Apoiadores do ex-presidente Evo Morales intensificaram os protestos na Bolívia, ocupando um quartel em Cochabamba e fazendo 20 militares reféns, conforme comunicado das Forças Armadas bolivianas. Durante a ação, grupos armados irregulares também confiscaram armas e munições.
Após a ocupação, Evo Morales anunciou que iniciará uma greve de fome para pressionar o diálogo com o governo de Arce.
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“Para priorizar o diálogo, vou iniciar uma greve de fome até que o Governo” instale “mesas de diálogo”, disse o ex-presidente em declarações à imprensa na região cocaleira de Chapare, no departamento de Cochabamba, segundo a DW. O ex-presidente também defendeu a participação de entidades internacionais de países amigos “para que o diálogo seja viável, responsável e tenha resultados", acrescentou.
O clima de instabilidade política se arrasta há 19 dias no país, marcado por bloqueios de estradas e manifestações que exigem o fim do que consideram uma "perseguição judicial" contra Evo, antigo aliado do atual presidente Luis Arce.
“Lembramos que qualquer pessoa que pegue em armas contra a pátria é considerada traição e levante armado contra a segurança e a soberania do Estado”, declarou o Alto Comando militar, ressaltando que os reféns “são filhos do povo cumprindo seu dever sagrado com a pátria.”
A cidade de Cochabamba, estrategicamente ligada a La Paz, transformou-se no epicentro dos protestos. Camponeses e mineiros leais a Evo bloqueiam as estradas com pedras e troncos, prometendo resistência prolongada para defender o ex-presidente, que enfrenta acusações de abuso de menores, o que ele nega.
Os manifestantes, em sua maioria armados com estilingues ou "huaracas", atacam as forças de segurança com pedras. Desde o início da mobilização, 61 policiais e nove civis ficaram feridos, alguns com traumas graves. Carlos Flores, agrônomo e manifestante, explicou a estratégia à AFP: “Essa é nossa arma secreta (...), herança de nossos avós.”
A tensão política se intensifica, com cerca de 20 bloqueios ativos, principalmente na região central do país. Além de apoio a Evo, os manifestantes agora exigem a renúncia de Luis Arce, insatisfeitos com a crise econômica e a escassez de moeda estrangeira.
Arce pediu o fim imediato dos bloqueios, alertando que usaria “poderes constitucionais” para dissolvê-los. No entanto, os manifestantes se preparam para enfrentar a repressão, como avisou Flores: “Se ele trouxer seus militares, estamos prontos para lutar. Vamos continuar até que ele (Arce) renuncie 'a huaracazo limpio’.”
A situação em Cochabamba reflete as dificuldades da população com o aumento de preços e a falta de suprimentos essenciais. O governo busca liberar a ponte de Parotani para garantir o trânsito de caminhões de carga e reabastecer a cidade. No local, uma cidadela emergiu ao redor do bloqueio, com lojas improvisadas e um acampamento que abriga manifestantes de várias regiões.
A resistência não tem data para acabar. “Nós vamos resistir. Essa é a luta que começamos. Iremos até o fim”, declarou Flores.