O suicídio do financista bilionário Jeffrey Epstein dentro de um presídio nos EUA, enquanto aguardava julgamento sob acusações de tráfico sexual e abuso de menores, acabou colocando sob os holofotes um membro proeminente da família real britânica.
A controvérsia gira em torno do príncipe Andrew, 59 anos, terceiro filho da rainha Elizabeth 2ª, e sua associação com Epstein.
Após virem à tona imagens de vídeo que parecem mostrar Andrew na agora notória mansão de Epstein em Nova York, a imprensa britânica tem cobrado uma explicação sobre o quanto o príncipe sabia a respeito dos crimes hoje atribuídos ao bilionário americano.
Infrator sexual
Jeffrey Epstein já havia sido condenado por crimes sexuais em 2008, antes de ser alvo das acusações mais amplas que o levaram à prisão no último mês de julho e de seu suicídio, em 10 de agosto.
O tabloide britânico The Mail on Sunday divulgou imagens de Andrew ma mansão de Epstein, supostamente em 2010 - ou seja, dois anos após a primeira condenação do bilionário.
No vídeo, Epstein é visto deixando a casa ao lado de uma jovem, que aparenta ser menor de idade.
Cerca de uma hora depois, Andrew aparece nas imagens segurando uma porta da mansão, junto a outra jovem. Ela sai da casa, enquanto o príncipe acena para ela.
Acordo
Epstein, que era gerente de um fundo de investimentos, admitiu culpa - como parte de um acordo judicial - em 2008 a uma acusação de solicitação de prostituição e outra de solicitação de prostituição de menor.
O acordo causou polêmica, uma vez que por conta dele Epstein evitou acusações em âmbito federal, que poderiam resultar em prisão perpétua.
Em vez disso, ele recebeu uma pena mais leve, tendo ficado atrás das grades por apenas 13 meses, depois dos quais foi liberado - sendo registrado como infrator sexual.
A imprensa americana criticou o acordo judicial à época, pela percepção de que este encobriria a extensão dos crimes atribuídos a Epstein e por encerrar uma investigação do FBI sobre a possibilidade de haver mais vítimas ou mais pessoas poderosas envolvidas no escândalo.
Epstein foi visto socializando com muitos ricos e poderosos antes de sua primeira acusação criminal, incluindo o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e o atual, Donald Trump.
Quando sua reputação foi arranhada, muitos famosos se afastaram dele. Não foi o caso do príncipe britânico.
Acusações de Virginia Roberts
Além das imagens em vídeo, há também uma foto de Andrew, tirada em 2001, em que ele aparece com os braços ao redor de Virginia Roberts. Ela declarou, pertante a Justiça americana, que teve relações sexuais com o integrante da realeza quando ela tinha 17 anos. Roberts disse que foi apresentada ao príncipe por Jeffrey Epstein.
O Palácio de Buckingham nega a acusação, que também foi rejeitada pela Justiça americana.
Em resposta ao vídeo recém-divulgado pelo Mail on Sunday, o Palácio afirmou que "sua alteza real deplora a exploração de qualquer ser humano, e é repugnante a mera sugestão de que toleraria, participaria ou encorajaria esse tipo de comportamento".
No entanto, uma coisa parece ser incontroversa: Andrew manteve sua proximidade com um conhecido infrator sexual mesmo muito tempo depois de o caso ter se tornado público, algo que até agora não foi explicado pelo palácio ou pelo próprio Andrew.
A despeito da morte de Epstein, as investigações sobre tráfico sexual e suas ramificações estão longe de terminar, mantendo a atenção mundial ao que os porta-vozes da realeza dirão a seguir.
"Apenas negar (as acusações) com indignação não vai resolver", opina o ex-repórter especializado em realeza da BBC Michael Cole, em entrevista ao programa Newsnight. "É necessário dar respostas. Trata-se de um assunto muito sério, que vai se tornar pior para o príncipe e para o Palácio de Buckingham."
Michael Cole aponta que é esperado que ao menos um processo legal resulte das investigações em torno das supostas vítimas de tráfico sexual de Epstein, algo que colocaria a realeza britânica sob o interesse da Justiça americana.
Especialistas criminais já têm pedido que o príncipe Andrew preste depoimento, alegando que ele seria uma testemunha primordial nas investigações de tráfico sexual que recaem sobre Epstein.
"Não importa quão alto você esteja", afirma Michael Cole, "no sistema judicial americano, a lei está acima de você."