As consequências políticas da condenação de Trump por abuso sexual

Republicanos alertam que as chances de Trump na corrida para a Casa Branca em 2024 foram prejudicadas, mesmo que seus apoiadores rejeitem a condenação.

10 mai 2023 - 16h11
Do lado de fora do tribunal, em Nova York, mulher mostra cartaz: 'Onde está Trump?'
Do lado de fora do tribunal, em Nova York, mulher mostra cartaz: 'Onde está Trump?'
Foto: EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

Um júri de Nova York considerou o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump culpado da acusação de abuso sexual e difamação contra a escritora americana Elizabeth Jean Carroll. O veredicto pode ser um prenúncio dos danos políticos e legais que vêm pela frente.

Embora a decisão não abale a base de Trump dentro do Partido Republicano, na qual seus partidários veem o sistema jurídico dos EUA com ceticismo e o apoiaram em todos os momentos de adversidade, ela pode ter um impacto duradouro.

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A resposta de dois senadores republicanos destaca o risco que este momento representa para a candidatura de Trump à Casa Branca em 2024.

"Tem um efeito cumulativo", disse o senador John Thune, de Dakota do Sul. "As pessoas vão ter que decidir se querem lidar com todo o drama."

John Cornyn, do Texas, disse: "Acho que ele não consegue ser eleito. Você não consegue ganhar uma eleição geral apenas com sua base."

No fim das contas, Trump pode ter sido seu pior inimigo neste caso.

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O ponto central do processo movido por Carroll foi o depoimento do ex-presidente, no qual ele parecia, ao mesmo tempo, depreciativo e defensivo. Ele explicou que o infame vídeo "Access Hollywood", no qual se gabava de agarrar as mulheres pelos órgãos genitais, refletia uma verdade histórica sobre o poder das celebridades — "infelizmente ou felizmente".

Felizmente?

Trump afirmou que tanto Carroll quanto outra mulher que testemunhou que ele a havia agredido sexualmente não eram seu tipo — definição que ele também aplicou, voluntariamente, à advogada que conduzia o depoimento.

Para um júri que avaliava se Trump era o tipo de pessoa capaz de abuso sexual — ou, pelo menos, se ele tinha mais credibilidade do que a pessoa que o acusava —, foi sem dúvida uma atitude equivocada.

Trump foi condenado por abuso sexual e difamação contra a escritora Elizabeth Jean Carroll
Foto: CBS / BBC News Brasil

Ele também identificou erroneamente uma fotografia de Carroll como sendo de sua ex-mulher, Marla Maples, comprometendo diretamente a afirmação de que "não é o seu tipo".

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Nas eleições presidenciais de 2020, os eleitores dos subúrbios, sobretudo as mulheres, se distanciaram do tipo de política impetuosa de Trump. A decisão do júri neste caso só pode afastar esse tipo de eleitor ainda mais dele.

O ex-presidente adotou um tom desafiador em sua plataforma de rede social, chamando o veredicto de uma desgraça e insistindo que não tinha ideia de quem era "esta mulher".

Fora do tribunal, seu advogado disse a repórteres que Trump entraria com um recurso.

'Estamos muito felizes', disse Carrol a jornalistas, após o resultado
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Até agora, o ex-presidente fez uma campanha relativamente disciplinada para reconquistar a Casa Branca em 2024. Sua equipe construiu metodicamente o apoio popular nos principais estados do país para as primárias. Os ataques focados em seu adversário conservador, o governador da Flórida, Ron DeSantis, parecem estar causando estragos. Ele conseguiu transformar seu indiciamento em Nova York em uma medalha de honra entre sua base.

Mas a condenação por abuso sexual e difamação pode dar a seus adversários republicanos uma brecha para atacar. Se eles conseguirem abalá-lo como o advogado de Carroll, forçando Trump a sair do script e a se colocar na defensiva, isso pode levar um candidato aparentemente no controle do seu partido a cometer mais erros por conta própria.

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No mínimo, é outra primeira vez histórica para um ex-presidente que já enfrenta uma acusação criminal e possivelmente outras pela frente.

Até agora, Trump minimizou essas questões legais. Mas a decisão do júri de Nova York desfere um golpe contra o ex-presidente de uma forma que meras "investigações" não fazem. Um júri formado por americanos comuns considerou as evidências e concluiu que Trump agiu errado.

Nada disso é um bom presságio para as outras dores de cabeça legais, incluindo a investigação do procurador especial Jack Smith sobre o envolvimento do ex-presidente na invasão do Capitólio e o manuseio de documentos confidenciais depois que ele deixou a Casa Branca, assim como as investigações da Geórgia sobre a tentativa de Trump de reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020 no estado.

Embora seja extremamente improvável que Trump deponha perante o tribunal se essas investigações se transformarem em indiciamentos — ou no atual processo de Nova York —, os promotores podem encontrar maneiras de usar as declarações ou depoimentos anteriores do ex-presidente contra ele de forma tão eficaz quanto o advogado de Carroll.

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