Pelo menos três pessoas morreram nesta sexta-feira no Camboja depois que a polícia disparou contra os trabalhadores da indústria têxtil, que estão em greve para exigir um aumento do salário mínimo, no segundo dia consecutivo de violência no país, informou a imprensa local. "Por enquanto, há três mortes confirmadas, dois feridos e duas pessoas detidas pelas forças de segurança", disse o chefe da polícia municipal de Phnom Penh, Chuon Narin, ao jornal Cambodia Daily.
Os manifestantes, armados com paus e barras de ferro, se entrincheiraram atrás de barricadas em um dos subúrbios industriais da capital e lançaram pedras e coquetéis molotov contra a Polícia Militar, que respondeu com rajadas de fuzil AK-47. "Não podemos permitir o bloqueio da estrada. Temos que dispersá-los. Não temos outra opção", disse à mesma publicação o comandante da Polícia Militar de Phnom Penh, Roth Srieng.
Os incidentes acontecem no polígono industrial da avenida de Veng Sreng, no distrito de Pur Senchey, próximo do local onde ontem uma unidade das forças especiais do Exército reprimiu violentamente um protesto de trabalhadores.
Uma centena de soldados, armados com cassetetes, facas e rifles, provocaram dois confrontos violentos e prenderam pelo menos 15 pessoas entre líderes sindicais, trabalhadores e monges budistas, o que gerou críticas de várias ONGs.
"O uso da Unidade de Comando Especial 911 para reprimir os manifestantes perto da fábrica Yak Jin no distrito Pur Senchey em Phnom Penh não tem precedentes", afirmaram a Liga Cambojana para a Promoção e Defesa dos Direitos Humanos e o Centro de Educação Legal para a Comunidade.
"É o exemplo de uma nova tática alarmante para reprimir violentamente os protestos amplamente pacíficos", acrescentaram as organizações citadas.
A violência, que causou vários feridos e se estendeu por toda a noite, explodiu depois que terminou sem acordo uma reunião entre o governo cambojano e representantes sindicais, sobre o aumento salarial para os trabalhadores, que estão em greve desde a semana passada.
O Executivo propôs esta semana um aumento adicional de US$ 5 para uma oferta anterior de aumento do salário mínimo de US$ 80 para US$ 95 mensais, mas os trabalhadores recusaram a proposta e pedem um aumento para o equivalente a US$ 160 dólares por mês.
A Associação Cambojana da Indústria Têxtil denunciou os prejuízos causados pelos manifestantes em várias fábricas e rejeitou a oferta do governo para participar das negociações até que a segurança seja garantida.
A organização acusa os sindicatos de incitar a violência e impor, com ameaças, as condições das negociações.
"Queremos que o governo faça a lei ser cumprida e garanta a segurança. Não compareceremos a nenhuma reunião até que a situação tenha se acalmado", disse à Agência Efe por telefone o secretário-geral da associação, Ken Loo.
Segundo o porta-voz da associação, 85% das 500 fábricas do país, a maioria situadas em polígonos industriais da capital, continuam fechadas por causa dos distúrbios.
A indústria têxtil e de calçados emprega aproximadamente de 500 mil pessoas e representa perto de 95% do total de exportações do Camboja, com um volume de negócios que se situou próximo dos US$ 5 bilhões nos 11 primeiros meses do ano.