Um dos maiores perigos na central acidentada de Fukushima foi superado com a conclusão da retirada de todas as barras de combustível nuclear da piscina do reator número 4, anunciou a empresa Tepco.
"É um avanço importante", comemorou o diretor da central nuclear, Akira Ono, antes de destacar que "o trabalho de desmantelamento continua", levando em consideração a missão gigantesca que ainda resta pela frente.
"Desta vez, nós tivemos um grande trabalho de preparação", afirmou um técnico do setor, que pediu anonimato. "A Tepco tinha absoluta consciência da importância deste desafio e de seu perigo".
"Os diretores da empresa compreenderam que a segurança era a grande prioridade", declarou há alguns meses à AFP a americana Barbara Judge, ex-presidente da Autoridade Nuclear Britânica, que atua como conselheira da empresa nipônica.
A Tokyo Electric Power (Tepco) já havia anunciado no início de novembro que restavam apenas 118 barras de combustível novo na piscina de desativação. A empresa já havia retirado as 1.331 barras de combustível usado que estavam no local no momento do acidente.
No início da operação de retirada, em novembro de 2013, a primeira grande etapa para o desmantelamento da central de Fukushima Daiichi, a piscina tinha 1.533 barras, as 1.331 de combustível usado e 202 novas. Todas foram transportadas para um local mais seguro, outra piscina mais, afastada dos reatores danificados pelo tsunami de 11 de março de 2011.
Com a retirada do combustível sem incidentes, a Tepco afastou uma ameaça importante: se a piscina tivesse sofrido uma nova catástrofe (em consequência de um terremoto ou outro tsunami), poderiam acontecer novos vazamentos de substâncias radioativas pela dificuldade, ou até impossibilidade, de resfriar este combustível.
Para a extração, a Tepco construiu uma nova capa sobre o reator número 4 e instalou um novo dispositivo para a retirada. Também recuperou os dejetos que haviam caído na piscina. Nunca havia sido realizada uma tarefa similar em um ambiente acidentado, no qual os técnicos trabalharam com trajes de proteção e máscaras integrais para evitar a radioatividade. Esta foi a operação mais delicada desde a estabilização da central em dezembro 2011. Mas está longe de ter sido a última ou a mais perigosa.
A retirada do combustível foi parte das operações prévias ao desmantelamento de seis reatores da central, que ficou parcialmente destruída pelo tsunami, uma tarefa gigantesca que deve levar, no mínimo, 40 anos.
Os técnicos ainda precisam retirar o combustível usado das piscinas dos reatores 1, 2 e 3, um trabalho ainda mais difícil que deve começar em 2015/2016 no caso do reator 3 e em 2017/2018 para os outros dois.
O grande dilema é saber como recuperar o combustível usado nos núcleos dos três reatores, já ninguém sabe em que estado se encontram, sem levar em consideração os problemas colaterais, como o tratamento da água contaminada armazenada em mais de mil depósitos, permanente sob a amenaça de uma nova catástrofe.