Venezuela: manifestantes voltam às ruas e pedem paz em Caracas

22 fev 2014 - 20h06
(atualizado às 20h10)
Maria Auxiliadora Rodriguez sonha em ser jornalista e foi à manifestação com a família para pedir a libertação dos estudantes presos e pelo direito de protestar
Maria Auxiliadora Rodriguez sonha em ser jornalista e foi à manifestação com a família para pedir a libertação dos estudantes presos e pelo direito de protestar
Foto: Ana Carolina Peliz / Especial para Terra

A médica Rosabel Villamiza fazia barulho com uma panela no meio da multidão. "Esta é a maneira mais simples de protestar. Qualquer dona de casa tem uma panela em casa, todos os lares têm", disse. "Mas também é a arma mais valiosa, a que nos alimenta e o barulho incomoda".

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Villamiza se uniu neste sábado a outros milhares de manifestantes que tomaram a avenida Francisco Miranda, uma das principais vias de Caracas, para protestar contra o governo do presidente Nicolás Maduro. A mobilização foi convocada pela Mesa União Democrática (MUD), organização que agrupa os principais partidos de oposição, para exigir o desarmamento de grupos armados que, segundo a oposição, são responsáveis pela violência nas manifestações.

A médica venezuelana acredita que o problema do país é principalmente econômico. "As pessoas protestam principalmente porque faltam alimentos e remédios." Mas ela acredita que exista uma parte da população que se reconhece no discurso da ala mais radical da oposição e que pede a saída de Maduro. "Algumas pessoas querem mudanças radicais. Mas na verdade as demandas são bem mais simples, segurança e alimentos."

Mas as altas taxas de violência também compõem a pauta dos instatisfeitos, entre os quais os estudantes que saíram às ruas no início deste mês. "Eu me manifesto hoje principalmente contra a violência no país, também para que libertem os estudantes que foram presos por protestar", conta a artesã Ana Luiza Bruni.

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Seu marido, Juan Bruni, afirma que não espera que Maduro seja deposto. "O presidente foi democraticamente, ou pelo menos constitucionalmente eleito, então ele deve ouvir os pedidos das ruas." Ana Luiza não concorda totalmente. "Se ele se transformar em um ditador, como está acontecendo, o povo tem o direito de tirá-lo do poder", afirma.

Nós, estudantes, queremos o que se está exigindo, nada mais, afirmou o estudante de Jornalismo José Angel Vargas
Foto: Ana Carolina Peliz / Especial para Terra

Estudantes

“Nós, estudantes, queremos o que se está exigindo, nada mais”, afirma o estudante de jornalismo José Angel Vargas, que marchava envolvido em uma bandeira da Venezuela. “Eu não importo se for a oposição ou Maduro, o que me importa é que a Venezuela esteja bem. Sou contra um governo que não presta serviços à população."

Vargas diz ter participado de todos os protestos e que teve vários colegas detidos. “Se eles querem um governo de paz como dizem, acho que o primeiro que deveriam fazer era desarmar os coletivos paramilitares e fazer com que a polícia não reprimisse as manifestações”, afirma. “Eu acho que o governo incita à violência. Ele convoca uma marcha no mesmo dia que vamos a marchar. Ele deveria fazer outro dia”, diz o jovem fazendo referência à manifestação convocada neste sábado pelo governo no centro de Caracas

A médica Rosabel Villamiza: "Algumas pessoas querem mudanças radicais. Mas na verdade as demandas são bem mais simples, segurança e alimentos"
Foto: Ana Carolina Peliz / Especial para Terra

Maria Auxiliadora Rodriguez, 15 anos, segurava um cartaz dizendo que queria ser jornalista. Ela diz que foi à manifestação com a família, para pedir a libertação dos estudantes presos e pelo direito de protestar. Já seus pais, Alejandra e Guillermo, temem pelo alto índice de criminalidade no país. “Teremos que enviar nossos filhos para estudar em no exterior devido à violência”, diz Alejanda. 

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Ainda que não sejam divulgados números oficiais sobre a criminalidade pelo governo, a Venezuela é considerada um dos países mais perigosos do mundo. Segundo um relatório publicado pela ONU em 2012, o número de homicídio é de 45 para cada 100 mil habitantes. Apesar da tensão nas últimas semanas, a manifestação deste sábado foi pacífica e até o final da tarde não haviam sido registradas ocorrências.

Fonte: Especial para Terra
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