O Exército da Tailândia tomou o poder no país com um golpe, na última quinta-feira, após meses de turbulência política. Entenda como isso aconteceu:
O que levou ao golpe?
Os militares dizem que tomaram o controle do governo e suspenderam a Constituição para restaurar a ordem e promulgar reformas políticas.
A Tailândia vive atualmente uma grave crise política. O país está há meses à beira da desordem civil, com a oposição dizendo que o governo democraticamente eleito é tão corrupto que precisa deixar o poder.
Várias pessoas já morreram em episódios de violência relacionados à crise.
Analistas afirmam que é improvável que os problemas possam ser resolvidos rapidamente.
O que está acontecendo?
O gabinete ministerial recebeu a ordem de se reportar diretamente aos militares, e reuniões com mais de cinco pessoas foram proibidas.
Um toque de recolher foi implementado em todo o país entre 22h e 5h. Todas as redes de TV e rádio receberam ordens de suspender a programação local.
Uma nota dos militares informou que o comandante do Exército, o general Prayuth Chan-Ocha, vai controlar uma espécie de junta militar - o Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem -, mas deixou claro que as câmaras altas do Parlamento e das cortes continuariam a funcionar normalmente.
Líderes de partidos políticos, incluindo o opositor Suthep Thaugsuban, foram retirados do local onde se reuniam com o Exército.
Logo depois do anúncio do golpe, soldados foram enviados para locais onde estão reunidos manifestantes - as tropas atiraram para o alto para dispersar as pessoas, mas não houve feridos.
Já houve outros golpes antes?
Sim, o país já foi palco de vários golpes nas últimas décadas - esse é o 12º desde o fim da monarquia, em 1932.
Nesse período, o país também presenciou sete tentativas de golpe.
O golpe anterior ao atual ocorreu em 2006, quando o então primeiro-ministro Thaksin Shinawatra foi tirado do poder pelos militares após ser acusado de corrupção.
Muitos analistas temem que a decisão do Exército possa enfurecer os que apoiam o governo.
O correspondente da BBC em Bagcoc, Jonah Fisher, afirma que as pessoas que votaram para o governo atual podem se sentir extremamente frustradas com o que está acontecendo agora.
Segundo Fisher, há uma expectativa de que os "camisas vermelhas" - como vem sendo chamado o movimento ligado ao governo - comecem a protestar e entrem em confronto com os rivais.
Também há temores em relação à economia do país - a moeda tailandesa vem se desvalorizando após o golpe. A bolsa de valores anunciou que espera operar normalmente.
O governo ainda não marcou data para uma nova eleição, o que aprofunda o clima de incerteza no país.
Quais as raízes da crise?
Há uma profunda divisão política na Tailândia. De um lado estão os que apoiam Thaksin, que costumam ser pobres e de áreas rurais. De outro, estão tailandeses de classe média que criticam a influência dele na política tailandesa.
Há protestos regulares no país em ambas as esferas desde que Thaksin foi derrubado, em 2006. Mas nos últimos anos o foco tem sido o atual partido governista, o Pheu Thai, fundado por Thaksin.
Os protestos começaram a escalar e se tornar violentos em novembro, após a Câmara Baixa aprovar uma polêmica lei de anistia, que os críticos dizem que pode permitir a volta de Thaksin do exílio sem que ele vá para a prisão.
Os antigovernistas afirmam que 28 pessoas morreram desde o início da crise.
A situação se deteriorou ainda mais no início do mês, quando uma corte decidiu tirar do poder a primeira-ministra Yingluck Shinawatra - irmã do ex-premiê -, sob a justificativa de que ela teria cometido um ato ilegal ao mudar de cargo o chefe de segurança nacional.
Quem exatamente são esses dois lados?
Manifestantes antigoverno compõem um grupo bem disperso, mas unido por sua oposição a Thaksin.
Eles são liderados por Suthep Thaugsuban, ex-vice-premiê que deixou o opositor Partido Democrata para liderar os protestos.
Segundo esse grupo, o governo do Phey Thai vem comprando votos por meio de gastos irresponsáveis para ampliar sua base de apoio.
Eles querem que o governo seja dissolvido e seja estabelecida uma administração interina para fazer uma reforma política.
Em contraste a esse cenário, os "camisas vermelhas" vêm apoiando amplamente as políticas do governo e já fizeram alertas, dizendo que vão protestar em massa se o governo que eles apoiam for retirado do poder.
Até o momento, eles vêm se mantendo fora das ruas, apesar de já terem organizado alguns protestos.
Analistas temem que se eles decidirem protestar novamente, pode haver uma escalada de violência.
O líder do grupo, Jatuporn Prompan, já disse que pode aceitar a lei marcial, mas "não vai tolerar um golpe ou outros meios inconstitucionais" de tomada de poder.