passado, deixou nas mãos do Estado a tarefa de controlar toda a cadeia produtiva, da importação de sementes à venda da substância nas farmácias.
Só maiores de 18 anos inscritos em um registro e residentes no Uruguai poderão comprar até 10 gramas de maconha por semana (até o teto de 40 gramas mensais) ao preço de 20 a 22 pesos por grama (US$ 0,9 dólar).
"Acho que deve ser feito um estudo muito metódico, por isso estamos demorando. Há muita coisa para resolver, como ter um software que funcione e que dê resposta tecnológica para o que for preciso", explicou.
"E há outra pressão. Nos Estados Unidos a droga está sendo liberada com um grau de irresponsabilidade que assusta", acrescentou o presidente em referência à quantidade de estados norte-americanos que autorizam o uso da maconha para fins terapêuticos.
Para Mujica, principal incentivador da inédita lei, "há muita novidade na polêmica e no interesse mundial que ela tem gerado".
"O que nós propomos não é o aumento do consumo. Tem gente que considera que qualquer um tem a liberdade para 'dar um tapa' (consumir a droga) e ficar com os olhos dilatados. Isso não tem nada de moderno, isso sempre existiu e é um perigo da tolice humana", defendeu.
"Mas se a mantenho (a maconha) como um mistério, esta será a maior isca para fisgar os jovens (...) porque tudo o que é proibido atrai", afirmou.
O presidente destacou que se o projeto, que ele mesmo classifica como experimental, fracassar, "será preciso recuar, como em qualquer situação da vida."
O governo pretende lançar neste mês uma convocação para a plantação de cinco hectares de maconha legal, metade da demanda estimada, na primeira etapa de implementação da lei.
Segundo os cálculos oficiais, seriam necessárias entre 18 e 22 toneladas anuais de maconha para abastecer o mercado estimado de 150 mil consumidores.