Em meio ao bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, os suprimentos "estão acabando" e a ajuda humanitária que chega ao território em caminhões vindos do Egito "é insuficiente".
O alerta é da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos.
No fim de semana, milhares de pessoas em Gaza saquearam armazéns da UNRWA contendo produtos básicos como farinha e sabão.
Segundo a UNRWA, é um "sinal preocupante de que a ordem civil está começando a ruir".
Israel vem intensificando a ação militar contra o Hamas, atacando várias áreas no norte da Faixa de Gaza, onde acredita que o grupo extremista palestino mantenha suas principais bases de operação.
No domingo (29/10), 33 caminhões entraram em Gaza, o maior comboio de ajuda humanitária desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, mas os agentes humanitários disseram que a assistência ainda estava desesperadamente aquém das necessidades.
As Forças de Defesa de Israel esperam que alimentos, água e suprimentos médicos adicionais encorajem mais palestinos a deixar a parte norte da Faixa de Gaza em direção ao sul.
Mais de metade dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa estão desabrigados e milhares de edifícios foram destruídos, segundo a ONU.
Militantes do Hamas lançaram ataques sem precedentes contra Israel a partir de Gaza, em 7 de outubro, matando mais de 1.400 pessoas e fazendo 230 reféns.
Desde então, Israel vem realizando bombardeios de retaliação e — mais recentemente — operações terrestres em Gaza, onde o Ministério da Saúde palestino, administrado pelo Hamas, afirma que mais de 8 mil pessoas foram mortas, das quais mais de 3 mil crianças.
Segundo a ONG Save the Children, o número de crianças mortas em Gaza em apenas três semanas ultrapassou o número anual de crianças mortas nas zonas de conflito do mundo desde 2019.
"Desde 7 de outubro, mais de 3.257 crianças foram mortas, incluindo pelo menos 3.195 em Gaza, 33 na Cisjordânia e 29 em Israel, segundo os Ministérios da Saúde de Gaza e de Israel, respectivamente.
O número de crianças mortas em apenas três semanas em Gaza é superior ao número de crianças mortas em conflitos armados a nível mundial — em mais de 20 países — ao longo de um ano inteiro, nos últimos três anos", informou a organização humanitária por meio de um comunicado.
'As pessoas estão desesperadas'
A UNWRA disse que o seu segundo maior depósito — localizado em Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza — foi invadido no sábado (28/10).
A agência é responsável por administrar a maior parte da ajuda humanitária entregue pela ONU.
As pessoas levaram farinha, trigo e kits de higiene após invadirem este e outros armazéns no centro e no sul de Gaza, informou a UNWRA.
Abeer Etefa, porta-voz do Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM), disse à BBC que os saques eram "esperados" devido às "condições difíceis que as pessoas enfrentam".
"As pessoas estão desesperadas, estão com fome", disse ela.
Alguns dos deslocados que saquearam os armazéns da ONU disseram à agência de notícias AFP que "não tinham farinha, nem ajuda, nem água, nem sequer banheiros".
Abdulrahman al-Kilani, morador de Gaza, afirmou: "Nossas casas foram destruídas. Ninguém se importa conosco. Apelamos às pessoas do mundo. Todas as potências internacionais estão contra nós. Precisávamos de ajuda e não teríamos feito isso se não estivéssemos necessitados."
Muito pouca ajuda e nenhum combustível foram autorizados a entrar em Gaza desde o ataque do Hamas. Israel diz estar preocupado que os suprimentos sejam usados pelo Hamas.
Em uma declaração em vídeo postada nas redes sociais, o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, disse que Israel permitiria a entrada de mais ajuda humanitária do Egito e dos EUA a Gaza no domingo, mas não deu detalhes de como isso aconteceria.
Segundo o PAM, pelo menos 40 dos seus caminhões precisam atravessar diariamente rumo a Gaza apenas para satisfazer as crescentes necessidades alimentares da população do território.
Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, Ahmed Abu Zeid, acusou Israel de "obstruir" o envio da ajuda ao implementar controles de segurança complexos.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, a situação em Gaza está cada vez mais desesperadora.
"Mais de 2 milhões de pessoas, sem nenhum lugar seguro para ir, estão sendo privadas de bens essenciais à vida — comida, água, abrigo e cuidados médicos — enquanto são submetidas a bombardeamentos implacáveis", disse.