O ex-guarda de um campo de prisão da Coreia do Norte, Ahn Myong-Chol, deu um depoimento emocionado em Genebra, durante a Inquérito de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre a Coreia do Norte, sobre todas as experiências de maus tratos que presenciou quando era guarda no campo de prisão 14, entre os anos 1987 e 1994. Entre as histórias, Myong-Chol relembra de como os guardas “premiavam” os cachorros quando atacavam crianças, matando-as.
“Certa vez, vi cinco crianças sendo atacadas pelos cães dos guardas. Três delas ficaram em pedaços e as outras duas, apesar de muito feridas, sobreviveram, mas foram enterradas vivas junto das outras”, contou o homem de 45 anos.
Segundo ele, os campos “se parecem com os campos de concentração nazistas, mas os da Coreia ainda existem por lá".
O ex-guarda conta que os soldados eram premiados quando matavam algum prisioneiro podendo “ir à escola”. Apesar disso, ele afirma que nunca matou ninguém.
Myong-Chol disse que só desconfiou de que os encarcerados não mereciam o tratamento desumano quando se tornou motorista, levando prisioneiros que diziam “não fazer ideia do motivo pelo qual estavam sendo presos”. Ele também contou que famílias inteiras, várias gerações, eram presas.
O pai de Myong-Chol tinha alta patente no exército do país e, por isso, ele começou a trabalhar cedo nos campos de prisão, em 1987. Depois de alguns anos trabalhando para o governo, a família de Ahn Myong-Chol foi perseguida e ele fugiu da Coreia do Norte para a Coreia do Sul. Ele trabalhou por anos em um banco e, hoje, trabalha em uma ONG que luta contra os abusos na Coreia do Norte, que ferem os direitos humanos.
O ex-guarda já encontrou ex-prisioneiros, como Chol Hwan Kang, que o perdoou. “Ele me perdoou porque, assim como outros ex-prisioneiros, entendeu que eu não tinha escolha”, contou.
Estima-se que entre 80 e 120 mil pessoas sejam prisioneiros políticos nos campos da Coreia do Norte, que tem uma população de 24 milhões de habitantes.
O Inquérito das Nações Unidas conclui que há abuso aos direitos humanos em relatório de 400 páginas na Coreia do Norte desde 1950 e encaminhou um apelo para medidas urgentes para resolver a situação no país, incluindo o recurso ao Tribunal Penal Internacional (TPI), além de recomendações para a Coreia do Norte , a China e outros Estados e à comunidade internacional para adotar sanções contra responsáveis por crimes contra a humanidade.
À luz da informação recolhida, a Amnistia Internacional (AI) exigiu que a Coreia do Norte admita a existência destes campos para prisioneiros políticos, os encerre imediatamente, liberte todos os detidos que lá se encontram, bem como os seus familiares. A AI exige também que o regime de Pyongyang garanta o acesso imediato de organizações independentes aos campos, entre elas a Amnistia Internacional e as Nações Unidas.
A Comissão deverá apresentar formalmente as suas conclusões ao Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, em 17 de março de 2014.
Com informações da AFP.