O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "se faz de bobo" ao se reunir com o líder espiritual tibetano, o Dalai Lama, em um encontro que só serve para "irritar à China e fazer com que os chineses contestem a sinceridade de Washington" na relação bilateral, publicaram veículos da imprensa oficial do país asiático neste sábado.
Obama se reuniu na sexta-feira na Casa Branca com o Dalai Lama pela terceira vez em seu mandato, em uma conversa que gerou um sério descontentamento do governo chinês, que na noite passada convocou o encarregado de negócios dos EUA em Pequim, Daniel Kritenbrink, para expressar seus protestos.
Segundo a agência oficial Xinhua, o vice-ministro das Relações Exteriores chinês, Zhang Yesui, manifestou a "forte indignação e a firme oposição" da China ao encontro, que considera como uma grave ingerência nos assuntos internos do país.
A reunião "prejudicará gravemente a cooperação e as relações entre China e EUA e prejudicará os interesses dos americanos", considerou o vice-ministro, que insistiu que os EUA "não têm o direito" de interferir nos assuntos internos chineses. Os Estados Unidos devem dar agora "passos concretos para recuperar a confiança do povo e do governo chinês", acrescentou Zhang.
A China afirma que o Tibete é parte inseparável de seu território há séculos, enquanto os tibetanos argumentam que a região foi durante muito tempo virtualmente independente, até que foi ocupada pelas tropas comunistas em 1951.
O Dalai Lama, que é acusado por Pequim de fomentar o separatismo tibetano, fugiu da China em 1959, após o fracasso de uma rebelião contra o domínio comunista, e vive desde então na cidade de Dharamsala, na Índia, à espera que algum dia seja permitido seu retorno ao Tibete.
A imprensa oficial chinesa repercutiu hoje, com visível incômodo, o encontro entre Obama e o líder espiritual tibetano na Casa Branca. O jornal Global Times afirmou que "para os EUA, o Dalai Lama é uma cartada fácil de se jogar, não tão forte como antes, mas uma carta para jogar com a China".
"China e EUA tentam construir um novo tipo de relação bilateral, mas os reiterados encontros de Obama com o Dalai Lama prejudicaram o consenso conseguido a duras penas para criar a confiança mútua entre os dois países", acrescentou a publicação.
O Global Times também mencionou que "este ano acontecerão eleições no Congresso dos EUA, mas seria ridículo que Obama acreditasse que uma reunião com o Dalai Lama fosse uma oportunidade para angariar mais votos".
Outro jornal, o China Daily argumentou que "apesar de o encontro com o Dalai Lama ajudar Obama a obter alguns ganhos políticos internos fáceis, prejudicará inutilmente às relações estrategicamente significativas entre Washington e Pequim".
Após a reunião de portas fechadas, com o objetivo de dar ao encontro um perfil discreto e não irritar ainda mais à China, a Casa Branca divulgou apenas uma foto e um breve comunicado no qual destacou que Obama reiterou ao líder religioso que os EUA "não apoiam a independência do Tibete".
O presidente americano expressou seu apoio à "via intermediária" como solução para o Tibete, ou seja, nem assimilação, nem independência para os tibetanos na China. Obama encorajou o Dalai Lama a "dialogar diretamente" com a China, o que, na sua opinião, seria "positivo" para ambos os lados.
Por sua parte, o líder religioso declarou que não busca a "independência" do Tibete e acredita que o diálogo entre seus representantes e o governo chinês "será retomado".