O governo da China deportou, nesta segunda-feira, o artista Guo Jian - nascido no país asiático, mas naturalizado australiano - depois dele ter passado duas semanas preso, por manifestar sua opinião sobre o massacre de Praça da Paz Celestial, em seu 25º aniversário, celebrado no último dia 4 de junho.
O artista, de 52 anos, foi enviado nesta segunda-feira a Sydney em um voo da companhia Air China que teria partido de Pequim, informou sua amiga Melanie Wang através das redes sociais.
Guo, que participou dos protestos em favor da democracia na capital chinesa em 1989, foi detido no dia 1º de junho em sua casa em Pequim. Na ocasião, o artista era acusado de "fraude em seu visto", como confirmou o Ministério das Relações Exteriores da China.
No entanto, a detenção ocorreu dois dias depois que o jornal britânico Financial Times publicasse um perfil em que Guo narrava sua experiência nesses protestos, e também após a exibição de um diorama da Praça de Praça da Paz Celestial coberto com troços de carne de porco crua por parte do artista.
Recentemente, o jornal australiano The Sydney Morning Herald informou que as autoridades destruíram este e outros trabalhos de Guo em seu estúdio na capital.
Por conta destes e outros motivos, seus amigos, familiares e organizações de direitos humanos passaram a considerar que essa deportação faz parte de uma medida de castigo por parte do regime comunista, principalmente por ter exposto sua opinião em relação ao ocorrido na capital chinesa há 25 anos.
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06 de junho - Civis em bicicletas e soldados em tanques de guerra montam o cenário pós-protestos em Pequim. Um quarto de século depois do massacre, o governo proibe a discussão pública sobre o assunto e livros e sites são censurados.
Foto: AP
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05 de junho - Tropas e tanques chineses se reúnem na praça, um dia após a repressão militar que terminou com sete semanas de protestos.
Foto: AP
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05 de junho - Um chinês tentou bloquear, sozinho, uma linha de tanques de guerra que seguiam em direção à Praça Tiananmen, em Pequim. O homem, que não foi identificado até hoje, é considerado o "rebelde desconhecido" pela sua atitude frente aos militares.
Foto: AP
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05 de junho - Civis mostram fotos de pessoas mortas devido à ação militar do governo chinês. A imprensa internacional foi proibida de cobrir os protestos
Foto: AP
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04 de junho - Corpos de civis mortos se encontram entre bicicletas, próximo à Praça da Paz Celestial, em Pequim. Durante a madrugada, centenas de pessoas morreram. Órgãos de direitos humanos afirmam que foram milhares de mortos.
Foto: AP
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04 de junho - Feridos são levados para um hospital por manifestantes. Na madrugada do dia 4 de junho, o exército chinês abriu fogo e deixou vários mortos e feridos
Foto: AP
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03 de junho - Homem tenta puxar um soldado chinês para longe de seus companheiros em uma ação militar no local dos protestos
Foto: AP
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01 de junho - Fotógrafos amadores tiram fotos de uma estátua erguida na praça Tiananmen
Foto: AP
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01 de junho - Versão chinesa da "Estátua da Liberdade" é erguida pelos estudantes, durante o protesto
Foto: AP
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28 de maio - Estudantes se protegem do sol embaixo de um guarda-chuva. Eles já estavam há mais um mês na praça
Foto: AP
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19 de maio - Secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Zhao Ziyang, foi pessoalmente à praça para tentar convencer os manifestantes a encerrarem os protestos e a greve de fome. Seu pedido não foi atendido.
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16 de maio - Médicos atendem vítimas da greve de fome, em um hospital de campo, montado para atender os estudantes que permaneceram sem comer na praça Tiananmen
Foto: AP
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13 de maio - Estudantes sentam na Praça da Paz Celestial, durante greve de fome, em protesto pró-reforma
Foto: AP
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04 de maio - Polícia chinesa tenta, em vão, conter uma enorme multidão de manifestantes em um movimento pró-reforma no dia 4 de maio
Foto: AP
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01 de maio - Manifestante chinês Wang Dan aborda colegas durante uma manifestação na Praça da Paz Celestial de Pequim. Em sua cabeça, uma faixa diz 'greve de fome'
Foto: AP
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27 de abril - Manifestantes chineses cercam um caminhão do exército, na Praça de Tiananmen. Alunos foram apoiados por trabalhadores e massa de manifestantes aumentou
Foto: AP
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22 de abril - Estudantes fazem uma corrente humana na madrugada, na praça Tiananmen, em um protesto por mais liberdade na China
Foto: AP
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20 de abril - Dezenas de milhares de estudantes e cidadãos se concentram em frente ao monumento dos Heróis do Povo, na Praça da Paz Celestial, em Pequim.
Foto: AP
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19 de abril - Estudantes erguem uma faixa pedindo "Liberdade, Democracia e Iluminismo" em frente ao monumento dos Heróis do Povo, enfeitado por um retrato do líder Hu Yaobang, cuja morte desencadeou os protestos.
Foto: AP
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18 de abril - Um líder estudantil leu para o grupo de manifestantes uma série de exigências que o grupo defenderia nos protestos seguintes.
Foto: AP
Guo, que já serviu o Exército chinês, fez toda sua vida pessoal e profissional em Pequim e, embora fosse consciente do risco de falar sobre a Praça da Paz Celestial, não esperava uma represália semelhante, disseram os amigos do artista à Agência EFE.
A deportação de Guo é um dos expoentes mais radicais de uma campanha de repressão em grande escala que o governo chinês vem realizando neste ano para silenciar as celebrações do aniversário do massacre, denunciaram as organizações Human Rights Watch e Chinese Human Rights Defenders (CHRD).
Desde que esta campanha foi iniciada, em abril, a CHRD contabilizou em até 50 o número de pessoas que chegaram a estar desaparecidas ou foram interrogadas e detidas.
Embora muitos já tenham sido libertados, há casos como o de Guo e o do proeminente advogado Pu Zhiqiang - defensor do artista Ai Weiwei -, que foi acusado formalmente na última sexta-feira de "criar distúrbios" e de "obter informação pessoal ilegalmente". Antes, há cerca de um mês, Zhiqiang foi detido durante uma comemoração privada na Praça da Paz Celestial.