Um desfile e uma cerimônia no quartel onde jaz o cadáver de Hugo Chávez, com a presença de quatro presidentes aliados, marcam nesta quarta-feira as celebrações do aniversário da morte do líder em uma Venezuela abalada por um mês ininterrupto de violentos protestos.
Um ano após a morte do "Comandante Supremo", o rosto ou os olhos do carismático líder acompanham os venezuelanos nas ruas e edifícios de cada canto do país com as maiores reservas petrolíferas mundiais.
Mas a Venezuela dirigida pelo herdeiro de Chávez, o presidente Nicolás Maduro, está há semanas em alerta por uma onda de protestos que o governo classifica de golpe de Estado e que deixaram 18 mortos, 260 feridos e dezenas de denúncias de violações de direitos humanos.
O cubano Raúl Castro, o boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega e o surinamês Desi Bouterse participam de um dia que terá como destaque a estreia mundial pela televisão, e em cadeia obrigatória, do documentário "Mi Amigo Hugo" (Meu Amigo Hugo), do cineasta Oliver Stone.
"Vamos estreá-lo em cadeia nacional às 21h00 locais (22h30 de Brasília) para que toda a Venezuela o veja, para que (o venezuelano) que estiver no povoado mais distante (...) possa ligar sua televisão e ver a estreia mundial", disse Maduro.
No entanto, os protestos antigovernamentais não acabam na celebração da morte do homem que, em seus 14 anos como presidente, despertou paixões irreconciliáveis em um país hoje dividido ao meio.
"Estamos mais unidos do que nunca, lutando pela justiça, em batalha permanente e rumo à vitória popular", escreveu nesta quarta-feira o vice-presidente Jorge Arreza, genro de Chávez.
"O governo está estável, embora não tão forte como há um ano", explicou à AFP o analista e professor da Universidade Central Carlos Romero, acrescentando que, de qualquer forma, "não há um contrapoder com peso suficiente para transitar para outro regime".
Algumas ruas de Caracas e de outras cidades amanheceram nesta quarta-feira bloqueadas com barricadas e no distrito opositor de Chacao (epicentro dos protestos na capital) os estudantes foram dispersados com gás lacrimogêneo por efetivos da Polícia Nacional, constataram jornalistas da AFP.
A líder estudantil Gabriela Arellano convocou um protesto no setor Leste e Caracas, reduto do antichavismo. "Ninguém vai tirar a vontade de um povo das ruas!", escreveu Arellano no Twitter.
Já a deputada María Machado, uma das ideólogas de "A Saída", a tática de ocupar as ruas para forçar a renúncia do governo, anunciou que participará de um protesto em San Cristóbal, no estado de Táchira, oeste do país, onde a tensão é mais palpável.
As manifestações começaram há um mês quando os estudantes protestaram pela insegurança em San Cristóbal depois de uma tentativa de estupro em um campus, e os protestos se estenderam a todo o país, encorajados por altas taxas de homicídios, de inflação e pela escassez recorrente de bens básicos.
As cerimônias começarão com um desfile cívico-militar no Paseo Los Próceres, a oeste de Caracas, onde será exibido o moderno armamento russo adquirido por vários bilhões de petrodólares.
Há dias, enquanto em Caracas ocorriam protestos contra o governo, foi regular o sobrevoo dos caças supersônicos Sukhoi-30, uma das joias da Força Armada Nacional Bolivariana.
A oposição classificou estes sobrevoos como atos de intimidação, mas o governo respondeu que as aeronaves apenas treinavam para participar dos desfiles.
A cerimônia principal será realizada durante a tarde no Quartel da Montanha, onde descansam os restos de Chávez e onde, a partir de sua esplanada, é possível observar toda a cidade de Caracas e, especialmente, o Palácio de Miraflores, sede da Presidência.