Além de cancelamentos de viagens de turismo, fechamento do espaço aéreo impacta fortemente o setor devido, por exemplo, a rotas mais longas, que exigem mais combustível. Instabilidade também cancela cruzeiros.A invasão russa na Ucrânia impacta questões políticas, econômicas e comerciais em todo o mundo. Os mercados financeiros também foram afetados e, aparentemente, nenhum setor econômico está imune. Certamente, as perdas humanas são o principal ônus da guerra. Mas, juntamente com a catástrofe humanitária, os efeitos econômicos já começam a ser sentidos em muitos setores.
Perguntar como se sairá a indústria de viagens, muitas vezes vista como um luxo, parece inadequado neste momento. "Essas questões são ofuscadas pelas muitas pessoas morrendo e centenas de milhares fugindo da Ucrânia. Isso é o que realmente importa agora", diz Marten Lange-Siebenthaler, da Dreizackreisen, uma agência de viagens especializada em destinos do leste europeu.
No entanto, a subsistência de milhões de pessoas na Europa depende exclusivamente do turismo e das viagens, motivo pelo qual as agências de viagens, companhias aéreas, hotelaria e operadores de cruzeiros estão preocupados.
Após dois anos de uma pandemia que devastou grande parte da indústria do turismo, a guerra na Ucrânia é um novo golpe para o setor.
Golpe da indústria aeronáutica
Após a eclosão da guerra, a Dreizackreisen deixou de oferecer pacotes de férias para Belarus, Rússia e Ucrânia. Muitas outras agências de viagens fizeram o mesmo. A Ucrânia, no entanto, nunca foi um importante destino de férias, diz Siebenthaler. Em vez disso, tendia a atrair visitantes interessados na cultura do país. Mas, ao lado da própria indústria do turismo, está o setor aéreo.
Os ataques russos à Ucrânia e os crescentes pedidos de uma zona de exclusão aérea têm sérias ramificações para a indústria da aviação.
Aviões civis da Alemanha e de ao menos outras 35 nações - entre elas França, Polônia, Finlândia e Canadá - foram banidos do espaço aéreo russo. No fim de semana passado, a União Europeia, por sua vez, impediu que aviões russos sobrevoassem ou pousassem no território do bloco europeu. Muitos países fizeram o mesmo. Na terça-feira, foi a vez de os Estados Unidos proibirem aeronaves russas em seu espaço aéreo.
Em 24 de fevereiro, imediatamente após os militares russos iniciarem o ataque à Ucrânia, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) alertou as companhias aéreas para não voarem perto da zona de guerra, pedindo "extrema cautela".
O aviso se estende ao espaço aéreo da Moldávia e de Belarus e permanecerá em vigor por 90 dias, a menos que a agência reavalie a situação de segurança.
As companhias aéreas agora esperam um longo bloqueio das rotas de voo leste-oeste. Essas restrições colocarão pressão adicional sobre as transportadoras, de acordo com Wolf-Dietrich Kindt, da Federação da Indústria de Aviação Alemã (BDL, na sigla em alemão).
"Os voos com destino ao Extremo Oriente, que normalmente passam pela Rússia, precisam contornar a área usando rotas alternativas", diz Kindt. "Isso significa que os voos vão demorar mais e cobrir distâncias maiores, o que aumenta o consumo de combustível e os custos para as transportadoras", explica.
Voos mais longos, maiores custos de combustível
A Lufthansa, a maior companhia aérea da Alemanha, afirma em seu site que em "voos para o Extremo Oriente pode haver mudanças de curto prazo nos horários de partida e chegada devido ao reagendamento de rotas de voo". Uma porta-voz da Lufthansa disse à DW que a empresa estima que os voos para a capital sul-coreana Seul levarão 90 minutos a mais do que o normal. E os viajantes para Tóquio terão que se preparar para até duas horas a mais de viagem.
A guerra na Ucrânia também fez com que os preços do petróleo subissem, ultrapassando temporariamente a marca de 100 dólares por barril . Esse aumento nos custos de combustível incrementará ainda mais a pressão sobre o setor de aviação, que se recupera lentamente de meses de restrições de viagens relacionadas à pandemia.
Apesar das circunstâncias sombrias, o porta-voz da BDL garante aos turistas que não se preocupem em visitar o continente: "A Europa está aberta e segura. Estamos recebendo todos os hóspedes"; afirmou.
De fato, especialistas em turismo confirmaram que viagens para a Polônia ou os países bálticos, por exemplo, continuam sendo possíveis. Os turistas devem, no entanto, ter em mente que a crise humanitária que se desenrola na Ucrânia está se espalhando para os países vizinhos. Até agora, mais de 1 milhão de pessoas fugiram do país atingido pela guerra.
Cruzeiros cancelados
As linhas de cruzeiro também responderam à nova situação. A Norwegian Cruise Line cancelou todas as viagens à Rússia. Logo depois, a TUI Cruises, a MSC Cruzeiros e a AIDA Cruises seguiram o exemplo. Nenhum de seus navios fará escala no porto de São Petersburgo este ano.
A Phoenix Reisen, uma agência alemã que oferece cruzeiros marítimos e fluviais, cancelou os passeios ao longo do rio Volga, na Rússia, em abril e maio. Uma porta-voz da empresa disse que outras medidas podem ocorrer.
Depois de se recuperar lentamente das dificuldades econômicas causadas pela pandemia de covid-19, o setor de viagens enfrenta ainda mais incertezas à medida que imagens da guerra agitam viajantes em potencial. De fato, a Associação Alemã de Viagens (DRV, na sigla em alemão) emitiu recentemente uma declaração expressando esperança de que "a diplomacia prevaleça e que as operações militares russas na Ucrânia sejam interrompidas".
À luz da situação em rápido desenvolvimento, os viajantes são aconselhados a buscar informações atualizadas de fontes confiáveis antes de embarcar. Vários países europeus pediram aos cidadãos que deixem a Ucrânia. A França e os EUA também aconselharam seus cidadãos a saírem da Rússia. A Alemanha desencoraja viagens à Rússia e adverte explicitamente contra viagens ao sul do país, na fronteira com a Ucrânia.