Milhares de furiosos manifestantes seguiram nesta sexta-feira para o palácio presidencial do Afeganistão, motivados por alegações do candidato Abdullah Abdullah sobre a ocorrências de grandes fraudes durante a eleição presidencial por parte de organizadores e autoridades públicas.
A disputa nas urnas, que colocou o ex-líder da Aliança do Norte contra o ex-ministro das Finanças Ashraf Ghani em 14 de junho, caiu em descrédito após a decisão de Abdullah de desistir da corrida.
O impasse reavivou as duradouras tensões étnicas no Afeganistão, porque a base de Abdullah é concentrada na população tajique, o segundo maior grupo étnico, ao passo que Ghani é pashtun, o maior grupo.
O embate também acontece em uma época perigosa, com a insurgência do Taliban ainda presente e a maioria das forças lideradas pela Otan se preparando para deixar o país no fim do ano.
Um membro da equipe de Ghani, o ex-candidato Daud Sultanzoy, disse nesta sexta-feira que, baseado em informação de observadores eleitorais, havia uma previsão de ele vencer com 1,2 milhão a 1,3 milhão de votos a mais do que Abdullah.
“Não estamos reivindicando nada, pois respeitamos a comissão eleitoral e esperaremos o anúncio oficial do vencedor”, disse ele. “No entanto, sabemos estar confortavelmente à frente”.
Os apoiadores de Abdullah marcharam pela capital Cabul e se reuniram em frente ao palácio presidencial. Abdullah acompanhou a bordo de uma caminhonete, agitando uma bandeira.
“Nosso adorado presidente é Abdullah Abdullah”, gritaram os apoiadores, com gritos adicionais culpando o atual presidente, Hamid Karzai, pelo impasse político. Karzai está constitucionalmente proibido de concorrer pela terceira vez.
Abdullah acusou Karzai, governadores de províncias e a polícia de cumplicidade em esforços para manipular a eleição.
Cerca de 15 mil pessoas participaram do protesto, de acordo com a polícia e testemunhas da Reuters. Algumas demonstraram indignação ao destruírem cartazes de Karzai e gritarem palavras de ordem contra o presidente e a comissão eleitoral independente.
“Queremos os mujahideen (guerreiros islâmicos) de volta. Não queremos tecnocratas e escravos de judeus e cristãos”, disse Badam Gul, um ex-combatente.
“Queremos justiça a qualquer custo. Houve fraude e isso é inaceitável para nós. Lutaremos por nosso direito até a última gota de sangue em nosso corpo.”
A marcha foi amplamente pacífica e bem coordenada pelos organizadores. A maior parte dos manifestantes se dispersou no final do dia.
Um alto representante da Organização das Nações Unidas no Afeganistão alertou para o risco de “prolongado confronto, com perigo de violência” em um relatório ao Conselho de Segurança na quarta-feira, e pediu que Abdullah retornasse ao processo eleitoral.
Abdullah apelou para que a ONU interviesse para salvar a eleição, solução também apoiada por Karzai.