Crimes cometidos na Coreia do Norte evocam era nazista, diz ONU

A Coreia do Norte rejeitou "categoricamente e totalmente" as acusações de um relatório de 372 páginas

17 fev 2014 - 17h41

Chefes de segurança da Coreia do Norte e, possivelmente, até mesmo o líder supremo Kim Jong-un devem ser levados à Justiça internacional por ordenarem a tortura sistemática, a morte pela fome e assassinatos comparáveis às atrocidades da era nazista, disseram investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (17).

Michael Kirby mostra cópia de seu relatório durante uma coletiva da ONU realizada nesta segunda-feira, em Genebra
Michael Kirby mostra cópia de seu relatório durante uma coletiva da ONU realizada nesta segunda-feira, em Genebra
Foto: Reuters

Os investigadores afirmaram a Kim em uma carta que estavam aconselhando a ONU a levar a Coreia do Norte ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para se certificar de que quaisquer culpados, "incluindo, possivelmente, o senhor mesmo", sejam responsabilizados.

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A repreensão pública e a advertência sem precedentes a um chefe de Estado por um inquérito da ONU provavelmente antagonizará ainda mais Kim e complicará os esforços para persuadi-lo a limitar o programa de armas nucleares do país isolado e os confrontos bélicos com a Coreia do Sul e o Ocidente.

A Coreia do Norte rejeitou "categoricamente e totalmente" as acusações de um relatório de 372 páginas, dizendo que foram baseadas em material falsificado por forças hostis apoiadas por Estados Unidos, União Europeia e Japão.

O presidente da Comissão de Inquérito da ONU, Michael Kirby, disse que espera que as descobertas de seu grupo "estimulem uma ação por parte da comunidade internacional."

"Estes não são erros ocasionais que podem ser cometidos por autoridades em todo o mundo, são males contra a humanidade, são erros que chocam a consciência da humanidade", afirmou Kirby, um ex-chefe de Justiça da Austrália, a jornalistas.

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Levar o país comunista ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, pode ser improvável por causa do eventual poder de veto da China a qualquer iniciativa no Conselho de Segurança da ONU, disseram diplomatas à Reuters.

"Outra possibilidade é o estabelecimento de um tribunal ad hoc, como o tribunal sobre a ex-Iugoslávia", disse Kirby.

Os investigadores da ONU também disseram à China, principal país aliado de Kim, de que pode estar "sendo cúmplice de crimes contra a humanidade" ao enviar imigrantes e desertores de volta à Coreia do Norte para enfrentar a tortura ou execução, uma acusação que as autoridades chinesas rejeitaram.

"ERA NAZISTA"

As conclusões são resultado de uma investigação que durou um ano, envolvendo testemunho público de desertores, incluindo ex-guardas de campos penitenciários, em audiências na Coreia do Sul, Japão, Grã-Bretanha e Estados Unidos.

Kirby disse que os crimes que sua equipe catalogou lembravam aqueles cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. "Alguns deles são muito semelhantes", disse à Reuters.

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"O testemunho foi dado... em relação aos campos de prisões políticas de um grande número de pessoas que estavam desnutridas, que efetivamente morreram de fome e, então, foram eliminadas em valas, queimadas e depois enterradas... Era dever de outros prisioneiros eliminá-las", disse ele.

O número de autoridades norte-coreanas potencialmente culpadas dos piores crimes está "ultrapassando as centenas", disse ele. O relatório dos investigadores independentes citou crimes incluindo assassinato, tortura, estupro, sequestros, fome e execuções.

"A gravidade, a escala e a natureza dessas violações revelam um estado que não tem paralelo no mundo contemporâneo", afirmou.

A missão diplomática da Coreia do Norte, em Genebra, rejeitou as conclusões. "Vamos continuar respondendo fortemente até o fim qualquer tentativa de mudança de regime e pressão sob o pretexto de 'proteção dos direitos humanos'", disse.

A declaração de duas páginas da Coreia do Norte, em inglês, afirmou que o relatório era "instrumento de um complô político destinado a sabotar o sistema socialista" e difamar o país.

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Violações listadas no documento e enviadas a Pyongyang para que fossem respondidas há várias semanas "não existem no nosso país".

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