'Escapamos pelo buraco do ar-condicionado', diz brasileira nas Filipinas

15 nov 2013 - 06h53
(atualizado às 10h41)
Lídia contou que perdeu tudo que tinha com a destruição, e só salvou seus documentos
Lídia contou que perdeu tudo que tinha com a destruição, e só salvou seus documentos
Foto: BBC News Brasil

A missionária brasileira Lídia Caetano de Souza, de 63 anos, contou à BBC Brasil como escapou por pouco da morte em Tacoblan, cidade nas Filipinas que foi devastada pelo tufão Haiyan no fim de semana. A casa onde ela estava foi inundada e desabou parcialmente com a força da tempestade, e a chuva inundou a construção térrea onde ela morava. O nível da água chegou a sete metros e a força da correnteza fez algumas paredes desabarem.

"Quando a água começou a subir, escapamos pelo buraco do ar condicionado. Amarramos cortinas e lençóis para improvisar uma corda e com ela atravessamos a correnteza do quintal até a construção vizinha, que era de dois andares. Conseguimos ajudar quatro pessoas a atravessar, mas uma delas se afogou e acabou morrendo. Ficamos abrigados lá no alto até a água baixar".

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Ela conta que foi caminhando os três quilômetros desde a casa destruída até o aeroporto. "Não consegui salvar nada, só os documentos. Perdi tudo", disse.

Foto: AFP

Destruição por tudo

Pelo caminho, Lídia viu muitos corpos e animais mortos. "O cheiro era insuportável, não há nada em Tacloban. É destruição para onde quer que se olhe", descreveu. "Não tem nada lá, é só morte".

Ela aguardou no aeroporto dia e noite pela remoção. "Eles nos davam água lá, mas faltava comida. Tinha alguns biscoitos, mas era tudo muito escasso". Lídia só consegui sair de Tacloban na noite de quinta-feira, cinco dias após o tufão atingir o país.

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Na quinta-feira ela foi levada num avião das forças americanas até a base aérea de Villamor, em Pasay City, na região da capital, Manila.

"Era um avião desses de carga militar, viajamos todos sentados no chão, agarrados às redes. Éramos umas 270 pessoas, sentadas apertadinhas".

Na capital, Lídia foi acolhida por amigos e conseguiu tomar banho e comer uma refeição quente pela primeira vez desde a tragédia. Missionária há 20, dos quais 14 passados nas Filipinas, a religiosa trabalha para a igreja Assembleia de Deus do Rio de Janeiro. Solteira e sem filhos, os amigos filipinos eram sua família no país.

"Mas eu não tenho notícia deles, não sei como estão, nem se sobreviveram", lamenta. "A gente só morre com hora e dia determinado. Não adianta, se ainda não é a nossa vez, Deus salva. Olha eu aqui."

A missionária agora pretende voltar ao Brasil com a ajuda da embaixada. Ela contou que vai passar o Natal e Ano Novo no Brasil, e voltar para a Ásia em janeiro. No entanto, ela não voltará às Filipinas, mas sim para uma nova missão no Camboja.

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